Encontro nacional sobre o Processo de Bolonha
O que dizem as instituições
Especialização e reorganização
É necessário acabar com a excessiva especialização ao nível do
1º Ciclo do Ensino Superior.
A reorganização da rede é necessária, mas é preciso reconhecer o
papel fundamental que o Ensino Superior tem no desenvolvimento do
país e especialmente no Interior do País.
Pedro Veiga (presidente do
Conselho Geral do Politécnico de Castelo Branco)
Atenção à reorganização
O Ensino Superior teve, tem e terá um papel fundamental no
desenvolvimento da região de Castelo Branco. Por isso estamos
muitos atentos à forma como vai ser feita a reorganização da rede
em termos nacionais"
Joaquim Morão (presidente da
Câmara de Castelo Branco)
Mudar era preciso
Mudar era preciso, pelo que importa saber o que se fez. O mais
fácil foi adequar, extinguir, suspender ou fundir cursos. O mais
difícil foi vencer resistências e oposições à mudança de paradigma
na aprendizagem.
Foi referido que a reforma era feita de cima para baixo, com lógica
economicista e que as instituições não estavam preparadas.
Conseguiu-se já melhorar as metodologias de ensino-aprendizagem,
criaram-se as tutorias e aumentou-se a autonomia dos alunos, com
efeitos no sucesso académico e nas estratégias de integração na
vida activa.
Mas não basta alterar currículos e planos de estudos. É preciso
mudar as mentalidades e as práticas de alunos e de docentes.
Carlos Afonso (Instituto
Politécnico de Portalegre)
Balanço menos positivo
Ao fim de quatro anos, o balanço não é tão optimista como se
suponha em 2007. Os professores tiveram medo que a redução dos anos
de formação inicial extinguisse unidades curriculares e lugares.
Apareceu uma grande variedade e um grande número de
pós-graduações.
Em Évora estabelecemos um número máximo de variantes dentro dos
cursos de 1º Ciclo. Procurámos que a especialização ocorresse no 2º
Ciclo. Racionalizámos o número de opções por curso, sem perder a
diversificação em relação à formação central. Algumas unidades
curriculares de áreas diferentes passaram a ser obrigatórias em
cada curso. Há opções que visam desenvolver competências
transversais e elaborámos portfolios das unidades curriculares,
para que alunos, professores e departamentos conhecessem as
unidades curriculares disponíveis.
Bolonha é tudo menos um processo encerrado. Ainda há muito a fazer
em termos de qualidade, abertura ao mundo e competitividade.
Hermínia Vilar (Universidade de
Évora)
A confusão do início
Bolonha chegou a Portugal com uma desinformação terrível. Até
houve documentos que se dizia ser a declaração e não eram. No
início de 2000, toda a gente falava da declaração sem nunca a terem
lido. Isto era geral.
Depois veio a desconfiança: vai cortar a duração das formações,
cortar docentes e financiamento. Falava-se no 3+3, no 3+1, no
0+5…
Numa terceira fase criaram-se órgãos e discutiu-se nesses órgãos e
noutros existentes a declaração de Bolonha.
João Paulo Marques
(Vice-presidente do IPL)
Mais resultados e menos queixas
Importa não enveredar pelo discurso da desgraça, sendo
preferível ir pelas boas práticas do Politécnico do Porto a este
nível.
1. Dimensão social: equidade do acesso - aumentou a oferta de
cursos em regime pós-laboral, aumento de pós-laborais de 1º ciclo,
mais CET, anos zero e apoio aos alunos com NEE (critérios de acesso
diferenciados via acreditação de competências), mais unidades em
b-learning através do Moodle.
2. Aprendizagem ao longo da vida - formação entre ciclos,
reconhecimento de competências adquiridas em contextos formais e
não formais, cursos livres, pós-graduação, Formação para
funcionários e docentes, abertura a internos e externos das
unidades curriculares isoladas.
3. Aprendizagem centrada no estudante - monitorização e
actualização no portefólio de formação, auscultação dos estudantes
(focus group), metodologias de avaliação diferenciadas.
4. Internacionalização e mobilidade (de todos): há um aumento
notável, com 614 casos de mobilidade no ano passado.
5. Investigação orientada - cerca de 20 grupos de investigação
em sete escolas, programa de apoio à publicação em revistas
científicas.
