Primeira Coluna
A coisa está preta...
O Conselho de Reitores das Universidades
Portuguesas (CRUP) e o Conselho Coordenador dos Institutos
Superiores Politécnicos (CCISP) estão apreensivos no que respeita
ao funcionamento das suas instituições para o próximo ano. Em causa
estão os cortes nos seus orçamentos para 2013, os quais segundo o
Secretário de Estado do Ensino Superior devem chegar, em média, aos
2,5 por cento.
Para algumas instituições o cenário
apresenta-se mais escuro do que a própria crise do país. Nos
últimos anos o orçamento que a tutela tem garantido às
universidades e politécnicos tem vindo a reduzir. O CCISP refere
mesmo que há politécnicos em situação de emergência, o que resulta
dos cortes do último ano, os quais rondaram os 3,2 por cento. O
CRUP fala na perda de 20 por cento no financiamento das
universidades, desde 2005.
A crise que o país atravessa obriga
a sacrifícios de todos os sectores da sociedade. Acontece que a
equação orçamental hoje é diferente. Nos últimos anos tem-se
registado uma diminuição na dotação do Orçamento de Estado para os
orçamentos das instituições, o que foi sendo compensado com a
procura de receitas próprias das universidades e politécnicos. E é
aqui que a equação teima em não dar certo. Se se aumentam as
propinas, as famílias deixam de ter meios para as pagar (aliás este
ano praticamente todas as instituições tiveram casos de alunos com
dificuldades em pagar propinas, ou que desistiram por falta de
dinheiro).
É certo que as receitas próprias
não são só as propinas (num passado recente defendia-se que esse
valor teria que ser canalizado para actividades académicas e
educativas directamente relacionadas com os alunos. Hoje isso não
acontece, pois colocaria em causa a sustentabilidade de muitas
instituições). As receitas próprias devem ser também procuradas
junto da sociedade civil e empresarial, através de prestação de
serviços, de projectos de investigação, de consultoria, etc. O
problema é que a crise económica está a afectar essa mesma
sociedade. As empresas estão asfixiadas, carregadas elas próprias
com os elevados encargos para a Segurança Social e com impostos que
muitas vezes têm que pagar sem antes terem recebido dos seus
fornecedores (o caso do IVA é gritante, com o Estado muitas vezes a
ser simultaneamente devedor e credor). No contexto actual poucas
são as famílias que não tenham alguém desempregado (o pai, o primo,
o irmão etc). Há ainda as fontes de financiamento comunitário para
projectos de cariz internacional, mas que são específicos para
determinada área e desempenho.
A equação não é, portanto fácil de
resolver e tem levado a que muitas instituições de ensino superior
sejam obrigadas a dispensar professores contratados (alguns dos
quais doutorados) que já prestavam serviços em universidades ou
politécnicos há 10 ou mais anos.
Não há portanto uma varinha mágica
para resolver o problema. Mas deve haver por parte de quem governa
o dever de não penalizar quem gere bem, quem sempre cumpriu as
regras do jogo, sob pena de aqueles que sempre tiveram as contas
direitinhas deixarem de o ter, com simples argumento de que não
vale a pena. De igual modo deve haver por parte do Governo a
coragem de olhar para o país como um todo, tendo em conta a coesão
territorial e não os muitos interesses de quem muitas vezes
aconselha ou é obrigado a decidir.