Opinião

Bocas do Galinheiro
Branca(s) de neve

489016247.jpgDe uma assentada vêm aí dois filmes (modernaços, a concluir pelas amostras, como soía dizer-se) sobre a Branca de Neve e os Sete Anões, adaptações do conto celebrizado pelos Irmãos Grimm já lá vão 200 anos. "Mirror, Mirror", de Tarsem Singh (Os Imortais, de 2011 e A Cela, de 2006), com o inqualificável título português "Espelho Meu, Espelho Meu! Há Alguém Mais Gira do Que Eu?", estreou a semana passada no nosso país e, pelo que se ouve e lê, não é uma aposta bem-sucedida. Pelos vistos nem a presença de Julia Roberts, no papel da Rainha Má salva a fita, tanto mais que Lilly Collins (filha do músico Phil Collins) como Branca de Neve, também estará longe do que se exigiria para a personagem que há dois séculos povoa o imaginário infantil. Parece que o guarda-roupa é deslumbrante. Fraca consolação, digo eu.

Noutro registo, mais perto da tendência actual dos filmes de acção está "Branca de Neve e o Caçador" (Snow White and the Huntsman), de Rupert Sanders, com Kristen Stewart no papel da bela protagonista e Chris Hemsworth no caçador que, contratado para matar Branca de Neve passa a protege-la da rainha (bruxa?) Ravenna, protagonizada por Charlize Theron. Uma versão sombria e gótica, muito ao gosto do produtor Joe Roth, ou não tivesse ele colaborado com Tim Burton. Uma Branca de Neve guerreira, talvez muito longe da tradição das histórias que os Grimm recolheram.

Porém, quando se fala em adaptações desta recolha da tradição oral feita pelos Irmãos Grimm, vem-nos imediatamente à memória a incontornável longa-metragem de animação de Walt Disney, a primeira dos estúdios deste mestre do cinema de animação, "Branca de Neve e os Sete Anões", de 1937. O filme foi extraordinário êxito de bilheteira e não só, artisticamente ainda hoje é um filme que resiste ao passar dos anos, valendo aos estúdios a nomeação para o Oscar de melhor música e dois anos depois valeu a Walt Disney o reconhecimento da Academia pela inovação cinematográfica, sendo galardoado com oito óscares, um real e sete miniaturas!

Um dos muitos contos recolhidos pelos irmãos Jacob e Wilhelm Grimm entre 1808 e 1819, e compilados no seu primeiro livro "Contos da Infância e do Lar" publicado em 1812, Branca de Neve e os Sete Anões, tal como os restantes contos recolhidos pelos dois irmãos resulta da tradição oral alemã, entre os quais se contam Cinderela, A Bela Adormecida, Rapunzel ou o Capuchinho Vermelho, muitos deles também adaptados para o cinema em diferentes épocas, uma esmagadora maioria em animação, não cabendo neste apontamento referência aos muitos títulos disponíveis.

A primeira adaptação do conto data de 1902, com o título "Snow White", sendo que ainda no mudo ainda há conta de uma realização de Charles Weston com o mesmo título, sendo que também aparece como "The Grimm Brothers Snow White". Para além de várias adaptações de animação, então já na linha destas fitas mais recentes, em 1997 Michael Cohn dirige Sigourney Weaver e Sam Neil, entre outros, em "Snow White: A Tale of Terror", uma versão muito livre com Monica Keen como Lilli, havendo ainda também para televisão uma versão com Miranda Rchardson e Kristin Krenk. Noutro registo, mas a provar que o conta não deixa ninguém indiferente "Branca de Neve e os Três Estarolas" (Snow White and The Three Stooges), 1961, de Walter Lang, uma sátira aos filmes sobre o tema que conta, claro, com os três estarolas, Joe DeRita, Larry Fine e Moe Howard, com vários filmes cómicos nos anos sessenta do século passado, contando com Carol Heiss como Branca de Neve.

Por fim uma referência à, na altura, bastante polémica incursão de João César Monteiro no universo Branca de Neve com a adaptação da peça de Robert Walser, "Schneewittchen" que recupera o conto dos Grimm. Durante os 75 minutos que dura a projecção o écran está quase sempre negro, tirando uma ou outra imagem, com os actores a lerem o texto e a contarem a história, numa sala escura. A controvérsia esmoreceu e o filme, se outro mérito não teve, constará da galeria das obras com um cunho de originalidade que não deixa(ou) ninguém indiferente.

Até à próxima e bons filmes!

Luis Dinis da Rosa
 
 
Edição Digital - (Clicar e ler)
 
 
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