O futuro da Escola
Onde está o futuro da Escola? Está nos
jovens, nas crianças e nos pais que todos os dias a procuram; na
população adulta que quer saber mais; nos desajustados que desejam
ser reconvertidos; nos arrependidos que cobiçam reiniciar um novo
ciclo da sua vida; nos que não tiveram oportunidade (porque a vida
também sabe ser madrasta) e agora buscam o alimento do sucesso; na
sociedade e no Estado que já não sabem (e não podem…) viver sem ela
e, sobretudo, pressente-se nos professores e educadores que são a
alma, o sal e o sangue de que se faz todos os dias essa grande
construção colectiva.
A Escola é uma organização muito
complexa…É paixão e movimento perpétuo. É atracção e remorso. É
liberdade e prisão de sentimentos contraditórios. É mescla de
angústias e espontâneas euforias. É confluência e rejeição. É
orgulho e acanhamento. É todos e ninguém. É nome e chamamento. É
hoje um dar e amanhã um rogar. É promoção e igualdade. É mérito e
inveja. É jogo e trabalho. É esforço, suor e emancipação. É
convicção e espontaneidade. É responsabilidade e comprometimento
com todos os futuros. É passado e é presente. É a chave que abre
todas as portas das oportunidades perdidas. É acolhimento,
aconchego, colo e terapia. É a estrada do êxito, mas também um
percurso inacabado, que nos obriga a voltar lá sempre, num fluxo de
eterno retorno.
Porém, também acontece muitas vezes
ser o pião das nicas, o bombo da festa, o bode expiatório, sempre e
quando aos governos dá o jeito, ou lhes apetece.
Sobre a Escola, há governantes que
aprenderam a mentir: sabem que ainda não foi inventada qualquer
instituição que a possa substituir. Sabem ainda que os professores
são os grandes construtores de todos os amanhãs. E, por isso, têm
medo. Medo, porque a Escola é das poucas organizações que todos os
governantes conhecem bem. Habituaram-se a observá-la por dentro,
desde a mais tenra idade. E, por essa razão, sabem-lhe o poder e a
fatalidade de não ser dispensável, silenciável, transferível,
aposentável, exonerável ou extinguível. Então, dizíamos, têm medo
e, sobre ela, mentem.
Mentem sobre a Escola e sobre os
professores. Todos os dias lhes exigem mais e dizem que fazem
menos. E não é verdade.
Em relação à Escola e aos
professores, a toda a hora o Estado, a sociedade e as famílias se
descartam e para aí passam cada vez mais responsabilidades que não
são capazes (ou por comodismo não querem…) assumir. Hoje, a Escola
obriga-se a prevenir a toxicodependência, a educar para a
cidadania, a formar para o empreendedorismo, a promover uma cultura
ecológica e de defesa do meio ambiente, a motivar para a prevenção
rodoviária, a transmitir princípios de educação sexual, a
desenvolver hábitos alimentares saudáveis, a prevenir a Sida e
outras doenças sexualmente transmissíveis, a utilizar as novas
tecnologias da comunicação e da informação, a combater a violência,
o racismo e o belicismo, a reconhecer as vantagens do
multiculturalismo, a impregnar os jovens de valores socialmente
relevantes, a prepará-los para enfrentarem com sucesso a
globalização e a sociedade do conhecimento, e sabe-se lá mais o
quê…
Acham pouco? Então tentem fazer
mais e melhor… E, sobretudo, não coloquem a auto estima dos
professores abaixo dos tornozelos com a divulgação pública de
suspeitas infundadas e eticamente inadmissíveis.
É que não há Escola contra a
Escola. Não há progresso que se trilhe contra os profissionais da
educação. Não há políticas educativas sérias a gosto de birras e
conjunturas que alimentam os egos pessoais de alguns governantes.
Não há medidas que tenham futuro se não galvanizarem na sua
aplicação os principais agentes das mudanças educativas: os
educadores e os professores.
O futuro da Escola está para lá das
pequenas mediocridades e dos tiques de arrogância que algumas
circunstâncias sustentam.
A Escola, tal como a conhecemos, é uma invenção recente da
humanidade. Mas não é um bem descartável, de uso tópico, a gosto de
modas e de pseudo conveniências financeiras e orçamentais. A Escola
vale muito mais que tudo isso. Vale bem mais do que aqueles que a
atacam. Vale por mérito, por serviço ininterruptamente prestado,
socialmente avaliado e geracionalmente validado. Por tudo isso, a
Escola tem muito e indiscutível futuro