Opinião

Cinema
Mau é mesmo mau

A atração do cinema pelos maus vem de longe, sendo que uma das faces mais exploradas desta faceta são os filmes de gangsters, popularizados a partir dos anos 20 e 30 do século passado, principalmente quando, a partir de 1920, com a aprovação da Lei Volstead, que proibia o consumo de álcool, logo o seu fabrico e distribuição, mais conhecida por Lei Seca, levou ao aumento exponencial dos gangs, muitos deles mafiosos, que exploravam as transações clandestinas de bebidas alcoólicas, bem como os locais de consumo, os célebres "Speakeasy", onde, curiosamente, também se consumia muito Jazz e onde muitos músicos deste género musical encontraram poiso para divulgarem a sua arte e crescerem. Mas voltemos aos filmes.

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Apesar do boom dos anos 20 e 30, um dos precursores do género foi D. W. Griffith com "The Musketeers of Pig Alley", de 1912, onde aparece um dos temas recorrentes do género: a rivalidade entre gangs. Mas não esteve só. Também Scott Sidney com "The Gangsters and the Girl", de 1914 e Raoul Walsh, com "The Regeneration", de 1915, se anteciparam à era dourada, que teve em Joseph von Sternberg um dos primeiros realizadores a olhar para o quotidiano e para o aumento da criminalidade que tão bem viria a retratar na sua trilogia "Underworld" (Vidas Tenebrosas, 1927), "The Dragnet"(A Rusga, 1928) e "The Docks of New York" (Docas de Nova Iorque, 1928), todos protagonizados por George Brancroft, e cujos densos argumentos, brilhantemente filmados em negros profundos e brilhantes nos transportam para os ambientes sórdidos dos bares e becos frequentados por escroques e oportunistas, onde dominam os criminosos e muitas vezes a polícia assobia para o lado. Na mesma época apareceram outras fitas importantes como "The Rackett" (A Lei dos Fortes, 1928), de Lewis Milestone, que aborda a proteção que os bootleggers recebiam de alguns políticos corruptos e de juízes.

Das centenas de filmes feitos sobre o tema na altura, há três, além de outros, claro, que pelo tema abordado se tornaram verdadeiros clássicos, "Little Caesar" (O Pequeno César, 1931), de Mervyn LeRoy, "Public Enemy" (O Inimigo Público, 1931), de William A. Wellman e "Scarface" (Scarface, o Homem da Cicatriz, 1932), de Howard Hawks, apesar de sobre ângulos diferentes, todos abordam a ascensão e queda dos reis do crime, com destaque para Al Capone, filmes que lançaram para o estrelato três grandes atores de teatro, respectivamente, Edward G. Robinson, James Cagney e Paul Muni. Numa segunda fase os filmes de gangsters cederam o primeiro plano ao policial, principalmente a partir de "G'Men" (O Império do crime, 1935), de William Keighley, desta vez com Cagney do lado da lei, para nos anos 50 e 60 se voltar ao início, agora com biopics dos lendários criminosos da época em filmes como "Baby Face Nelson", 1957, de Don Siegel, "Al Capone", 1959, de Richard Wilson, "The Rise and Fall of Legs Diamond", 1960, de Bud Boetticher, "The Bonnie Parker Story", 1958, de William Witney, ou o incontornável "Bonnie and Clyde", de Arthur Penn, com Faye Dunaway e Warren Beatty no papel do tristemente célebre casal.

Pelo meio a II Guerra vai alterar novamente as coisas e apareceu um novo centro de atenção: o detetive privado, alguns regressados da guerra, com dificuldades de integração, individualista, o que é bom para fintar criminosos e polícia em filmes como "Assassinos", 1945, de Robert Siodmak, "O arrependido", 1947, de Jacques Tourneur, "The Glass Key" (Sou eu o Criminoso, 1942), de Stuart Heisler, adaptado romance de Dashiel Hammett, "A Sede do Mal", 1958, de Orson Welles ou "Chinatown", 1974, de Roman Polanski.

Entretanto novos talentos foram brotando e com novas abordagens o tema foi sendo revisitado por nomes hoje consagrados como Francis Ford Coppola e a sua trilogia "O Padrinho", o primeiro de 1974 e o último de 1990, à volta dos Corleone, chefes da máfia, e onde brilharam, entre outros, Marlon Brando e Al Pacino; Martin Scorcese e o seu "Goodfellas" (Tudo Bons Rapazes, 1990), com Robert De Niro e Joe Pesci, este como o imparável assassino Tommy de Vito; Brian de Palma com "Os Intocáveis", 1987, com De Niro como Al Capone; ou Quentin Tarantino que com "Reservoir Dogs" e "Pulp Ficton", nos dá uma visão alucinante do mundo do crime. E como falámos de Don Siegel, recordar aqui os Dirty Harry, com Clint Eastwood, uma abordagem também peculiar do combate ao crime nas ruas.

Até à próxima e bons filmes!

Luís Dinis da Rosa & Joquim Cabeças
 
 
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