Editorial

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A paisagem educativa europeia

João Ruivo

De entre um extenso conjunto de objectivos, os Estados têm atribuído aos sistemas educativos europeus uma tarefa comum: a de transmitir o saber através de diversificados instrumentos, procedimentos e processos, para que o educando se insira na cultura do seu país e salvaguarde o seu património cultural, cujo principal suporte é a língua. E é precisamente este um dos aspectos em que se detecta o paradoxo de algumas políticas educacionais no seio dos países que constituem a União Europeia.
É indiscutível que uma boa parte da história e da cultura dos últimos séculos são comuns à generalidade dessas nações europeias. Mas não é menos verdade que as tradições, a língua, os costumes e, até, as religiões constituem uma rica diversidade. Logo, a cultura europeia revela-se como um mosaico cujos componentes são a própria garantia da riqueza cultural desta "união", já que esta riqueza se alicerça tanto em valores de ressonância universal, quanto no património cultural e linguístico de algumas pequenas regiões.
Reconhece-se que a dimensão europeia da educação se objectiva, precisamente, neste tomar de consciência da cultura própria da Europa, no contexto das suas diversidades. Aceita- -se, no terreno linguístico que, a par do ensino das línguas "maioritárias", se deve fomentar a aprendizagem das línguas "minoritárias" e, mesmo, as de cunho mais "regional". E são muitos os programas que se criaram para o apoio dos professores e das escolas que quisessem adoptar uma estratégia cultural de diversificação e de respeito pelas diferenças culturais.
Genericamente, é neste contexto que surgem as continuidades e semelhanças da paisagem educativa europeia. Todavia, nestas quase duas décadas do novo milénio, emergem muitos e novos elementos que irão modificar, pouco a pouco, aquela fisionomia, já que vários desses fenómenos se encontram relacionados com a globalização dos mercados, a mobilidade dos cidadãos, a aceleração das mudanças tecnológicas e a ruptura com os canais tradicionais de acesso à informação.
Há muito que a cultura anglo-saxónica, sob as mais variadas formas (língua, música, moda, hábitos alimentares, usos e costumes...), corre o risco de se transformar numa cultura hegemónica, face à diversidade europeia. Mas é, sobretudo, face às novas tecnologias da informação e da comunicação que a função educativa se encontra na emergência de uma séria redefinição dos saberes e dos processos que ajudam à sua transmissão.
A informatização de todos os sectores de actividade, as auto-estradas da informação, a democratização da internet, o endeusamento das redes sociais…, colocam a educação e os educadores face a novas fontes do saber, cuja natureza oscila entre o que é o conhecimento e o que é a simples informação, entre os "velhos" métodos de trabalho na sala de aula e o domínio escolar dos mais recentes "tecnicismos", o que induz a busca de novas estratégias de actuação, a procura de novas culturas profissionais e a descoberta de mais aptos caminhos que aproximem os alunos da aprendizagem dita formal.
No actual contexto, os sistemas educativos europeus não poderão alhear-se de uma formação que incorpore a oferta de informação e formação nas tecnologias digitais, bem como as competências necessárias à sua utilização e divulgação.
Este novo sintoma de multiculturalismo, gerador de novas diversidades sociais e culturais, carrega consigo, também, uma outra necessidade de revisão e de redefinição do tradicional funcionamento dos sistemas escolares, em geral, e, em particular, da actuação dos professores e dos educadores na sala de aula.
Ninguém, hoje, ignora este desafio. Porém, entre a tradição e a renovação há que ser muito prudente. É que nunca deveremos esquecer que uma escola completamente submergida pelo tecnicismo pode levar a esquecer que a principal finalidade da educação continua a ser, em nosso entender, a procura dos caminhos do humanismo.

 
 
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