Bocas do galinheiro
No centenário de Fellini e não só
2020 é o ano do centenário
do nascimento de Federico Fellini, que aconteceu em Rimini, em
Janeiro de 1920. Bastante jovem, em 1939 chega a Roma, onde começa
por viver de biscates, até que inicia a sua colaboração com o
jornal satírico "Marc'Aurelio", onde tem uma profícua produção até
que conhece, já no pós guerra, duas das pessoas que o vão marcar: o
compositor Nino Rota, cujas bandas sonoras abrilhantaram os já
brilhantes filmes de Fellini, e Aldo Fabrizi, um comediante para
quem começa a escrever e que lhe abre as portas do cinema. Primeiro
em colaboração directa na escrita, logo em 1942, entre outras, na
fita de Mario Bonnard, "Avanti c'é posto…" protagonizada por
Fabrizi, e mais tarde, outro encontro fundamental, este com Roberto
Rossellini que o convida para colaborar no argumento de "Roma
Cidade Aberta" (1945), mas também para convencer Fabrizi a entrar
no filme, o que veio a acontecer. Repete colaboração com o mestre
do neo-realismo em "Libertação" (1946), ambos nomeados para o Óscar
de melhor argumento, bem como em "Amor" (1948), onde é também
actor, para além de participações em argumentos de filmes de
Alberto Lattuada e Pietro Germi, entre outros.
É com Lattuada que dá os
primeiros passos como realizador em "Luci del varietà" (1950),
dirigido pelos dois, uma das protagonistas é Giulietta Masina,
mulher de Fellini, e que o acompanharia até ao resto da vida e em
muitos filmes que realizou. Apesar de ser um fiasco de bilheteira,
abriu-lhe as portas da direcção que o colocou nos lugares cimeiros
dos realizadores mundiais, sem ainda ter que enfrentar novo desaire
com "O Sheik Branco" (1952), o que levou a que o produtor Luigi
Rovere lhe virasse as costas, virando-se então para Lorenzo
Pegoraro que produz "Os Inúteis" (1953), um dos seis filmes do
realizador que vão ser repostos em Agosto e Setembro (torço para
que o Cine-Teatro Avenida se lembre dos admiradores de Fellini e
traga este ciclo a Castelo Branco, à semelhança do que aconteceu
com Rossellini), em cópias restauradas. O filme foi um êxito enorme
e o resto é História, entre outros episódios, se lembra que foi
nomeado quatro vezes para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, como
se dizia na altura, com "A Estrada", "As Noites de Cabiria",
"Fellini 8½" e "Amarcord", e das quatro venceu! É obra!
A Festa do Cinema Italiano
anunciou uma programação especial para assinalar o centenário,
estando igualmente prevista uma retrospectiva integral na
Cinemateca Portuguesa, iniciativas que foram adiadas por causa da
pandemia. Assim, na mostra agora anunciada, para além do já
referido, vão ser exibidos "A Estrada" (1954), "La Dolce Vita"
(1960), "Fellini 8 ½" (1963), Julieta dos Espíritos (1965) e "A Voz
da Lua", (1990), filmes onde podemos apreciar a genialidade de
Fellini, mas também recordar actores e actrizes como Marcello
Mastroianni, Roberto Benigni, Anita Ekberg e Giulietta
Masina.
Centenária era Olivia de
Havilland. A actriz que entrou no agora famoso pelas razões que
conhecemos "E Tudo o Vento Levou", onde fazia o papel da boazinha
Melanie Hamilton e que lhe valeu a primeira nomeação para os Óscar,
no caso de actriz secundária, faleceu em Paris, no passado dia 26
de Julho, aos 104 anos. Estreou-se no cinema em 1935 em "Alibi
Ike", de Ray Enright, mas seriam os oito filmes que protagonizou
com Errol Flyn, que a lançaram para o estrelato, desde logo
"Capitão Blood", ainda em 1935, "A Carga da Brigada Ligeira"
(1936), ou "As Aventuras de Robin dos Bosques", de 1938, todos
realizados por Michael Curtiz.
Com cinco nomeações para os
prémios da Academia, arrebatou o galardão em 1946, por "Lágrimas de
Mãe", de Mitchel Leisen, e em 1949, por "A Herdeira", de William
Wyler, onde contracenou com Montgomery Clift. Curiosamente um dos
Óscares que perdeu foi para a irmã, Joan Fontaine, em 1941, ela
pelo papel em "A Minha História", de Mitchel Leisen, ao lado de
Charles Boyer, enquanto a irmã levou a estatueta pela sua actuação
em "Suspeita", de Alfred Hitchcock.
A viver em França desde os anos
50 do século passado, onde se casou e divorciou de Pierre Galante,
manteve a sua ligação à representação até aos anos 80, participando
esporadicamente em filmes e séries.
A 31 de Julho deixou-nos o
realizador britânico Alan Parker, aos 76 anos. Conhecido
principalmente por causa de "O Expresso da Meia-Noite", de 1978,
sobre a história de Billy Hayes, um estudante americano preso na
Turquia por tráfico de droga e a sua posterior fuga da prisão,
valeu-lhe a nomeação para o Óscar de melhor filme e realizador,
sendo que a única estatueta foi arrebatada por Oliver Stone, autor
do argumento baseado neste acontecimento, já dera nas vistas dois
anos antes com "Bugsy Malone", uma incursão satírica no mundo dos
gangsters, com Jodie Foster e outros actores infantis.
Tocando vários estilos, foi nos
musicais que obteve os seus posteriores maiores êxitos. De "Fama",
em 1980, "Pink Floyd The Wall" (1982) a "Evita", de
1996, o musical de Andrew Lloyd Webber, com Madona e Antonio
Banderas, tendo a cantora arrebatado o Óscar da melhor canção, "You
Must Love Me", com letra de Tim Rice. Pelo meio outras fitas dignas
de nota de "Mississipi em Chamas", a "Angel Heart - Nas Portas do
Inferno", passando por "Birdy: Asas de Liberdade" e "Os
Commitments".
Até à próxima e bons
filmes!
Luís Dinis da Rosa
Este texto não segue o novo Acordo Ortográfico