6. Empregabilidade - mais estágios curriculares e não
curriculares, excelente colaboração com entidades externas, nova
unidade de empreendedorismo, programa de voluntariado com estágios
remunerados para diplomados, além de outro voluntariado.
7. Qualidade: acreditação A3E, auto-avaliação, início da
avaliação dos docentes.
8. Financiamento - há problemas mas não tantas queixas.
Cristina Silva (IP
Porto)
Menos burocracia e resistência à mudança
O Iscte criou um manual onde explica como demostrar a coerência
dos objectivos de aprendizagem, das competências e das metodologias
de avaliação para todas as unidades curriculares
Há aspectos essenciais a melhorar:
Por um lado é preciso reduzir a carga administrativa que condiciona
os professores em termos de lecionação e investigação.
Importa melhorar o aproveitamento nos 2º Ciclos, para que os alunos
acabem os cursos dentro do tempo previsto, o que não acontece
porque muitos são trabalhadores-estudantes.
É preciso fomentar a investigação e a concessão de mais bolsas de
iniciação à investigação.
Importa combater a resistência à mudança, quer dos docentes, para
desenvolverem um processo ensino-aprendizagem centrado no aluno,
quer dos alunos, que devem ser responsabilizados, para que
desenvolvam o trabalho autónomo que lhes é exigido.
Elsa Cardoso (ISCTE)
Mesma Bolonha, realidades
diferentes
Uma das novidades na Guarda é que os alunos podem aceder às
aulas em multiplataformas, incluindo smartphones.
Os cursos da Escola Superior de Tecnologia Têm um nível de
empregabilidade muito elevado e não há diplomados em número
suficiente para os pedidos.
Há mobilidade, mas é difícil em alguns cursos como o de
Contabilidade, pois os sistemas de ensino e trabalho são diferentes
noutros países.
A implementação do processo de Bolonha depende muito de uma
liderança forte. Se não o é, não se consegue vencer a resistência à
mudança.
Não há uma verdadeira associação entre instituições regionais,
apesar de politicamente tal ser afirmado.
Rute Abreu (Sub-directora
ESTG Guarda)
Regras claras e Piloto
Bolonha
A Universidade de Aveiro está a desenvolver o Piloto Bolonha (um
dos objectivos é o de identificar boas práticas pedagógicas e de as
divulgar, fazer readaptações na unidades curriculares e nos
currículos).
Antes de avançar com o processo, Aveiro definiu regras próprias:
(20 horas de aulas máximo por semana, número máximo de cinco
unidades curriculares por semestre, máximo de 45 alunos nas aulas
teórico-práticas e de 15 nas práticas, frequência obrigatória das
aulas…).
Todos os cursos de engenharia (menos 4, ambiente, materiais,
geológica e industrial) têm mestrado integrado. Os outros 4 são
reconhecidos pelas ordens profissionais e funcionam no sistema
3+2.
Os Doutoramentos registaram um forte crescimento em 2008/09 e
muitos deles em colaboração, com universidades portuguesas e
estrangeiras. Alguns são ministrados em língua inglesa. Está-se
também a caminhar no sentido de ter primeiros ciclos em língua
inglesa.
Alguns cursos funcionam na lógica PBL, como por exemplo na área da
saúde.
Eduardo Silva (vice-reitor
Universidade de Aveiro)
Sucesso e sobrevivência
É importante perceber o que se passa em termos de Sucesso
académico / Taxa de sobrevivência: temos problemas, pois está nos
41,9%. Por isso avançou com o PIPSA-IPS, que prevê vários aspectos
centrais em termos de acção, como por exemplo:
- Reorganização pedagógica e científica
- Contratos de estudo e tutorias (já em pleno em duas
escolas)
- Regime excepcional de aprendizagem de ensino (regresso dos
alunos)
- Quando o insucesso numa UC é superior a 50 por cento há plano de
intervenção
- Formação de docentes
- Identificação e replicação de boas práticas
Importa aqui perceber que aquela região tem níveis enormes de
desemprego e outros problemas sociais associados.
Albertina Palma (Politécnico de
Setúbal)
Escola singular no Porto
A Escola Superior de Enfermagem do Porto tem um curso de
licenciatura com 1200 alunos e 220 em oito mestrados ligados à
Enfermagem que ali funciona. Portanto, tem mais alunos do que
alguns institutos.
