Politécnico da Guarda
Das montanhas ao automóvel
O
Dia do Instituto Politécnico da Guarda (IPG), assinalado a 6 de
dezembro, ficou marcado pelo anúncio de dois projetos já em curso:
a criação do Geoparque Estrela (candidatura já entregue na Unesco)
e a ambição da Guarda se tornar um centro de excelência na
indústria automóvel. Constantino Rei, presidente do IPG, sublinhou,
no seu discurso, estes dois aspetos em que o Politécnico está
envolvido, e que foram também destacados pelo presidente da Câmara
da Guarda, Álvaro Amaro, e pela vice-presidente da autarquia de
Seia.
A criação de um centro de excelência para o setor automóvel está,
no entender de Constantino Rei, a dar passos importantes
resultantes do trabalho que tem sido realizado em colaboração com a
Camara Municipal e quatro empresas do setor automóvel, a saber: a
Sodecia, Coficab, Dura e ACI. "Se no imediato estamos empenhados em
apresentar à DGES a proposta de criação de um curso de Técnico
Superior Profissional construído para dar uma resposta direta às
necessidades de formação deste conjunto de empresas, o sucesso
desta iniciativa poderá e deverá catapultar o IPG para se afirmar
como um pólo formativo de excelência nesta área tão carenciada para
a região e para o país".
No seu último ano de mandato, Constantino Rei diz que "não será
certamente sob a minha liderança que o projeto se concretizará na
totalidade, mas ficam lançadas as bases e o desafio para, como foi
anunciado pelo Presidente da Camara da Guarda, para criarmos
um centro de excelência para a indústria automóvel e porque não,
reabrir o curso de Engenharia Mecânica no IPG, dando assim uma
resposta de maior valor acrescentado às necessidades formativas
destas e outras empresas". Sobre esta matéria, o presidente do IPG
espera resposta positiva da Comissão de Coordenação de
Desenvolvimento (CCDRC). "Esperamos no entanto que as entidades
competentes pela gestão dos fundos operacionais, tenham um olhar
diferente para as regras que orientam o financiamento destes
cursos. Ninguém, certamente ninguém, compreende que um curso, como
o de Testes de Software, construído em resposta ao desafio lançado
por uma empresa de referência (a ALTRAN), que tem participado
ativamente na sua lecionação, e do qual saíram, na 1ª edição, 11
diplomados, dos quais 10 assinaram no final do estágio um contrato
de trabalho com a empresa, não seja merecedor de financiamento
comunitário", disse aludindo à presença da presidente da CCDRC, Ana
Abrunhosa, que na sua intervenção sublinhou a perseverança de
Constantino Rei.
A apresentação da candidatura à Unesco para a criação do geoparque
na Serra da Estrela foi outro dos momentos importantes da
cerimónia. O projeto foi apresentado por Gonçalo Fernandes e
Emanuel Castro. Constantino Rei recordou que o projeto foi lançado
há dois anos no Dia do IPG, tendo sido "celebrado o acordo entre os
nove municípios abrangidos pela Serra da Estrela (Guarda, Seia,
Covilhã, Belmonte, Manteigas, Celorico da Beira, Gouveia, Fornos de
Algodres e Oliveira do Hospital), o IPG e a UBI, para a
apresentação da candidatura da Serra da Estrela a Geopark da
Unesco. O IPG lançou a ideia, assumiu a responsabilidade de liderar
o projeto, os municípios responderam afirmativamente e financiaram
a atividade. Aqui estamos hoje para prestar contas: cumpriu-se,
como foi assumido, a 1ª etapa com a entrega já efetuada no passado
mês, do dossier da candidatura".
No entender de Constantino Rei, "este projeto, que, se todos nos
mantivermos empenhados, marcará o futuro desta região, ficará
também na história deste Instituto, como símbolo do nosso empenho e
envolvimento na construção de um futuro coletivo que todos queremos
seja de esperança e confiança. Devemos, todavia, estar conscientes
que o projeto ainda está no seu início: a valorização da Serra da
Estrela como âncora do desenvolvimento desta região exigirá um
empenho, envolvimento e uma responsabilidade coletiva, na qual os
municípios envolvidos são os atores principais. Este empenho e
confiança dos municípios foi reforçado e reafirmado na última
assembleia da Associação Geopark Estrela, pelo que só podemos estar
confiantes no sucesso deste projeto".
