1ª Coluna

Primeira coluna
O espaço, a inovação e a cortiça

IMG_1620.jpgPortugal foi pioneiro na descoberta de novos territórios, utilizando os oceanos na procura de espaços que acreditava existirem, criando a sua própria indústria naval, inovando como poucos. Foi assim há mais de 500 anos. Os descobrimentos portugueses tornaram o nosso país uma referência, demonstraram ao mundo uma resiliência enorme, transportada ao longo dos séculos, mas sobretudo uma capacidade em inovar, em criar condições de sucesso, para que os mares nunca antes navegados nos conduzissem a novos territórios.
Mais de 500 anos depois, Portugal procura abraçar novos desafios, agora no setor aeroespacial, juntando a academia, através das universidades e institutos politécnicos, a indústria nacional, empresas tecnológicas e laboratórios de excelência, em projetos ambiciosos que envolvem a Agência Espacial Europeia.
São novos desafios que demonstram como o país e as suas instituições podem dar o seu contributo ao mundo, apresentando ligações improváveis, com utilização concreta na investigação. É neste cenário de inovação, precisão e ousadia que a cortiça surge associada a um dos projetos mais interessantes do setor aeroespacial. A sonda que irá a Marte recolher amostras do solo tem a cortiça como elemento central. O projeto inovador está a ser desenvolvido pelo ISQ, a pedido da Agencia Espacial Europeia, em parceria com a Amorim Cork Solutions, o Polo de Engenharia dos Polímeros e a Critical Materials. Os testes dessa sonda estão a ser feitos no laboratório do ISQ em Castelo Branco, um dos mais avançados do mundo, onde também já foi testado o nariz da nova nave espacial da Agência Europeia, numa simulação da sua reentrada na atmosfera.  
A investigação e inovação presentes neste projeto tornam--no aliciante e todos os que nele trabalham querem saber o impacto da aterragem dessa sonda nas areias da Austrália, onde ela aterrará depois de regressar de Marte.
Estamos a falar de uma sonda que tem cortiça, um dos produtos referência do nosso país, que tem investigação, que envolve empresas e cientistas à escala global, e que coloca Portugal num espaço muito digno. Mas poderíamos estar também a falar do projeto Infante, que prevê a construção do novo satélite português, num investimento de nove milhões de euros. Um satélite que será o primeiro de uma futura constelação de 12 satélites idênticos que serão construídos e lançados nos anos seguintes. Mais uma vez, os testes serão feitos pelo ISQ, no laboratório instalado na cidade albicastrense.  Fazem parte deste consórcio nove empresas da área do espaço - Tekever, Active Space Technologies, Omnidea, Active Aerogels, GMV, HPS, Spin Works, entre outras - e dez centros de I&D (investigação e desenvolvimento) de várias universidades e laboratórios de investigação de todo o país que trabalham em espaço. Espera-se que em 2020 seja lançado o primeiro satélite.
Mais de 500 anos depois de termos descoberto mundo, e 50 anos após a chegada do primeiro homem à lua, somos confrontados com novos desafios, onde a capacidade de inovar, de explorar novos conceitos, mobilizando universidades e politécnicos, centros de investigação, empresas de ponta, laboratórios de excelência, devem estimular a capacidade empreendedora que está marcadamente no nosso ADN vai para mais de cinco séculos. E sim, a nossa cortiça, além de permitir engarrafar os melhores vinhos do mundo, irá a Marte e regressará à terra, num projeto que certamente será brindado com o melhor vinho espumante português, depois de se ouvir aquele som inconfundível da rolha de cortiça portuguesa a sair da garrafa. E que esteja bem fresquinho!

 
 
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