Entrevista

João Morgado, escritor
Diário dos imperfeitos

fotoJMnet.jpgO romance "Diário dos Imperfeitos" levou o escritor beirão João Morgado a vencer o prémio literário Vergílio Ferreira, instituído pela Câmara Municipal de Gouveia.

A este concurso apresentaram-se 71 obras, mas "Diário dos Imperfeitos", assinada sob o pseudónimo de Romão Moraes, foi a premiada.

Este romance vai ser editado com a chancela daquela autarquia e o autor vai receber um prémio no valor de quaro mil euros, numa cerimónia agendada para Setembro.

Esta nova obra, que faz parte de uma trilogia, já com "Diário dos Infiéis" publicado, foi reconhecida por um júri constituído por um representante da Associação Portuguesa de Escritores e um representante da Associação Portuguesa de Críticos Literário.

Como recebeu este prémio? Considera que já merecia um reconhecimento destes?

Fiquei muito feliz, porque era um reconhecimento de um trabalho que me ocupou durante mais de um ano. Muitos prémios vivem das pressões mediáticas e do lobbying das editoras, mas neste caso concorri sob pseudónimo com mais setenta autores... por isso é a certeza de que gostaram da minha escrita. O meu primeiro romance, «Diário dos Infiéis», foi um sucesso em termos de vendas, mas passou um pouco ao lado da crítica literária. Pode ser que agora consiga um pouco mais de reconhecimento neste meio literário, que é muito fechado.

Depois de "Diário dos Infiéis", consegue o seu primeiro prémio literário, com "Diário dos Imperfeitos. Esta é um trilogia... depois dos infiéis e dos imperfeitos, o que se segue?

Estes romances são muito intimistas, são um desvendar dos sentimentos mais escondidos... são olhares críticos sobre o que as pessoas são na realidade - infiéis e imperfeitas. Por vezes somos infiéis aos outros, por vezes infiéis a nós mesmos, aos nossos sonhos, aos nossos valores... e isso faz de nós seres imperfeitos, pois sempre acabamos por ter facetas que gostaríamos de ocultar... O terceiro "Diário" vai seguir esta tónica. Tenho a ideia na cabeça, escrevi apenas o primeiro parágrafo... mas ainda não será para já. Agora estou ocupado com um outro romance, mas de temática e estilo completamente diferente! Precisei de limpar a cabeça...

Sempre esteve ligado à escrita, começou como jornalista, dedicou-se à comunicação e acabou por escrever romances, embora tenha passado pela poesia e pelo conto. O porquê do romance? É por aqui que vai seguir?

Comecei a escrever muito cedo. O livro de contos «Meio-Rico», que lancei em Dezembro, tem textos escritos nos anos oitenta. A vida levou-me para outros lados, mas sempre tive na escrita a minha matéria-prima. Só agora entrei no romance, talvez porque só agora senti maturidade suficiente. O romance é uma obra de fôlego que exige uma estrutura narrativa e um mapa psicológico dos personagens, e depois muita disciplina na escrita... Creio ter criado um estilo de escrita muito próprio, um tanto agridoce, que mistura uma vertente quase poética com a frieza dos temas que aborda. Mas, é melhor cada um ler e julgar por si...

É neste estilo que segue este novo livro, agora premiado?

Sim. Continua um estilo intimista que leva o leitor a ser confidente dos personagens. A história fala-nos de uma mulher que está a reaprender os "sentimentos"... por isso é uma viagem ao labirinto da sua mente e à redescoberta de quem é, e de quem são as pessoas que estão à sua volta...

"Sobre nós ninguém escreverá um romance" - diz um personagem do "Diário dos Infiéis", mas o João Morgado escreveu!. É esse o sucesso do livro? Falar do comum cidadão, de casais comuns?

Sim, o "Diário dos Infiéis" não tem fantasias, nem feiticeiros, nem vampiros... apenas realidades cruas. Fala de pessoas comuns. Que não são heróis nem vilões. São apenas pessoas amarradas às rotinas do dia-a-dia, ao contexto em que vivem, às pessoas que as rodeiam... A forma como se adaptam a essa vida ou a forma como se libertam é que faz diferente a sua história. É a essa banalidade da vida que eu vou buscar a inspiração e a transformo em literatura. Muitas pessoas disseram-me: "parecia que estava a escrever sobre mim...". Sinto que é esse o maior elogio que posso ter ao meu trabalho!

As redes sociais, sobretudo o Facebook, têm sido fundamentais para a divulgação da sua obra e para uma forte interação que mantém com os leitores, curiosamente, a maioria mulheres?

O meio literário é fechado, as páginas de culturas são pequenas, as livrarias não têm espaço... por isso os novos autores ficam fora da crítica especializada e fora dos espaços comerciais. Lançam um livro e passado uma semana já ninguém tem tempo ou espaço para eles. As redes sociais vieram abrir um espaço de partilha e divulgação das obras, a criação de uma rede interativa que permite levar o trabalho dos novos autores a mais gente, criar leitores, e potênciar as obras... para mim, reconheço, o Facebook foi extremamente interessante, fundamental, diria mesmo. E aqui tenho de agradecer à minha amiga Isabel Ropio que administra a página e é a fã número um do livro...

O seu público é muito feminino a que se deve isso?

Por um lado o «Diário dos Infiéis» tinha uma capa muito feminina, por outro as mulheres são quem mais compra romances, não é de estranhar por isso que tenha um público muito feminino. Mas há uma coisa que devo sublinhar, as mulheres são muito mais resolvidas no campo sentimental, são capazes de falar da sua sexualidade e das suas emoções de uma forma mais aberta. Os homens são uns complexados, sabem mandar umas "bocas" no café, mas na sua maioria são incapazes de falar seriamente dos seus sentimentos... por isso se fecham e se afastam deste tipo de conversas!

Cristina Mota Saraiva
 
 
Edição Digital - (Clicar e ler)
 
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