Constantino Rei lembrou que "o papel do IPG neste domínio foi
igualmente reconhecido pelo Governo ao criar a rede de investigação
em ecossistemas de montanha, denominada «Montanhas de Conhecimento.
Rede Nacional de Investigação de Montanhas», no qual a Serra da
Estrela constitui um dos projetos-piloto, liderado pelo IPG". Por
outro lado, diz, "a participação do IPG no projeto de criação do
Laboratório Colaborativo "Montanhas de Investigação" liderado pelo
Politécnico de Bragança, é igualmente ilustrativo do reconhecimento
do papel que o IPG tem vindo a desempenhar, constituindo mais um
elemento que contribuirá, esperamos, de forma ativa para o
desenvolvimento desta região e para a afirmação do IPG e dos seus
professores e investigadores na comunidade científica
nacional".
O presidente do IPG abordou também a questão do aumento do número
de alunos na instituição. "Ao nível do concurso nacional de acesso,
tivemos um ano de 2017/18 marcado por um significativo acréscimo de
novos alunos: o resultado do conjunto das 3 fases colocou-nos, em
termos de taxa de ocupação de vagas, na liderança dos Politécnicos
do interior. Este resultado, esperançador, não deve todavia
ser possível de repetir por muitos mais anos. Todos os estudos e
projeções demográficas apontam para um futuro muito mais sombrio.
Está mais que provado que havendo candidatos em número adequado com
a oferta, todos podemos sobreviver, mas prevendo-se uma diminuição
significativa do nº de jovens a ingressar no ensino superior, a
manutenção do nível de oferta atual implicará um forte golpe na
sustentabilidade de algumas instituições, a começar pelas situadas
em regiões como a nossa".
Por isso, diz, é necessária "uma reforma do ensino superior, que
deveria passar pela racionalização da oferta formativa e das
instituições. Nada aconteceu, como estou certo nada acontecerá nos
anos mais próximos. Andamos aflitos com as questões orçamentais,
entretidos, reclamando doutoramentos e alterações das designações
das instituições, esquecendo que para alguns de nós o que está em
causa, num futuro não muito distante, é a nossa sobrevivência". As
críticas do presidente do IPG vão mais longe: "introduziram-se, em
substituição dos Cursos de Especialização Tecnológica os atuais
Cursos Técnicos Superiores Profissionais: uma operação de cosmética
que não trouxe benefícios visíveis".
As questões orçamentais também não passaram ao lado do discurso de
Constantino Rei: "são conhecidas, e repetem-se anos após anos, as
dificuldades financeiras de algumas instituições. Convivemos e
pactuamos com sucessivos governos que por um lado tomam (sem
questionarmos a sua legitimidade), decisões políticas que têm como
consequência um aumento da despesa que assim nos é imposta sem que
todavia tenham esses mesmos governos a coerência de reforçar o
orçamento das instituições. Por isso, mais do que
continuarmos a ser solidários uns com os outros, devemos exigir que
o governo assuma a responsabilidade de resolver os problemas que,
na sua maioria, foram criados pelo atual e pelos anteriores
governos. Assim, para resolver os problemas de desequilíbrio
financeiro estrutural, devemos antes reivindicar a celebração de
contratos-programa que, no essencial, responsabilizem ambas as
partes: instituições e governo".
O presidente do IPG diz que as suas piores suspeitas se
concretizaram: "o Governo, através do Ministério das Finanças disse
às instituições que têm saldos que paguem a fatura destas
alterações legislativas através das suas próprias reservas. Tal
como agradeço a solidariedade dos meus colegas quando acederam à
constituição do fundo comum, retirando uma parte dos seus próprios
orçamentos para acudir aos mais aflitos, tenho que ser solidário
com todas as instituições que são afetadas por esta decisão.
Estamos a falar de um montante global de 4.824.583 de euros, que o
governo se comprometeu, por escrito, a pagar e que agora se recusa
a cumprir".