Entrevista

Afonso Camões, presidente da Lusa
A Lusa na palavra de Camões

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Afonso Camões foi eleito para mais um mandato enquanto presidente do Conselho de Administração da Agência Lusa. Com resultados económicos positivos nos últimos anos, a agência de informação mostra-se preparada para o futuro, o qual poderá passar pela sua recomposição acionista. Mas passa também pelos novos serviços que a Lusa já disponibiliza aos seus clientes (e por outros que possam surgir), pela sua internacionalização e pelo desenvolvimento de projectos de expansão assentes na língua portuguesa. Em entrevista ao Ensino Magazine, aquele responsável mostra que caminhos devem ser seguidos pela casa que mais conteúdos informativos produz em Portugal.

Foi reeleito para mais um mandato como presidente do Conselho de Administração e administrador delegado da Agência Lusa. Quais as prioridades para este mandato?

Duas prioridades: assegurar a sustentabilidade da Agência, e garantir a sua internacionalização. A Lusa, na sua atual configuração, está a completar 25 anos de Serviço Público. Depois de um longo período de défices crónicos, e apesar da conjuntura de crise e das adversidades do mercado, a Agência apresenta resultados positivos há vários anos consecutivos, reduziu fortemente o endividamento, adquiriu e valorizou património, distribuiu dividendos nos dois últimos anos, e fechou o exercício de 2011 com resultados muito positivos.

Dir-se-ia, portanto, que não há problemas de sustentabilidade…

Mas os riscos existem e podem ser graves. Tal como outros sectores da economia, a indústria da comunicação social portuguesa vive uma crise sem precedentes, com enormes quebras de receitas, sobretudo na publicidade, que terão caído, em geral, mais de 40% nos últimos anos. Ora, os clientes da Lusa são os meios de comunicação. A Agência está a montante desses meios, é um grossista de informação multimédia, que recolhe, produz e distribui diariamente mais de um milhar de conteúdos noticiosos, nacionais e internacionais (são conteúdos em forma de texto, fotografia, áudio, vídeo e infografia). A Lusa é, em especial, um distribuidor que serve prioritariamente muitas centenas de meios de comunicação, em território nacional e na diáspora, junto das comunidades portuguesas, mas também para instituições públicas e privadas e para diferentes plataformas: jornais, revistas, rádios, televisões, sítios na internet e, mais recentemente, também para tablets e telemóveis. Ora, se há problemas de sustentabilidade com os clientes da Lusa - e há, infelizmente - esses problemas repercutem-se na Agência, porque os clientes compram menos e há, também, menos clientes (jornais e rádios que fecharam, por exemplo)... Nos últimos três anos resolvemos a quebra de receitas nos mercados tradicionais criando novos produtos e apostando em novos mercados. E é particularmente nesse caminho que se coloca a segunda das nossas prioridades…

… a internacionalização da Agência?

A internacionalização da Lusa é condição essencial para a sua sustentabilidade, no médio e longo prazos. Vejamos: de entre as diferentes valências da Agência, avulta a sua rede de delegações e correspondentes - em mais de meia centena de localidades em território nacional e, muito em especial, em 25 países nos diferentes continentes - é uma malha capilar, rica pela cobertura de proximidade e em extensão.
Se o traço distintivo de uma agência noticiosa está na sua rede, nos casos da Lusa e da grande maioria das suas congéneres europeias, a rede de delegações e correspondentes depende, quase em exclusivo, do financiamento público, através de um contrato de serviços com o Estado.
Sem tal financiamento (independentemente da sua dimensão) não haveria rede; e sem rede, a Lusa deixaria de ser atrativa para o mercado dos media. (Estudos recentes revelam que mais de 70 por cento do noticiário de "País" ou "Internacional" publicado nos media tem origem nas agências). Acresce que, quanto mais se acentua a crise dos media nacionais, com o generalizado e progressivo corte de custos nas redações, maior a sua dependência relativamente ao noticiário das agências. Daí, que a Rede-Lusa e o Contrato de Serviço Público sejam, pois, os pilares estruturantes da Agência.
Com o mercado nacional em queda, e com o Estado a querer reduzir o financiamento, eu tenho vindo a defender que ou crescemos na internacionalização ou definhamos.
No caso da Lusa, o nosso mercado natural é o da Língua, é o mercado que corresponde à geografia da Língua Portuguesa - e esse é um mercado global, em cinco continentes, de Macau e Timor a Moçambique e Angola,… e, claro, ao Brasil. É para aí que temos de orientar o nosso esforço comercial, tirando partido da nossa rede de delegações e correspondentes em 25 países do Mundo. A Lusa é, de facto, a única agência global em Língua Portuguesa. E, não por acaso, temos aumentado as nossas vendas para o Oriente e, agora também, para África, um espaço que durante anos significou apenas custos no orçamento da cooperação.

