Bocas do Galinheiro
Um cinéfilo Feliz Natal

Com
mais ou menos luzinhas, o Natal está aí. Depois das "inaugurações"
das iluminações de norte a sul, ficamos à espera dos filmes
alusivos à quadra que soem passar nas televisões. Já não é a
primeira vez que abordamos o tema, mas, confesso, é
irresistível.
Primeiro porque ultimamente não
se fazem muitos filmes de Natal. Ele é o filão dos super-heróis,
com a Marvel à cabeça, a invadirem tudo o que é sala de cinema, os
tempos são de acção, não de contemplação e não se vislumbra nenhum
super qualquer coisa animado de espírito natalício, ou lá perto.
Eles estão cá mesmo para salvar a humanidade, seja lá do que for,
preciso mesmo é aniquilar os maus.
Mesmo assim ainda dei conta de um
filme de Natal este ano. Ainda não passou por cá, nem sabemos tão
pouco se virá, mas para memória futura aqui vai: "Almost Christmas"
(2016), de David E. Talbert, sobre uma família disfuncional que se
reúne para o primeiro Natal depois da morte da mãe, com Kimberly
Elise e Danny Glover. Mais uma comédia sobre o tema, com algum
drama à mistura, como é bom de ver. Ficamos à espera que as
televisões voltem à carga, e, pela enésima vez, passem os filmes do
costume.
Ultimamente a camisola amarela
tem ido para "O Amor Acontece" (Love Actually, 2003), de Richard
Curtis, uma comédia romântica made in England. Mas, é sabido, os
filmes à volta do Natal são um filão, bem aproveitado pelas
televisões, é claro, mas do qual podemos extrair um bem nutrido
lote de boas películas. Desde logo versões do intemporal "Conto de
Natal" de Charles Dickens, da fiel "Scrooge", de Henry Edwards, de
1935, com Sir Seymour Hicks como Scrooge, à também britânica de
Ronald Neame, de 1972, em que o velho avarento é Albert Finney,
acolitado por um fantasmagórico Sir Alec Guiness, passando pela
notável "The Muppet Christmas Carol", de 1992, com um muito humano
Michael Caine como Scrooge. Se a história de Dickens é um hino ao
espírito natalício, que dizer do filme de Frank Capra, "Do Céu Caiu
Uma Estrela" (It's a Wonderful Life, 1946), seguramente o filme
mais passado no Natal pela televisões, e não sou eu que o digo, em
que o anjo Clarence, já com 293 anos, mas ainda sem asas, para as
ganhar faz ver a James Stewart quão bom é viver e que ainda pode
tornar aquele Natal o melhor da sua vida e dos que o rodeiam. Um
milagre dá sempre jeito.
Depois, depois há um sem número
de filmes em que o tema é recorrente. Um deles é "How The Grinch
Stole Christmas", 2000, de Ron Howard, sobre a popular
personagem criado por Dr. Seuss, o monstro verde, personificado por
Jim Carrey, a quem a alegria dos habitantes da cidade pelo Natal o
intrigava e que ao chegar a Whoville para dar a sua visão pessoal
do Natal, conhece a pequena Cindy Lou Who, com algumas dúvidas
sobre o acontecimento. Noutro registo "Santa Claus: The
Movie", 1985, de Jeannot Szwarc, com Dudley Moore, um dos
muitos Santa Claus movies, alguns tão estapafúrdios como "Santa
Claus Conquers the Martians", 1964, de Nicholas Webster, e "Sozinho
em Casa", de Chris Columbus, 1990, ou como uma família que vai
passar o Natal a Paris se pode esquecer de um filho em casa, o puto
gostou da aventura e quis repetir noutro Natal, fita exaustivamente
repetida nos nossos pequenos écrans. Agora que o Trump foi eleito,
se calhar temos que gramar com os dois. Ou não, vamos ver.
Natal diferente é também o de
Jack no "O Estranho Mundo de Jack", um filme de animação realizado
por Tim Burton em 1993, em que rapta o Pai Natal e transforma os
brinquedos em pequenos monstros. Um verdadeiro pesadelo antes do
Natal. Pesadelo é também o que passa Arnold Schwarzenneger em
"Jingle All The Way", 1996, de Brian Levant, à procura dum há muito
esgotado boneco Turbo Man, na véspera de Natal, que havia prometido
ao filho. Um dos filmes para a época, mas com pouca graça.
Mas se quisermos apostar no filão
da animação, não há série que não tenha o seu episódio natalício.
Aí a escolha é quase infinita, de Charlie Brown que já em 1965,
desgostoso com o consumismo da quadra, quer conhecer
verdadeiramente o significado do Natal!, a "Mickey's Once Upon a
Christmas".
Sendo caso disso, bons filmes,
Feliz Natal e Bom Ano Novo!
P.S.: Morreu Alberto Seixas
Santos, no passado dia 10. Nome maior do Cinema Novo Português,
membro do Centro Português de Cinema, a nossa "fábrica" de bom
cinema do princípio dos anos 70 do século passado, ainda em
ditadura, até depois do 25 de Abril de 1974. Da geração
cineclubista, estreia o seu primeiro filme, e o mais marcante da
sua filmografia, em 1975 "Brandos Costumes", cuja produção já se
iniciara há alguns anos. Mais uma perda para o cinema português e
mais um de uma geração marcante, que nos deixa.
Luís Dinis da Rosa
DisneyTM