Congresso internacional de educação inclusiva e equidade
Inclusão, mas pouco
"As políticas [implementadas no nosso país] têm-se
mostrado muito vulneráveis à recessão e pouco ambiciosas nos seus
objetivos tratando os alunos com necessidades especiais como meras
questões administrativas". Esta é uma das conclusões do III
Congresso Internacional subordinado ao tema "Educação Inclusiva e
Equidade", que a Pró-Inclusão - Associação Nacional de Docentes de
Educação Especial, realizou no último mês, na Aula Magna Instituto
Piaget do Campus Universitário de Almada .
A iniciativa contou com a presença
de alguns dos mais proeminentes académicos e investigadores
nacionais e internacionais, e teve a coordenação dos docentes David
Rodrigues e Luzia Lima-Rodrigues. As conclusões revelam ainda que
se assiste "atualmente a uma obsessão pela medida, pelos
resultados, pelos rankings fomentando a competitividade e a
exclusão e dificultando, enfim, a mobilidade social".
Outra das notas importantes
resultantes deste congresso é a evidente "falta de recursos com que
a escola pública se vê confrontada, tem originado um retrocesso nas
práticas inclusivas e um regresso a perspetivas segregadoras, tanto
no encaminhamento do aluno para as instituições de educação
especial, como ao nível da sua inclusão nos ambientes de
aprendizagem".
Os especialistas concluem que "a
oferta educativa das Instituições de Educação Especial é, por
vezes, aliciante para algumas famílias face à capacidade reduzida
das Escolas Regulares responderem às Necessidades Educativas dos
seus filhos". Por isso, asseguram, "é fundamental inverter esta
situação e canalizar recursos e financiamento para as escolas
regulares, essas sim conhecedoras das verdadeiras necessidades de
inclusão dos seus alunos. O financiamento público não deveria ser
canalizado para promover a exclusão".
Os cerca de 500 participantes,
apresentaram para discussão mais de 350 comunicações e pósteres que
refletiram temas atuais relacionados com a Educação Especial e
Inclusiva. O congresso contou ainda com a presença do Secretário de
Estado do Ensino Básico e Secundário e Deputados do Grupo de
Trabalho de Educação Especial da Comissão parlamentar de Educação
Ciência e Cultura da Assembleia da República.
No decorrer do congresso, e sobre as
eventuais alterações legislativas da Educação Especial, nos ensinos
básico e secundário, foi apresentado "o compromisso que estas
seriam objeto de um debate alargado com os parceiros sociais e foi
endereçando um convite à Pró-Inclusão para participar no mesmo.
Alguns dos deputados e oradores presentes no congresso mostraram
igualmente alguma apreensão face às eventuais alterações que possam
vir a ser equacionadas atendendo à conjuntura económica, política e
social atual", revelam as conclusões.
Para os especialistas presentes no
encontro, "a escola quando confrontada com a diversidade pode optar
por dois caminhos: ou mantém a sua organização e cria vias
paralelas ou aposta na sua modificação e numa política de apoios
para responder à diversidade. A Escola não pode é, numa perspetiva
de ciclo unificado de ensino, não proporcionar os apoios
necessários para que todos os alunos possam participar e ter
sucesso escolar. A Escola tem de privilegiar a implementação de
métodos ativos, expressivos e cooperativos, promovendo uma
aprendizagem de sucesso de e para todos os alunos. A diferenciação
curricular deve ser uma prática corrente e encarada como um ponto
de chegada e não um ponto de partida".
A Intervenção Precoce e a transição
para a vida pós escolar são dois domínios que necessitam de uma
urgente intervenção em termos da sua articulação com a escola e do
reforço dos seus recursos. No entender dos investigadores, "a
intervenção precoce tem um papel decisivo na prevenção do
aparecimento e do agravamento de condições de desenvolvimento que
podem ser gravosas para o processo de aprendizagem". Mas
acrescentam que "a educação não se esgota na escola, há necessidade
de se concretizar um novo contrato social, um contrato de uma
educação de, para, com e por todos".
A concluir, afirmam que "é
imprescindível a mobilização de recursos humanos qualificados no
sentido de uma educação de qualidade". Criticaram ainda o facto da
"especificidade do apoio aos alunos com necessidades específicas
não ser assegurada por professores sem qualificações adequadas". As
conclusões revelam também que "a formação em serviço deve criar
sistemas eficazes e pertinentes contextualizados nos reais
problemas da escola, contrariando a "desprofissionalização" dos
professores e a perspetiva de que todos, independentemente, da sua
formação e qualificação podem apoiar alunos com necessidades
específicas".
Finalmente lamentam o facto das
"instituições de Ensino Superior não disporem de enquadramento
legislativo no âmbito da Inclusão. Foi proposta a definição de uma
política de inclusão, a articulação entre os ensinos secundário e
superior, a criação de um programa nacional de atribuição fundos de
apoio aos alunos com carências económicas e a urgência da formação
para docentes do ensino superior e outros".