A maioria das crianças e jovens
não consegue usar computador de forma autónoma e precisa de
orientação para realizar tarefas básicas, um problema que afeta
sobretudo os mais desfavorecidos, segundo dados de um estudo
internacional divulgados este mês.
À luz do
contexto atual, em que cerca de 1.500 milhões de alunos no mundo
foram afetados pelo encerramento dos estabelecimentos de ensino,
devido à pandemia de covid-19, a Associação Internacional para a
Avaliação do Desempenho Educacional (IEA) voltou a olhar para os
resultados de um estudo conduzido em 2018.
Segundo os
resultados, apenas 21% dos estudantes inquiridos demonstraram
conseguir usar computador de forma autónoma, sendo que a maioria
necessita de orientação para realizar tarefas básicas.
Esta é uma
dificuldade que se verifica de maneira geral, sendo sentida mesmo
pelos estudantes de contextos mais favorecidos, mas afeta,
sobretudo, os alunos mais desfavorecidos, que apresentaram um
desempenho ainda mais fraco, demonstrando apenas "um conhecimento
funcional dos computadores".
Os
resultados são do Estudo Internacional de Literacia em Tecnologias
da Informação e da Comunicação (ICILS
- PODE SER CONSULTADO AQUI), que em 2018 inquiriu mais de 46
mil estudantes de 14 países, incluindo Portugal, sobre os
dispositivos digitais a que têm acesso em casa, como computadores
fixos, portáteis, 'tablets' e 'e-books'.
"Esses dados
podem agora fornecer uma visão importante sobre quão preparados os
jovens estavam para mudar para o trabalho doméstico e quais os
estudantes que correm o risco de ficar para trás, em relação aos
seus colegas", sublinha o diretor executivo da IEA, Dirk Hastedt,
citado em comunicado.
Os dados
agora divulgados pretendem também avaliar a relação entre o
estatuto socioeconómico dos estudantes e a disponibilidade de meios
digitais para estudar em casa, numa altura em que os alunos estão
afastados das salas de aula.
Segundo os
resultados, 24% dos estudantes cujos pais têm um "estatuto
ocupacional" superior admitiram ter menos de dois computadores em
casa, em comparação com os 41% de alunos de famílias mais
desfavorecidas.
"Isto
levanta questões sobre se as crianças terão acesso suficiente aos
dispositivos para estudar em casa, principalmente se os seus pais e
irmãos também precisarem de acesso a um computador para trabalhar
em casa", afirmou o diretor executivo.
Dirk Hastedt
sublinha ainda que, no contexto atual, é importante assegurar não
só a continuidade da educação, através da disponibilização de
dispositivos eletrónicos que permitam aos alunos continuar a
estudar em casa, mas também assegurar que as crianças e os jovens
conseguem utilizá-los de forma autónoma.
"Falamos
muito sobre o fosso digital e estes novos números permitem ter uma
visão sobre um aspeto desse fosso", explica, referindo-se às
desigualdades ao nível dos dispositivos.
"Mas também
não devemos esquecer o 'fosso no conhecimento'. No ciclo mais
recente do ICILS, os estudantes com níveis socioeconómicos mais
altos tiveram pontuações significativamente mais altas do que os
seus colegas menos favorecidos", acrescenta.
A nível
global, a pandemia de covid-19 já provocou quase 267 mil mortos e
infetou mais de 3,8 milhões de pessoas em 195 países e territórios.
Mais de um 1,1 milhões de doentes foram considerados curados.
Em Portugal,
morreram 1.105 pessoas das 26.715 confirmadas como infetadas, e há
2.258 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da
Saúde.
Para
combater a pandemia, os governos mandaram para casa 4,5 mil milhões
de pessoas (mais de metade da população do planeta), encerraram o
comércio não essencial e reduziram drasticamente o tráfego aéreo,
paralisando setores inteiros da economia mundial.
Face a uma
diminuição de novos doentes em cuidados intensivos e de contágios,
alguns países começaram a desenvolver planos de redução do
confinamento e em alguns casos a aliviar diversas medidas.