primeira coluna
Cumpridores de promessas…
Anualmente, na hora de se discutir e
apresentar o Orçamento do Estado, as instituições de ensino
superiores são confrontadas com ameaças ao seu bom funcionamento.
Provavelmente muitas das questões lançadas pelas universidades e
politécnicos já poderão estar ultrapassadas quando esta edição do
Ensino Magazine for publicada. Contudo, não são admissíveis os
cortes sucessivos que as instituições de ensino superior públicas
estão sujeitas anualmente. Aumenta o custo de vida, mas diminui-se
aquilo a que elas têm direito.
A tradição parece ser regra. Com uma
mão o Governo fala na qualificação dos portugueses, articula com
universidades e politécnicos essa mesma exigência. Com outra
retira-lhes meios financeiros. E assim tem sucedido, seja qual for
o governo em funções. A tutela educativa dá abertura a reforço de
meios financeiros e à reposição daquilo a que universidades e
politécnicos, por força da lei, tiveram que gastar. A tutela das
finanças, que na hierarquia do Governo manda mais, faz o contrário
e quem tem uma boa gestão e tenha saldos que os utilize para fazer
face às despesas. As receitas próprias das instituições, como as
resultantes das propinas pagas pelos alunos, das prestações de
serviços à comunidade e empresas, acabam por ser aplicadas em
despesas correntes, em vez de o serem em projetos a favor dos
alunos, como as propinas assim o pressupõem.
Este sub financiamento tem levado à
contestação de muitas universidades e politécnicos. A Universidade
da Beira Interior teve a coragem de não apresentar orçamento à
tutela, por considerar incorretos os valores. O Conselho
Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos também já tomou
posição firme, o mesmo acontecendo com o Conselho de Reitores. As
receitas próprias deveriam dar mais autonomia às instituições, mas
em vez disso apenas lhes permitem sair do vermelho, e as que têm
saldos positivos não os podem utilizar como seria o seu desejo.
Todos os anos o disco gira e a
música é a mesma. Depois, com o decorrer da mesma, a letra vai-se
mudando e, pontualmente, vão-se arranjando formas de financiamento,
a que chamam de suplementar, mas que de suplementar nada tem, pois
para muitas instituições, continua a ser insuficiente, até porque a
Assembleia da República aprovou decisões que implicam o aumento das
despesas.
É triste que as universidades e politécnicos, todos os anos,
tenham que vir à praça pública exigir aquilo a que têm direito. É
uma ladainha que nos deve entristecer a todos e que nos deve levar
a refletir sobre o que queremos para o país. Em matéria de
financiamento deve haver rigor absoluto. Mas também exigência,
resultados, coesão territorial. Compreendo que o financiamento das
instituições de ensino superior público não seja um assunto
pacífico entre todos, que não seja de fácil resolução. Mas numa
coisa todos estaremos de acordo, este ping-pong público com a
tutela só desgasta as instituições e não beneficia ninguém. Pelo
contrário, retira-lhes credibilidade perante a opinião pública. E
os reitores das universidades e os presidentes dos politécnicos, ou
as suas comunidades académicas, que assumiram o compromisso, com o
Governo, de aumentar a qualificação dos portugueses não podem ser
utilizados como meros cumpridores de promessas…