Primeira Coluna
No poupar é que está a perda
As instituições de ensino superior
público são obrigadas a adquirir determinados bens através da
chamada central de compras do Estado. O objetivo do Governo seria o
de poupar, mas aquilo que acontece na realidade é que em muitas
situações se gasta mais dinheiro. Constantino Rei, presidente do
Instituto Politécnico da Guarda, colocou o dedo na ferida e até deu
um exemplo concreto, entre muitos outros, que universidades e
politécnicos vivem no dia-a-dia.
Esta imposição não é nova, mas
levanta um conjunto de questões que não deixam de ser importantes,
sobretudo numa altura de crise. As instituições de ensino superior
e muitas outras do Estado, para além das suas funções principais,
devem ter em conta também objetivos de coesão territorial e
económica. Por exemplo, ao obrigar as instituições a adquirirem os
seus bens na dita central de compras, através das empresas
autorizadas para tal, estão a impedir que fornecedores locais (isto
é mais dramático no interior do país) possam fazer as suas
propostas. Mesmo que tenham preços mais baixos, impera sempre a
obrigatoriedade da dita central.
Recentemente vários institutos
politécnicos apresentaram estudos sobre o seu impacto nas regiões
em que estão inseridos. A frase feita de que essas, e outras
instituições, como as universidades têm um papel importante no
desenvolvimento das regiões em que estão inseridas, ficou
comprovada com esse mesmo estudo. São dezenas de milhões de euros
de impacto nas economias locais e só não é superior essa influência
precisamente porque a maioria das empresas dessas regiões se vêm
impedidas de vender. Com isso, em vez de se criarem postos de
trabalho, diminuem-se. O pior de tudo é que muitas vezes fora da
chamada central de compras os preços são mais baixos.
A questão pode parecer uma mera
gota no oceano da crise que o país atravessa. Mas para as pequenas
e médias empresas, para as micro-empresas, esse pequeno grande
pormenor pode significar a diferença entre a sobrevivência e a
manutenção de emprego, ou a morte anunciada. Compete também às
instituições do Estado promoverem a economia à escala regional e
não apenas tendo em conta os grandes grupos.
Mas o que é que esta situação tem a
ver com a educação?, perguntam. Nada e tudo. Uma boa gestão das
instituições de ensino superior criam-lhes mais capacidade e
competência, tornam-nas mais audazes e capazes. Aquilo que não pode
continuar a acontecer é que seja o próprio Estado a impedir que
isso aconteça. O Conselho de Reitores já tinha alertado para as
dificuldades que o próximo Orçamento de Estado pode trazer ao
funcionamento das universidades. O Conselho Coordenador dos
Institutos Politécnicos também fez sentir isso mesmo. Mas também
aqui o Governo trata as instituições de maneira diferente, não só
ao nível institucional, como de garantias, com a maioria dos
politécnicos sem conhecerem o Orçamento de Estado que lhes cabe em
2013. Digo bem em 2013! Pois é, no final do mês entramos em
2014...