Referiu que a Lusa se deve assumir como um instrumento global de comunicação. O que isso significa?

afonso_camoes4.jpgSignifica que o facto de sermos pobres não nos obriga pensar pequenino. A nossa Língua é uma das cinco mais faladas no mundo, à frente do francês e do alemão, por exemplo.
Ora, quando falo na ambição de criarmos um instrumento global de comunicação - como outros têm a BBC ou a Al Jazeera, por exemplo - não estou a efabular uma megalomania; o que defendo é que podemos crescer em parceria, juntamente com outros parceiros na geografia da Língua Portuguesa.
Operar com sucesso nos mercados da lusofonia só é possível (e é também desejável) se o fizermos com bases autonomizadas ou em parceria com meios ou agências desses países. Defendo que devemos apostar juntos na expansão da Língua. E acredito que, com os parceiros certos, podemos projetar as bases de uma agência global multimédia, ancorada na Língua Portuguesa.

Essa globalização passa também pela procura de novos mercados?

Claramente! Essa parceria-pátria, uma agência global multimédia, ancorada na Língua Portuguesa, deve orientar-se prioritariamente para a procura de novos mercados e a emitir noutras línguas, especialmente as dominantes no mercado global - o inglês e o castelhano - mas, então sim, num esforço partilhado e não cada um por si, como acontece ainda agora, quando cada uma das nossas agências lusófonas paga sozinha as edições/traduções noutras línguas. O exemplo da Al Jazeera é paradigmático: a língua âncora da estação é o árabe, mas o que torna aquela rede famosa e lhe dá projeção mundial é a sua emissão em inglês.
Não é por acaso que a China está entre os bons clientes da Lusa. E compram-nos o serviço em português… É que a Agência Nova China emite em quase duas dezenas de línguas, a CCTV (estação central de TV) e a Rádio China Internacional já têm emissões em português, e aquele pequenino território que é Macau, no sul da China, adotou o português como uma das suas línguas oficiais, e sobrevivem ali, ainda, três jornais, para além das emissões de TV e de rádio (da TDM) em Língua Portuguesa.
Ancorada na Língua Portuguesa, a agência global multimédia que defendo deveria emitir em inglês, claro, mas também em castelhano, por razões óbvias de vizinhança - nossas e também do Brasil, em virtude da projeção dos seus interesses no espaço geográfico do Mercosul.

Recentemente anunciou cinco novos serviços. Que tipo de serviços são esses e para quando a sua entrada em funcionamento?

Já estão operacionais!, ainda que o grande público não se aperceba, porque os nossos clientes não são o consumidor direto, mas sim os retalhistas da comunicação. Para além das aplicações disponíveis para servir smarphones e tablets,são cinco novos serviços: a Televisão Corporativa, um Serviço de Infografia, o Serviço Última Hora, o LusaTV Regional, e o Lusa Rádio.
No caso da Televisão Corporativa, trata-se de um serviço noticioso de TV, digamos de linha branca, apto a adotar a marca do cliente, destinado a grandes espaços públicos, como sejam estações de metro, hospitais, centros comerciais, transportes públicos, universidades, etc, com a enorme vantagem de serem emissões em tempo real, com toda a atualidade, 24 horas/dia, 365 dias por ano e com as marcas de rigor e fiabilidade da Lusa.
O serviço Última Hora inclui, como o nome indica, as notícias mais importantes e urgentes. É um serviço de tráfego variável, em função da atualidade, e destina-se a publicações on-line, a quadros e/ou gabinetes de comunicação de empresas e instituições. Os clientes recebem este serviço na plataforma que acharem mais conveniente, seja no telemóvel ou por correio eletrónico…
O LusaTV Regional destina-se aos serviços noticiosos de TV de fim de semana. Para além das cerca de 40 peças vídeo que já distribui diariamente a sites e aos operadores de televisão, a Lusa passou a disponibilizar semanalmente features a partir da sua rede regional, com estórias, vozes e casos do país profundo. Este novo serviço, com qualidade técnica broadcast e HD, e com a marca e o rigor do jornalismo da Lusa, garante a produção de peças televisivas com temas e tendências que aproximam os espetadores da realidade das regiões.
O Lusa Rádio é um serviço de noticiários radiofónicos (completos e "chave-na-mão", com a duração de 3 a 5 minutos), destinado a rádios locais e regionais, e também às rádios portuguesas espalhadas pelo mundo, com distribuição diária entre as 17h30 e as 17h45.