Bolonha foi uma oportunidade. Para tal foi desenvolvido um plano
estratégico, que trouxe ganhos, pois permitiu perceber as carências
(vertentes pedagógica, científica e de gestão) e foram feitas
mudanças dos planos de estudos por causa deste plano e não por
causa de Bolonha. Caminhou na direcção das tutorias.
A escola deixou de falar no processo de Bolonha e passou a
centrar-se no Plano de Desenvolvimento Estratégico. Desenvolveu uma
cultura aprendente promotora do desenvolvimento pessoal e
profissional.
Tem uma avaliação negativa em relação à internacionalização e à
mobilidade. Para a aumentar será preciso flexibilizar alguns
aspectos relacionados com o rigor. E ainda não decidiu ir por
aí.
Luis Carvalho (Escola Superior de
Enfermagem do Porto)
Reprovar com visões distintas
No Instituto Politécnico do Cávado e do Ave, o úmero de alunos
nas licenciaturas aumentou 38 por cento entre 2008 e 2011. Em três
anos duplicou o número de doutores 19 para 40. Cresceu ainda o
número de diplomados (o número de anos dos cursos reduziu).
Num inquérito sobre as alterações, os alunos evidenciam sobretudo o
ensino em direcção a competências e ao impacto na escola e no
curso, mas apresentam valores mais baixos nas medidas de apoio ao
sucesso escolar e à diminuição do abandono, medidas de estímulo à
inserção na vida activa e acções de apoio a aprendizagem em áreas
extracurriculares.
Foi criado um gabinete de empreendedorismo e estão a procurar
perceber por que razões há um insucesso escolar elevado em
determinadas unidades curriculares. Para já, em relação a essas
razões, as opiniões de docentes e alunos são muito diferentes.
Patrícia Gomes (IP Cávado e
Ave)
Inovar nas áreas de formação
Falta aumentar a inter e a multidisciplinaridade (por vezes as
empresas pedem diplomados em áreas em que a Universidade ainda não
tem formação. As empresas vão à frente das universidades). É
precisa mais flexibilidade, atenção à empregabilidade e
envolvimento da comunidade académica no aprofundamento das
reformas.
Quando Bolonha foi anunciada, algumas vozes diziam que íamos voltar
para trás e que se ia perder qualidade. Não foi isso que aconteceu.
Diversificou a oferta formativa e o sistema permite a criatividade
e a inovação. Há esperança.
O importante é que os alunos estejam presentes e activos porque
podem estar presencialmente, mas não mentalmente e
activamente.
Na Universidade do Porto houve uma maior ligação entre investigação
e formação. Foi criado o Investigação Jovem na Universidade do
Porto (IJUP), onde os estudantes de 1º Ciclo apresentam os
resultados da sua investigação do ano anterior. Este ano tiveram
mais de 500 comunicações). Há mais inclusão social (actividades de
voluntariado, apoio a estudantes carenciados, UJunior)
Maria de Lurdes Fernandes
(vice-reitora Universidade do Porto)
Politécnico antecipou Bolonha?
Quais foram as mudanças? O Politécnico já tinha muitos cursos
com a lógica profissional. Agora já existe menos. Mas será que os
politécnicos antecipoaram o processo de Bolonha? Os alunos não
percepcionam grandes diferenças na lógica experimental, pois os
politécnicos já a tinham.
Os alunos desconhecem o que é o suplemento ao diploma e não estão
familiarizados com a Escala Europeia de Classificações.
Valentim Nunes (Politécnico de
Tomar)
É preciso formar os docentes
Os ECTS reflectem as horas de contacto mais as horas de trabalho
autónomo. A ideia não é que os professores controlem, mas que
orientem os alunos em relação ao trabalho a desenvolver nessas
horas. Os alunos trabalham mais na altura dos testes, mas não o
fazem de forma equitativa.
O processo está terminado. A componente comportamental está em
curso apesar de já termos bolonhado e de falarmos bolonhês. Mas
praticamos nas aulas? Temos bons docentes que têm práticas activas,
mas ainda há muito por fazer.
É preciso:
- Promover debates pedagógicos;
- Sensibilizar para a orientação do trabalho autónomo (dizer o que
tem/deve de fazer da primeira semana à segunda.
- Continuar a formação pedagógica dos docentes;
Ana Ramos (Politécnico de Castelo
Branco)