Politécnico

Joaquim Mourato, presidente do IPPortalegre
Politécnico é o motor da região

joaquim mourato.jpgO Instituto Politécnico de Portalegre (IPP) foi pioneiro na certificação de qualidade dos seus serviços. Joaquim Mourato, presidente da instituição, explica a importância dessa certificação e sublinha o facto do IPP ser uma das principais alavancas para o desenvolvimento do Distrito. Em entrevista ao Ensino Magazine, aquele responsável lembra que na reorganização da oferta formativa no nosso país é perigoso compararem-se instituições e regiões com características totalmente diferentes. 

O Instituto Politécnico de Portalegre foi pioneiro na obtenção de certificações de qualidade dos seus serviços. Porque é que decidiram apostar nessa área? 

Este é um projecto que vem de 2006, tendo obtido a primeira certificação em 2008 (ISO9001) e a segunda em 2011 (norma 4669). Entendemos que as instituições do interior do país, sobretudo as de cariz politécnico, devem fazer o seu caminho de modo a que as pessoas não vejam o ensino politécnico como um ensino de segunda qualidade. O ensino politécnico é diferente do cariz universitário, pelo que procurámos inovar. E a questão da qualidade foi uma aposta nossa e uma bandeira para o instituto. A prova que estávamos certos nessa aposta, é a de que muitas outras instituições têm procurado certificar-se.

Essa inovação de que fala, abrange também as ofertas formativas? 

Claro que sim. E nós fomos inovadores em várias áreas, como a enfermagem veterinária (na altura único em Portugal e rapidamente replicado por outras instituições de ensino, não havendo da parte da tutela o cuidado de limitar o aparecimento de mais cursos idênticos, o que levou à saturação do mercado), ou a equinicultura. Ou seja procuramos afirmarmo-nos em determinadas áreas. Estamos também a apostar na energia ligada à biomassa. Fomos também das primeiras instituições a fazê-lo, mesmo ao nível do mestrado, e estamos a concretizar o projecto bio-energia, integrado no Parque de Ciência e Tecnologia do Alentejo.

Esse será um dos projectos âncora para o desenvolvimento regional?

É um projecto de quatro milhões e meio de euros. Temos a aprovação do plano estratégico e já em Março vamos avançar com o concurso público para a sua construção. Este projecto ocupará uma área superior a mil metros quadrados cobertos, anexado a uma incubadora de base tecnológica. Este será um projecto muito importante para toda a região. Queremos ser fortes na área da biomassa. Temos uma relação muito forte com a Galp Energia, com a qual estamos envolvidos no projecto de segunda geração para os biocombustíveis, avaliado em dois milhões e meio de euros. Um projecto onde a Galp pretende incorporar nos combustíveis, até 2020, pelo menos 10% de origem vegetal. Isso vai obrigar a uma grande produção de culturas energéticas. A produção está a ser feita no Brasil e em Moçambique, sendo que no país africano é um docente nosso (Gonçalo Barradas) o responsável pela produção. O nosso papel passa por liderar a fase do aproveitamento energético dessas culturas, o que será feito em colaboração com o Instituto Superior de Agronomia.

Além disso, têm sido feitos vários estudos ao nível da biomassa…

Temos uma central de biomassa que tem permitido realizar e investigar o aproveitamento energético de vários produtos, como o soro do queijo e as borras de café (com a Delta), por exemplo. Esta é uma área muito importante para toda a região. Estamos a estabelecer laços com instituições de ensino internacionais nesta área. 

O que acontece muitas vezes é que por vezes se inova e outras instituições seguem o mesmo caminho algum tempo depois… 

A bandeira da qualidade surge no sentido da diferenciação, de apostarmos em sectores que nos possam diferenciar. Acontece que a orientação do ensino superior em Portugal não tem sido favorável a esta estratégia, pois tem permitido tudo, autorizando a replicação de determinadas iniciativas e ofertas. Isso faz com que haja instituições que não tenham investido nada em determinadas áreas e no ano a seguir copiam. Como essas instituições estão onde há mais gente acabam por fixar nessas regiões as pessoas.

