Que ensino superior queremos para Portugal?
No dia do Instituto Politécnico de
Portalegre, o seu presidente, Joaquim Mourato, lançou para debate a
questão "que ensino superior queremos para Portugal?". O também
presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores
Politécnicos acrescentaria ainda outro conjunto de perguntas que no
seu entender devem merecer uma forte reflexão: "Queremos um ensino
superior que se esgota na formação para as profissões? Um ensino
superior centrado exclusivamente no valor económico e na
competitividade imediata? Um ensino superior minimalista? Um
sistema mais britânico que o britânico? Ou queremos um ensino
superior que vá para além da preparação para as profissões? Um
sistema que responda à dimensão da educação e da cultura? Centrado
na pessoa humana? Que forma para a vida?".
Na sua perspetiva, "mais ensino
superior significa dispor de uma sociedade mais apta para o
exercício pleno da cidadania, fundamental para a solidez da
democracia em Portugal. Por isso, para além dos números que o
demonstram de forma inequívoca, devemos sempre afirmar que não
temos licenciados a mais, ao contrário do que disse a chanceler
alemã. Temos feito importantes progressos nos últimos anos mas
ainda estamos longe das metas europeias e da OCDE. Não nos podemos
desviar do objetivo, a bem de Portugal e dos portugueses".
Joaquim Mourato falaria ainda do
financiamento das instituições: "as questões do financiamento do
ensino superior são, sobretudo, de natureza ideológica. Sem esta
questão estar resolvida não faz sentido escolher o método ou o
modelo de financiamento. Primeiro temos que decidir que ensino
superior queremos. Depois que sistema de ensino superior melhor
serve os nossos objetivos. Só depois vem o modelo de financiamento
que não é mais do que um meio para atingir o que antes foi
definido".
O que acontece, diz, é que "temos
assistido, ano após ano, a uma discussão em torno da repartição do
bolo orçamental sem se discutir a dimensão desse bolo. Ora se o
bolo é pequeno, independentemente da fórmula de repartição, ninguém
é saciado".
Joaquim Mourato recordou ainda que
"temos assistido à transferência da intriga para dentro das
instituições de ensino superior. O problema de fundo não se resolve
e opta-se por colocar as instituições umas contra as outras, na
disputa por mais uns euros, cada uma com argumentos válidos,
assentes em critérios que lhes são favoráveis. Algumas, porque têm
mais alunos, invocam o critério do financiamento por aluno, outras,
porque são mais pequenas, referem os custos de estrutura e o
impacto regional. Pergunto, qual deixa de ter razão? Podemos
aplicar o ditado popular, "em casa onde não há pão todas ralham e
ninguém tem razão". Neste caso todas têm razão!".
Por isso diz que "o problema está a
montante de qualquer fórmula de financiamento. O meu apelo vai no
sentido de cada um de nós se recusar a discutir fórmulas sem se
definir primeiro que ensino superior queremos para Portugal. Não
podemos cair na armadilha que promove a divisão entre as
instituições. É fundamental estarmos unidos para, em conjunto,
colocarmos o debate no sítio certo".