Preside a uma Agência de informação que o Governo já disse querer privatizar. Essa privatização pode colocar em causa o serviço público?

A Lusa já é, há muito, uma empresa de capitais mistos. O atual quadro acionista da Lusa conforma e acomoda duas fortes componentes de interesses nem sempre concordantes: uma institucional, por via do Contrato de Serviço Púbico e porque o Estado é maior acionista (50,14%); e outra empresarial, porque a Agência é uma empresa e porque os acionistas privados anseiam legitimamente por resultados e acesso ao dividendo.
O histórico da Agência demonstra que esta parceria empresarial tem resultados e é positiva. Acontece, porém, que pela primeira vez na história da Agência alguns acionistas (em particular o Estado, vidé o programa do Governo) admitem alienar, em parte ou no todo, as suas participações de capital na empresa.
Está pois colocada a hipótese de uma recomposição acionista. Este é um cenário que a Administração da Lusa deve encarar como provável, sem preconceitos nem tabus, procurando sempre interpretar o sentido do superior interesse da empresa.
Ora, se for salvaguardada a existência de um Contrato-Programa de Prestação de Serviços Noticiosos de Interesse Público com o Estado, a estrutura e composição do capital social da Lusa não é determinante para a manutenção e desenvolvimento da atual operação da Agência.

O Estado deve ter o papel de agente regulador…

afonso_camoes1.jpgAo Estado compete garantir a prestação de um serviço noticioso atento às comunidades portuguesas, em território nacional e no estrangeiro, bem como à prossecução dos interesses nacionais no mundo, em particular no espaço geográfico da lusofonia. Ao Estado cabe também a função de regulador, e assumir que se concretizam as liberdades, direitos e garantias constitucionais; mas não tem que estar diretamente presente no mercado editorial.
Ora, por Estatuto e vocação, a Lusa produz esse serviço público, de forma plural, com eficiência e, sobretudo, com credibilidade.
Por outro lado, a Agência tem demonstrado que, sem pedir esforço financeiro adicional aos seus acionistas, está a requalificar recursos e aumentar a produção multimédia, a distribuir para todas as plataformas e, em especial, está madura para os desafios de um novo modelo de negócio e para crescer: Crescer na geografia e mercados de língua portuguesa, crescer em dinâmica comercial e crescer em capacidade tecnológica.
Ao mesmo tempo, e porque a hipótese de uma recomposição acionista está em cima da mesa, esta pode bem ser a oportunidade de garantirmos "o dois em um", ou seja, abrirmos a empresa a capitais privados que nos ajudem a consolidar o passo da internacionalização. E, nesta perspetiva, o ideal seria, também neste caso, encontrarmos esses acionistas-parceiros na geografia da Língua Portuguesa.
Essa é, porém, uma decisão que compete exclusivamente aos acionistas. Aos administradores cabe, em particular, interpretar o sentido do interesse da empresa e  dos seus acionistas, e trilhar esse caminho…

Referiu recentemente que hoje as delegações da Lusa são os próprios jornalistas e os meios informáticos com que trabalham. Isto significa o fim das delegações físicas no conceito tradicional?

Sim e não… Uma agência noticiosa não é uma repartição, nem, muito menos, uma agência imobiliária! Os escritórios são uma questão meramente instrumental. Temos escritórios e vamos continuar a tê-los onde considerarmos que a existência desse espaço físico é importante para a nossa operação. E o principal da nossa operação é recolher, tratar e difundir informação.
Faz sentido ter escritórios de porta aberta nas áreas em que temos uma relação comercial mais intensa com os nossos clientes, mas não para o essencial que é a atividade jornalística.
Na Lusa não gostamos de rabinho sentado, à espera que a notícia chegue. Na Lusa cultivamos a produção noticiosa, gostamos da proximidade às fontes de informação (económicas, culturais, políticas, desportivas, … enfim), na Lusa gostamos que os nossos jornalistas estejam onde estão as notícias.
Para que isso aconteça, temos vindo a incentivar o teletrabalho. Nesse sentido, os nossos jornalistas estão hoje cada vez mais habilitados a produzir conteúdos noticiosos multimédia, para multi-plataformas, e estão melhor equipados: o escritório dos nossos jornalistas é, cada vez mais, o seu próprio computador portátil, com placa 3-G de telecomunicações, o gravador de áudio e a câmara de vídeo digitais.
Esta opção não tem nada de economicista, porque não se trata aqui de estarmos a poupar nas rendas dos escritórios. O que estamos a fazer vai no sentido de  aumentar a nossa produtividade noticiosa - para bem dos nossos clientes e do serviço público que prestamos -  e favorece, também, a qualidade de vida dos nossos jornalistas: desde logo, porque ganham o tempo que perdiam nos fluxos pendulares entre casa e os escritórios da Agência. E ganham, também, porque passam a beneficiar de um subsídio de adaptabilidade que lhes aumenta o ordenado em 20%, de um subsídio de instalação que ajuda nas despesas de água, luz e gás e da assumpção, por parte da empresa, da instalação em suas casas de uma ligação à Internet em fibra ótica.
Bem sei que há para aí um ruídozito de campanário à volta dos escritórios da Lusa. Mas a verdade é esta: a Lusa tem o maior efetivo de sempre espalhado no país, produz mais notícias regionais que nunca e vai continuar a investir nesse capítulo: mais jornalistas, mais fotógrafos, mais tecnologia. E, com mais notícias, prestamos mais e melhores serviços, somos mais Agência e temos mais País.

