Entrevista

Contra as praxes marchar marchar!

IMG_1071.jpgAs praxes no ensino superior estão na mira do ministro da tutela que as critica em carta aberta aos portugueses. Manuel Heitor justifica essa sua posição com o facto do "ingresso no ensino superior ter sido sistematicamente marcado por práticas contrárias aos ideais de liberdade, crítica e emancipação dos jovens, estando associado à ocorrência de situações que nada têm a ver com esses ideais".

Diz na mesma carta que "as manifestações de abuso, humilhação e subserviência a que assistimos na praxe académica, sejam no espaço público ou dentro das instituições, afetam a credibilidade do ensino superior e conflituam com a missão e o propósito daqueles que o frequentam. A eventual valorização de «tradições académicas», mesmo quando existentes, não pode legitimar que se humilhe e desvalorize a auto-estima dos mais novos".

Manuel Heitor é duro nas críticas: "não posso aceitar mais uma vez o ciclo repetitivo de imagens degradantes que nos envergonham. Desde já, gostaria de manifestar o meu mais profundo e sincero apoio a todos aqueles que têm combatido todo o tipo de manifestações de carácter boçal e grosseiro que hoje persistem em ocorrer nesta altura do ano e que colocam em causa direitos individuais e coletivos".

O ministro repudia essas práticas, que no seu entender, "representam cada vez mais uma afronta aos valores da própria educação e à razão de ser das instituições de ensino superior".

As praxes no ensino superior, mas também noutros graus de ensino, têm vindo a ser criticadas, sobretudo devido aos abusos que muitas vezes são cometidos e que em vez de contribuírem para a integração contribuem, isso sim, para a humilhação. Entre os próprios estudantes a questão das praxes não é pacífica e, a existirem, os novos alunos devem ser livres de nelas participarem ou não.

Manuel Heitor diz que essas práticas "devem ser combatidas por todos e, muito especialmente, por todos os responsáveis estudantis e por instituições politécnicas e universitárias, independentemente do local de ocorrência, designadamente com a introdução de práticas de integração transversais e coerentes com a função social do ensino superior".

No entender do ministro, "é importante que a receção aos novos estudantes ocorra em moldes que apresentem as vantagens da formação superior para o seu futuro, as mais-valias de uma sociedade baseada no conhecimento e o desafio da investigação científica. Reconheço o caráter positivo das diversas iniciativas que envolvem milhares de estudantes em grupos científicos, desportivos, culturais e sociais".



Por tudo isto, Manuel Heitor deu "instruções à Fundação para a Ciência e Tecnologia para que apoie a realização de ações de índole científico-cultural destinadas à integração dos novos estudantes de ensino superior através da autorização de despesas pelas Unidades de Investigação, a desenvolver em parceria com as associações de estudantes e a incluir no contexto de atividades de divulgação científica, as quais devem representar até cerca de 5% dos seus orçamentos plurianuais. Adicionalmente, solicitei à Ciência Viva, Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica, o apoio às instituições de ensino superior e às associações de estudantes na dinamização de um movimento de estímulo à emancipação e integração dos novos estudantes no ensino superior com ciência e cultura. O acolhimento dos novos estudantes no contexto das unidades de investigação alarga o seu conhecimento sobre a instituição, potencia os momentos de partilha com outros estudantes e investigadores, estimula o sentido de curiosidade científica e promove um maior entrosamento futuro com os objetivos de aprender, apreender e empreender. Apelo assim à promoção clara e inequívoca de práticas de receção e integração dos novos estudantes no ensino superior com ciência e cultura, entre outras iniciativas de âmbito cívico, social ou desportivo. Mas estou consciente que esta medida tem que ser acompanhada por muitas outras, da autoria das associações de estudantes e das instituições de ensino superior, bem como do empenho de todos para mudar consciências e desfazer mitos. Comprometo-me a ser parte ativa na transformação que se exige, incentivando práticas e iniciativas que fomentem a participação ativa dos novos estudantes nas diversas dimensões do contexto académico, científico e cultural, assim como do contexto social que o enquadra", disse, concluindo que tudo fará para que a humilhação não seja uma tradição académica!







 



 

 
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