Ex-ministro da Educação Júlio Pedrosa diz que é preciso repensar o país
O ex-ministro da Educação Júlio Pedrosa considera que os
resultados da primeira fase de acesso ao Ensino Superior não
constituem surpresa e mostram que é preciso repensar o país para
resolver os desequilíbrios.
"Os resultados (do concurso) mostram como é ainda mais
urgente debruçarmo-nos sobre o país que queremos ter. Queremos um
país a cair para o Atlântico, com o interior desertificado?",
questionou o ex-ministro da Educação, no segundo Governo de António
Guterres.
Para Júlio Pedrosa, a fraca ocupação de vagas nos
estabelecimentos de ensino superior no interior decorre de "um
processo de mudança" para o qual o país não está
preparado.
Nesta primeira fase, 66 cursos ficaram sem qualquer aluno
colocado, quase todos em institutos politécnicos e na área das
engenharias, segundo os dados divulgados da Direção Geral do Ensino
Superior (DGES).
Júlio Pedrosa, que presidiu ao Conselho Nacional de
Educação, recorda que o país tem a mesma rede que existia no
período de expansão.
O professor catedrático defende que em primeiro lugar deve
ser revitalizada a economia.
A desocupação dos territórios e consequentemente das
escolas aí existentes cria problemas nas economias locais. "Temos
de repensar a rede", sublinhou.
O investigador, que tem estudado o tema, adiantou que o
"deserto demográfico" do interior, onde existe uma grande rede de
politécnicos, vai intensificar-se ainda mais.
"Temos em primeiro lugar de pensar em
que país queremos viver", frisou, indicando que as populações
abandonam os territórios onde não existem condições de
vida.
"Queremos ter turismo no Douro com as montanhas à volta a
arder, queremos ter turismo na Serra da Estrela com aquilo a arder
todos os anos? Esses sítios precisam lá de pessoas qualificadas
para se desenvolverem", sustentou.
De acordo com os dados da DGES, o Instituto Politécnico de
Bragança é a instituição pública de Ensino Superior que nesta fase
apresenta o maior número de cursos sem qualquer aluno colocado
(11).
Ainda em Trás-os-Montes, na Universidade com o mesmo nome
da região, ficaram quatro cursos sem qualquer estudante colocado, o
que faz desta zona do interior a área do território nacional mais
representada na lista dos cursos sem alunos.
Mais de 90% dos candidatos a uma vaga no Ensino Superior
ficaram colocados na primeira fase.