Iniciativa nasce após o falecim ento do ator José Boavida
Salvar Mais Vidas é movimento cívico
O falecimento do ator José Boavida, há
cerca de dois anos, na sequência de uma paragem cardiorrespiratória
na via pública, a 1800 metros do Hospital Amadora-Sintra, deu
origem ao Movimento Cívico Salvar Mais Vidas, ao qual o Ensino
magazine se associou, e a uma petição que se encontra na página de
internet da Assembleia da República. As escolas vão ser chamadas a
ensinar o suporte básico de vida.
Coordenado por Gabriel Boavida,
irmão do ator falecido, o movimento pretende aumentar "a taxa de
sobrevivência à paragem cardiorrespiratória fora do meio hospitalar
de 3% para 30%. Temosa taxa mais baixa de sobrevivência da Europa o
que é preocupante", justifica ao Ensino Magazine.
O movimento foi apresentado este
mês em Lisboa, na Faculdade de Medicina, e resulta, segundo aquele
responsável, da "necessidade de alastrar ao país as mudanças que
foram conseguidas em Sintra, as quais surgiram na sequência da
minha colaboração com a aquela autarquia e que tem em conta a
criação de um plano municipal de Desfibrilhação e o Ensino do
Suporte Básico de Vida nas escolas do município".
Gabriel Boavida recorda que "morrem
todos os anos 10 mil portugueses por paragem cardiorrespiratória,
ou seja um por hora. E se ao fim de cinco minutos de paragem
cardíaca começam as lesões cerebrais definitivas, ao fim de 10 a
vida já não é possível se não se fizerem as manobras de Suporte
Básico de Vida".
O coordenador do Movimento Cívico
Salvar Mais Vidas acrescenta: "Se tivermos em conta que o tempo
médio de chegada do socorro varia entre os 10 e os 12 minutos, em
qualquer parte da Europa, verificamos que somos nós, sociedade
civil, que temos de estar habilitados a saber agir. Somos os
principais intervenientes e beneficiários ao mesmo tempo".
O movimento tem metas concretas,
que passam por "incentivar projetos de ensino de suporte básico de
vida nas escolas". Gabriel Boavida revela que as ações vão no
sentido de alertar "e mobilizar a sociedade civil para esta causa e
para que ela participe nas soluções".
A divulgação na comunicação social
do movimento e a realização de iniciativas junto dos órgãos de
decisão política são apostas do movimento, que tem já a decorrer
uma petição pública, na página da Assembleia da República, e um
manifesto, através dos quais se pretende implementar um conjunto
significativo de propostas.
A petição pode ser assinada na
internet (https://participacao.parlamento.pt/initiatives/40) e tem
objetivos bemdefinidos, como "ter-se um país mais bem preparado
para responder a emergências médicas e situações de paragem
cardiorrespiratória; por termos 1/3 da população saber fazer
suporte básico de vida (SBV) e utilizar um DAE (desfibrilhador
automático externo); e por aumentar a taxa de sobrevivência da
morte súbita cardíaca para 30% até 2030".
Nesse sentido, os peticionários
solicitam à Assembleia da República que legisle no sentido de
concretizar um conjunto de propostas que passam pelo ensino de
Suporte Básico de Vida-DAE obrigatório por Lei nas escolas. Uma
formação que se deve destinar a todos os alunos do 10º, 11º e 12º,
uma vez por ano, e durante três horas seguidas, sendo que 50% do
tempo corresponde a uma componente prática com um manequim e um
simulador de DAE. Essa formação deverá, no entender do signatários
da petição, ser ministrada por professores com formação certificada
(pelo INEM), preferencialmente na disciplina de educação física.
Para os alunos dos 7º, 8º e 9º anos deverão ser ensinadas noções
básicas de socorrismo na disciplina de oferta complementar.
Para determinadas profissões (como
médicos, enfermeiros, cardiopneumologistas, fisioterapeutas,
dentistas, farmacêuticos, outros profissionais de saúde,
bombeiros, treinadores e personal trainers, vigilantes, novos
polícias, novos militares, ou novos professores), a petição reclama
a frequência obrigatória de formação.
Além disso, a petição defende mais
sensibilização e mais desfibrilhadores, através de campanhas de
prevenção e combate à morte súbita cardíaca, mas também do
alargamento da lista de locais onde é obrigatório ter programas de
Desfibrilhação Automática Externa, nomeadamente em ambulâncias de
socorro, estabelecimentos de ensino, ginásios e recintos
desportivos, farmácias, instalações empresariais e industriais,
edifícios públicos, hotéis ou praias.
Outra da medidas defendidas na
petição vai no sentido de encorajar o INEM (CODU) a ativar a rede
nacional de Programas DAE para se iniciar o socorro e
desfibrilhação ainda antes da chegada do 112.
Na apresentação do Movimento Salvar
Mais Vidas, Gabriel Boavida, disse, no seu discurso, "não esquecer
como esta caminhada começou. Foi com uma tragédia pessoal, uma
paragem cardiorrespiratória. Uma das 10 mil anuais em Portugal. E
se me permitem tenho de fazer aqui uma homenagem a todos aqueles
que partiram e que deveriam ter tido outro tipo de assistência,
principalmente por parte dos seus familiares, dos seus amigos, dos
seus vizinhos, enfim, dos seus concidadãos".
Para o coordenador do movimento, "é
neste elo da cadeia de socorro que está a chave do problema. É aqui
nos primeiros 10 minutos que podemos e temos de fazer a diferença.
Somos nós, Sociedade Civil, que temos o papel principal e somos
simultaneamente os principais beneficiários. Somos nós que podemos
alterar esta realidade. Não podemos refutar as nossas
responsabilidades".
Até ao momento são muitas as
personalidades ligadas ao teatro e ao mundo universitário que têm
aderido ao movimento. Gabriel Boavida lembra que todos "somos
poucos", pelo que os interessados em aderir apenas terão que enviar
um email para o endereço geral@salvarmaisvidas. pt, e manifestar
essa sua intenção. Entidades como a Cruz Vermelha Portuguesa,
Câmara de Sintra, Faculdade de Medicina de Lisboa, Hospital Amadora
Sintra e Unidade Local de Saúde da Guarda, já manifestaram o seu
apoio.