Mudando de assunto. O Afonso Camões conhece como ninguém o panorama da comunicação social portuguesa. Como é que os órgãos de informação podem resistir à crise?

Não tenho uma receita... Tenho algumas ideias, mas sei qual é o diagnóstico. O que sei, diria, o que todos sabemos, é que os meios de comunicação tradicionais, conforme os conhecemos há anos, estão hoje em franco declínio. Basta olhar para a forma como os nossos filhos consomem informação. Por todo o lado, no mundo ocidental, têm fechado grandes jornais, rádios e até estações de televisão,… e outros estão à beira da falência.
Costumamos dizer "grande nau, grande tormenta" - e, neste particular, a minha sensibilidade diz-me que se safará melhor a boa imprensa regional, porque é produzida por equipas mais pequenas e flexíveis, e sabe o que é fazer jornalismo de proximidade. Vão sobreviver e ter sucesso aqueles que revelarem melhor capacidade e flexibilidade para se adaptarem às novas tecnologias e a distribuir os seus conteúdos em (e para) diferentes plataformas, para públicos cada vez mais segmentados.
Se o modelo tradicional de negócio (assente nas receitas de venda de espaços publicitários) está em crise, é porque, para lá  da crise mais geral da economia, as novas tecnologias vieram permitir aos anunciantes identificar cada vez melhor os públicos a que se querem dirigir. Essa maior segmentação dos mercados obriga as empresas de media a segmentar e especializar também os seus produtos de comunicação (jornais, rádios, sítios internet, telemóveis, tablets, etc). Quem não tiver essa sensibilidade e essa flexibilidade para alguma especialização, está condenado!

Isso afecta também as agências?

afonso_camoes3.jpgAcontece o mesmo com as agências de notícias. O modelo de negócio fundador da Lusa, assente na produção de serviços tradicionais (exclusivamente de fotografia e texto), e destinado, por via de assinatura, aos mercados retalhistas de media (jornais, rádios e televisões), tem vindo a definhar e tende para o esgotamento - acompanhando, aliás, ainda que a ritmo menos gravoso, a mesma tendência da maioria das agências europeias, cercadas pela concorrência desleal dos motores de busca e agregadores de notícias e pela progressiva penetração de conteúdos noticiosos gratuitos na internet.
É neste quadro - de constrangimentos mas também de oportunidades - que a gestão da Agência tem procurado antecipar os caminhos que, na qualidade de grossista (na produção e distribuição de conteúdos editoriais) prenunciam a sua renovação e o papel de liderança que cabe à Lusa, a montante dos media em geral.
Na parte que nos cabe, o desenvolvimento de um protótipo e a instalação da tecnologia afecta a um novíssimo sistema editorial, baptizado internacionalmente de Luna (Lusa News Asset), entretanto clonado por outras agências, permitiu-nos acelerar a transição para o multimédia, enquanto a introdução de metadados em todos os conteúdos editados permitiu, na área comercial, a criação novos produtos e canais para lançar no mercado.
Daí, o reconhecimento generalizado das 27 agências que integram a Aliança das Agências Europeias (EANA), que atribuíram à Lusa o Prémio 2010 de Inovação e Excelência.
Esses desenvolvimentos resultaram já, diretamente, numa enorme redução de custos técnicos, permitindo que a nossa equipa de TIC (tecnologias de informação) esteja mais focada na criação de novos produtos/oportunidades/negócio, e também, numa pequenina coisa que foi, por exemplo, a redução de 70% de todo o consumo de papel na empresa…
Isto, à parte o rejuvenescimento e maior qualificação dos efetivos da Agência cuja média de idades na redação tem vindo a baixar.

