Contra as praxes marchar marchar!
As praxes no ensino superior estão na mira do
ministro da tutela que as critica em carta aberta aos portugueses.
Manuel Heitor justifica essa sua posição com o facto do "ingresso
no ensino superior ter sido sistematicamente marcado por práticas
contrárias aos ideais de liberdade, crítica e emancipação dos
jovens, estando associado à ocorrência de situações que nada têm a
ver com esses ideais".
Diz na mesma carta que "as
manifestações de abuso, humilhação e subserviência a que assistimos
na praxe académica, sejam no espaço público ou dentro das
instituições, afetam a credibilidade do ensino superior e
conflituam com a missão e o propósito daqueles que o frequentam. A
eventual valorização de «tradições académicas», mesmo quando
existentes, não pode legitimar que se humilhe e desvalorize a
auto-estima dos mais novos".
Manuel Heitor é duro nas críticas:
"não posso aceitar mais uma vez o ciclo repetitivo de imagens
degradantes que nos envergonham. Desde já, gostaria de manifestar o
meu mais profundo e sincero apoio a todos aqueles que têm combatido
todo o tipo de manifestações de carácter boçal e grosseiro que hoje
persistem em ocorrer nesta altura do ano e que colocam em causa
direitos individuais e coletivos".
O ministro repudia essas práticas,
que no seu entender, "representam cada vez mais uma afronta aos
valores da própria educação e à razão de ser das instituições de
ensino superior".
As praxes no ensino superior, mas
também noutros graus de ensino, têm vindo a ser criticadas,
sobretudo devido aos abusos que muitas vezes são cometidos e que em
vez de contribuírem para a integração contribuem, isso sim, para a
humilhação. Entre os próprios estudantes a questão das praxes não é
pacífica e, a existirem, os novos alunos devem ser livres de nelas
participarem ou não.
Manuel Heitor diz que essas
práticas "devem ser combatidas por todos e, muito especialmente,
por todos os responsáveis estudantis e por instituições
politécnicas e universitárias, independentemente do local de
ocorrência, designadamente com a introdução de práticas de
integração transversais e coerentes com a função social do ensino
superior".
No entender do ministro, "é
importante que a receção aos novos estudantes ocorra em moldes que
apresentem as vantagens da formação superior para o seu futuro, as
mais-valias de uma sociedade baseada no conhecimento e o desafio da
investigação científica. Reconheço o caráter positivo das diversas
iniciativas que envolvem milhares de estudantes em grupos
científicos, desportivos, culturais e sociais".
Por tudo isto, Manuel Heitor deu
"instruções à Fundação para a Ciência e Tecnologia para que apoie a
realização de ações de índole científico-cultural destinadas à
integração dos novos estudantes de ensino superior através da
autorização de despesas pelas Unidades de Investigação, a
desenvolver em parceria com as associações de estudantes e a
incluir no contexto de atividades de divulgação científica, as
quais devem representar até cerca de 5% dos seus orçamentos
plurianuais. Adicionalmente, solicitei à Ciência Viva, Agência
Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica, o apoio às
instituições de ensino superior e às associações de estudantes na
dinamização de um movimento de estímulo à emancipação e integração
dos novos estudantes no ensino superior com ciência e cultura. O
acolhimento dos novos estudantes no contexto das unidades de
investigação alarga o seu conhecimento sobre a instituição,
potencia os momentos de partilha com outros estudantes e
investigadores, estimula o sentido de curiosidade científica e
promove um maior entrosamento futuro com os objetivos de aprender,
apreender e empreender. Apelo assim à promoção clara e inequívoca
de práticas de receção e integração dos novos estudantes no ensino
superior com ciência e cultura, entre outras iniciativas de âmbito
cívico, social ou desportivo. Mas estou consciente que esta medida
tem que ser acompanhada por muitas outras, da autoria das
associações de estudantes e das instituições de ensino superior,
bem como do empenho de todos para mudar consciências e desfazer
mitos. Comprometo-me a ser parte ativa na transformação que se
exige, incentivando práticas e iniciativas que fomentem a
participação ativa dos novos estudantes nas diversas dimensões do
contexto académico, científico e cultural, assim como do contexto
social que o enquadra", disse, concluindo que tudo fará para que a
humilhação não seja uma tradição académica!