Estudo na Universidade do Porto revela
Economia paralela é elevada
O peso da economia paralela em
Portugal subiu ligeiramente em 2013 para o valor recorde de 26,81%
do PIB, equivalente a 45,9 mil milhões de euros ou 60% do
empréstimo pedido à 'troika', segundo um estudo divulgado este
mês.
Face a 2012, este valor - também
equiparável a seis orçamentos anuais do Ministério da Saúde -
representa uma subida de 0,07 pontos percentuais face aos 26,74%
estimados como tendo sido o peso da economia não registada em 2012,
referiu em conferência de imprensa o vice-presidente do
Observatório de Economia e Gestão de Fraude (OBEGEF) da Faculdade
de Economia da Universidade do Porto (FEP).
Durante a apresentação da
atualização para 2013 do Índice da Economia Não Registada, no
Porto, Óscar Afonso atribuiu, em parte, a menor subida da economia
não registada face a anos anteriores ao crescimento do produto
interno bruto (PIB), que passou de 160.455 milhões de euros entre
2000 e 2012 para 171.211 milhões em 2013.
Segundo os cálculos do OBEGEF,
bastaria que os níveis de economia paralela em Portugal caíssem
para a média da OCDE (Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Económico) - 16,4% do PIB, contra os 26,81%
portugueses - para, aplicando-se uma taxa média de impostos de 20%
ao rendimento adicional considerado, o défice público descer dos
4,85% do PIB de 2013 para os 2,51%, cumprindo assim o limite de 3%
determinado pela Comissão Europeia.
Já num cenário de total
inexistência de economia não registada no país, com aplicação de
uma taxa média de imposto de 20% ao valor extra arrecadado,
Portugal deixaria de ser um país deficitário, para atingir, mesmo,
um excedente de 0,40%.
Analisando a evolução da economia
paralela em Portugal, verifica-se que o seu peso no PIB mais do que
duplicou relativamente aos 12,68% estimados pelo OBEGEF para o ano
de 1970, enquanto, em termos absolutos, o seu valor aumentou mais
de 300 vezes face aos 151 milhões de euros do início da década de
70.
"Mais do que os valores concretos,
é de destacar a trajetória de evolução crescente [do índice], com
um aumento significativo nas décadas de 80 e 90", salientou Óscar
Afonso.
Como "principais causas
consideradas" pelo observatório da FEP para aumento da economia não
registada estão a carga fiscal e a carga de regulação em
percentagem do PIB, assim como a evolução do mercado de trabalho,
sendo o desemprego uma das variáveis associadas a uma subida deste
indicador.
E, embora admita que, "por um lado,
os Estados parece que têm vontade" de apertar o combate à economia
paralela, o investigador considera que, "por outro, pactuam com
coisas grandes, como as 'offshores' [paraísos fiscais]".
Acima de tudo, defendeu, "tem que
haver uma atuação concertada" ao nível de uma maior transparência
na gestão dos recursos públicos, uma justiça mais "rápida e eficaz"
(nomeadamente com implementação do crime de enriquecimento ilícito,
"invertendo o ónus da prova") e combate à fraude empresarial e à
utilização abusiva de convenções de dupla tributação.
Também necessária é uma aposta na
educação da sociedade civil sobre os "efeitos perversos" da
economia paralela, um uso crescente de meios eletrónicos de
pagamento e um combate ao branqueamento de capitais através de uma
melhor supervisão do sistema financeiro, melhor regulação do setor,
legislação adequada e "vontade por parte das autoridades" em
atuar.
Questionado sobre a divergência
entre os valores apontados pelo OBEGEF e os dados avançados pelo
Instituto Nacional de Estatística (INE), segundo o qual a economia
paralela em Portugal valerá 13% do PIB, Óscar Afonso sustentou que
o observatório recorre a "metodologias cientificamente testadas e
validadas", já reconhecidas por uma revista internacional que
aceitou o trabalho do observatório para publicação, e que "outros
estudos internacionais que incluem Portugal se aproximam" dos
valores da FEP.