primeira coluna
Os Passos da educação…
As declarações do Primeiro Ministro,
Pedro Passos Coelho, de que a Constituição da República Portuguesa
permite mais alterações às funções do Estado no sector da educação
do que no da saúde, deixando no ar uma hipótese (que viria a
desmentir quatro dias depois em Cabo Verde?!) de que há "margem de
liberdade, na área da educação, para poder ter um sistema de
financiamento mais repartido entre os cidadãos e a parte fiscal
directa que é assegurada pelo Estado", colocaram o ensino
obrigatório na mira do mediatismo.
Portugal vive uma das piores crises
económicas (e prepara-se para enfrentar uma das maiores crises
sociais dos últimos 30 anos) e, por vezes, quem manda esquece-se
que de que é preciso saber ouvir o povo. É certo que em épocas de
crise todas as medidas anunciadas no sentido de cortar isto e
aquilo (desde que não nos toque a nós) são sempre bem vistas. Mas o
ensino obrigatório toca-nos a todos e dificilmente o futuro de
Portugal aguentaria algum tipo de propina encapotada no ensino
obrigatório. Digo Portugal, porque é do futuro do país que se está
a falar. Um país sem qualificação é um país condenado ao fracasso e
repartir (ainda mais, pois a educação também já, nesses níveis, é
suportada pelos contribuintes) por quem tem filhos em idade escolar
obrigatória, é assinar uma guia de marcha rumo à desqualificação e
ao abandono escolar (o qual mesmo sem as ditas medidas continua em
níveis muito elevados).
Felizmente todos percebemos mal as
palavras do Primeiro Ministro. Há noites assim. Os jogos de
palavras levam a que isso aconteça, mas Pedro Passos Coelho já
afastou a ideia de que não haverá esse acréscimo de custos. Então,
perguntam-nos, não há problema no sector educativo? A resposta é
clara. No sector educativo há sempre problemas e quem sofre somos
todos enquanto sociedade. As regras de avaliação dos alunos são
mudadas a meio do jogo pela tutela, a questão dos mega agrupamentos
continua na ordem do dia com reuniões entre escolas e nas direcções
regionais de educação, para ver quem fica com o melhor casamento.
Como se por trás da criação dessas mega estruturas houvesse outra
intenção que não fosse cortar na despesa e reduzir postos de
trabalho. Como se despedir ou colocar em listas de futuros
despedimentos (juridicamente a palavra não será essa, mas na
prática é quase a mesma coisa) pessoas fosse bom para alguém. Como
se colocar mais alunos por turma melhorasse o ensino (há sempre
rankings internacionais que nos dizem que no país A até há mais
alunos que cá e que os resultados são bons, mas esquecem-se de
fazer o real diagnóstico desse mesmo país).
O silêncio, por parte de quem por
menos juntou centenas de milhares de docentes em Lisboa, é
aterrador, quase tanto como o medo que uma grande parte dos
professores vive na escola, com receio do amanhã. Já nem o Natal é
como era. Agora ninguém fala no Menino Jesus. O Pai Natal é que é
bom. Mas também ele já conheceu melhores dias, não há dinheiro para
as prendas e, a pouco e pouco, começa a pensar-se noutro tipo de
ofertas que consigam melhorar a auto-estima de quem ensina e de
quem aprende. Se calhar isso já nem o Menino Jesus, nem o Pai Natal
conseguirão fazer. Mas o mais certo é terem percebido mal as minhas
palavras… Um bom Natal para todos.