E as redes sociais são uma oportunidade para a comunicação social ou uma ameaça?

São uma ameaça e são uma oportunidade. São uma ameaça para quem ignorar a necessidade de uma presença efetiva nas redes sociais e, pior, ignorar o efeito de exponencial de estilhaço e de rapidez na propagação que essas redes têm na difusão de informação, com muito maior "poder de fogo" que os meios de comunicação tradicionais.
Mas é também uma oportunidade, se os meios convencionais souberem afinar as suas ferramentas noticiosas em articulação com as redes sociais, utilizando-as como isco na atração de tráfego para as suas edições eletrónicas, onde se pode continuar a vender publicidade de forma direta… A vantagem dos meios convencionais, produzidos e dirigidos por jornalistas, está e estará sempre na credibilidade da informação que difundem. Saber-se que por detrás daquela informação está um jornalista ou uma redação, sujeita a regras de ética e deontologia profissionais, é sempre um selo de confiança, isento, plural e credível.
Porque os consumidores e, em especial, as marcas anunciantes, hão-de preferir sempre a informação profissional, de confiança e com selo de rigor.

De regresso à Lusa. Enquanto presidente do Conselho de Administração, desafiou, em 2010, os países da CLPLP a criarem uma agência lusófona global, por meio de uma parceria entre os media de expressão portuguesa para fortalecer a difusão mundial da língua portuguesa. Esse desafio teve consequências?

Ando há vários anos nessa cruzada! Mas estes processos são lentos, porque envolvem também uma componente política e, por vezes, alguma desconfiança relativamente à forma como se pode construir uma casa comum. A verdade, também, é que estamos a falar de parcerias entre meios de comunicação de países que estão em estádios de desenvolvimento diferentes. E há, também, constrangimentos técnicos para vencer. Um exemplo pequenino: hoje em dia, a distribuição da generalidade dos nossos  conteúdos noticiosos reclama banda-larga nas telecomunicações. Ora, a banda-larga ainda não chegou de forma harmoniosa a alguns países com quem queremos trabalhar mais. Nalguns casos, até, há problemas com a estabilidade de serviços elétricos!...
O importante é que estamos a consensualizar a necessidade de, na geografia da Língua Portuguesa, trabalharmos mais em conjunto. Criámos já uma Aliança das Agências de Língua Portuguesa, atualmente coordenada por Angola, e cuja assembleia geral se vai reunir em setembro, em Lisboa.
Do lado da Lusa, a recente criação de uma nova linha de negócio (lusa@fonia), exclusivamente dedicada aos mercados externos, permite admitir que, por si só, esse novo serviço pode cumprir, a médio prazo, as expectativas orçamentais assumidas para todo o mercado de Língua Portuguesa. Trata-se, por enquanto, de uma área de potencial onde a Agência já obtém receitas quando o histórico era só de custos.
A lusofonia é o espaço natural de expansão da Lusa, mas em parceria; a Lusa deve ser um espaço de excelência no jornalismo, apostando na formação de profissionais nessa geografia, exportando know-how e tecnologia.
Pela sua experiência internacional de 25 anos, e pela sua credibilidade e influência junto dos media em diferentes geografias, a Lusa tem condições (pode, deve e sabe como) para liderar o lançamento (em plataforma net) de uma agência global multimédia, ancorada na Língua Portuguesa e em conjunto com parceiros locais -        especialmente na China, em Angola e no Brasil. E, porque apostamos na expansão e internacionalização da Língua, essa parceria-pátria terá de emitir, também, nos idiomas dominantes no mercado global: em inglês e em espanhol. Essa é a nossa ambição.

Hoje uma grande parte da imprensa portuguesa escreve segundo o novo acordo ortográfico. Mas foi a Lusa quem deu o pontapé de saída. Este novo acordo defende a língua portuguesa?

Não gastamos tempo com essa discussão. Isso é matéria para as Academias. Os nossos clientes são os meios de comunicação e nunca recebemos uma queixa relacionada com esse tema. A propriedade da língua não é exclusivo nosso. Felizmente, a Língua Portuguesa é hoje património comum de oito nações soberanas e de mais um território no sul da China. E é para todo esse espaço que comunicamos. Ora, se esses estados soberanos acordaram formalmente numa ortografia comum, o nosso dever enquanto agência noticiosa foi dar cumprimento a esse acordo, afinando o nosso trabalho pelos mais diversos cantos e acentos da lusofonia.

 
DR | Lusa
 
 
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