É necessário, portanto, reajustar a oferta formativa no plano nacional? 

Há espaço para todos, mas é necessário um ordenamento por especializações. Neste momento a realidade do mapa do ensino superior em Portugal é o seguinte: no interior do país, de Bragança a Beja existe 10% do total do ensino superior português e no litoral estão os restantes 90%., sendo que em Lisboa, Porto e Coimbra estão 52%. Quando se fala em rede de ensino superior, surge a ideia que há ensino superior a mais e olha-se logo para o interior do país, havendo a tentação de reduzir nos 10%. Ora o bom senso recomenda que para haver equilíbrio, onde se deve reduzir é no litoral. Portanto a rede de ensino superior que defendemos é a de um equilíbrio maior em todo o país. Em Portalegre as instituições de ensino superior mais próximas estão a cerca de 100 quilómetros. Em Lisboa, de cinco em cinco quilómetros, existe uma instituição!

É claro que nós também devemos fazer o nosso caminho, e por isso também reactivámos a Politécnica (associação dos Politécnicos do Centro) para entre todos racionalizarmos os recursos, evitar replicação de oferta formativa, e nos especializarmos. Agora, em termos nacionais há um desequilíbrio de 90 para 10%. A tutela não se pode demarcar desta situação. Esta é uma questão política, dizendo que quer manter o ensino superior no interior. E isso faz-se controlando a oferta de vagas. Basta que no próximo ano lectivo o número de vagas não seja superior ao número de candidatos. No último ano houve oito mil vagas a mais! Isto fez com que as instituições do litoral acolhessem os jovens do litoral e muitos do interior do país. Se fizessem um equilíbrio de vagas todas as instituições são sustentáveis. O Politécnico de Portalegre poderia receber mais mil alunos sem receber mais dinheiro do Orçamento de Estado.

Ao nível da oferta formativa, haverá novidades para o ano?

Neste momento estamos a fazer uma auto-avaliação de todos os nossos cursos. É provável que haja alguns cursos que não vamos apresentar e o número de vagas também irá diminuir. Contudo, esta reflexão está a ser feita numa lógica de rede. Mas volto a frisar: o Ministério tem que dizer aquilo que quer, qual a direcção que devemos escolher, que ensino superior quer! De outra forma corremos o risco de cada instituição trabalhar num determinado caminho e correr o risco de chegar ao fim e ser confrontada com outra posição do Governo.

O IPP é uma das principais instituições do distrito…

Essa foi uma das questões que nos fez avançar para o projecto de responsabilidade social. Entendemos o IPP como uma instituição que ultrapassa a missão de formar, investigar e prestar serviços. O Politécnico está na região menos populosa do país. No último ano concorreram apenas 394 estudantes, em todo o distrito, ao ensino superior. O nosso concelho tem 24 mil pessoas, e os que estão à sua volta têm cerca de três mil pessoas. Ou seja, estamos numa zona em que o problema mais grave é a falta de pessoas, pelo que o IPP chama a si a responsabilidade de participar e trabalhar em prol das pessoas e da região. Nós fazemos sessões de cinema e promovemos exposições. Temos o único centro de línguas da cidade e estamos associados a várias entidades, como o banco alimentar ou a Comunidade Intermunicipal. Ou seja, a nossa intervenção é muito ampla. Para além disso, uma em cada cinco pessoas da cidade faz parte da comunidade académica do instituto. Isto representa um impacto enorme em todos os aspectos e significa que o investimento efectuado no IPP tem retorno para a região.

Ao nível da qualificação do corpo docente, qual é o objectivo do IPP?

Nessa área disponibilizámos apoio a todos os docentes que quisessem apostar na formação avançada. Temos cerca de 1/3 dos nossos docentes a ser apoiados. Em 2009 tínhamos 13% de doutorados, hoje esse número ultrapassa os 27%, e no final de 2012 teremos mais de 30%. A nossa expectativa é a de que em 2014 tenhamos 50% do corpo docente doutorado e mais de 10% de professores especialistas. Esta era uma aposta fundamental e os resultados são muito positivos, pois os professores têm trabalhado muito bem.

 
 
 
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