Primeira coluna
O mundo digital e a escola
As novas tecnologias fazem parte das nossas vidas e
a escola, que hoje ensina os chamados «nativos digitais», deve
adaptar-se a isso mesmo sob pena de falhar para aquilo a que está
destinada. O debate não é novo, mas o medo da mudança tem-se
sobreposto à necessidade da mudança. À necessidade de utilizar
esses meios como um verdadeiro instrumento de ensino. No dia a dia
ninguém consegue viver sem os dispositivos móveis, sem o acesso ao
digital. Numa mesa com amigos, em meia hora, quase todos acedem ao
seu smartphone. No café acontece o mesmo. Em todo o lado é assim. A
sociedade muda. E na escola? Na escola é proibida a sua utilização.
Porquê? Porque distrai, porque não é assim que se ensina. Porque é
lei. E a lei manda.
Nunca como hoje esta discussão
esteve tão em cima da mesa. António Nóvoa, professor catedrático da
Universidade de Lisboa, onde foi reitor, recorda que já há 500
anos, aquando do aparecimento do livro, o debate era parecido. O
ensino consistia na memorização, e a introdução do livro iria
prejudicar a aprendizagem pois prejudicava essa memorização. Não
era bom poder-se ter acesso ao conhecimento abrindo o livro e
consultando-o. Hoje o debate não é sobre o livro, mas sobre as
novas tecnologias. Sobre a sua utilização ou não na escola, sobre
como vai ser a nova escola. E a nova escola vai ter que integrar as
novas tecnologias, os dispositivos móveis. Alunos e docentes vão
ter que conviver com essa nova realidade de aprender e ensinar.
O medo da mudança faz parte do ser
humano, mas a ousadia transforma o mundo. Certamente que não é com
o estalar dos dedos que tudo isto muda. Mas a rapidez com que o
mundo digital se move é bem superior à que há 500 anos aconteceu
com o livro. Tudo muda, dia a dia, hora a hora. Um smartphone faz
tudo, menos tostas mistas. Tira fotografias, faz vídeos, acede à
internet, guia-nos pelas estradas, permite-nos comunicar por vídeo,
traz-nos conhecimento. E o melhor de tudo é que até dá para
telefonar! Mas afinal não era essa a missão dos telemóveis?
Telefonar. Era mas já não é. É tudo o resto. São os chats, os sms,
etc. Será que temos que viver um mundo fora e outro dentro da
escola?
Tudo evolui. Acontece que hoje
atingimos uma velocidade cruzeiro muito elevada. E a escola não
deve ficar para trás. Não é com decretos que tudo se muda (embora
se os dispositivos móveis fossem aceites na escola seria mais
fácil), a sociedade, os alunos, os docentes vão encarregar-se de
transformar a escola. Com ponderação, exigência, inovação. Porque
não há como fugir à realidade. E a realidade é esta. Está aí e muda
muito depressa.