Consolidar a pensar no futuro
O Instituto Politécnico de Setúbal está a preparar
o seu Plano Estratégico para os próximos anos. Armando Pires, o seu
presidente, refere ao Ensino Magazine que a aposta passa pela
consolidação da instituição. Em entrevista, o também
vice-presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores
Politécnicos fala das parcerias entre instituições, da
internacionalização e da questão das vagas.
O IPS
está a preparar o seu novo plano estratégico. Quais as linhas
orientadoras?
Neste momento o Plano não está na
fase de ser divulgado, pois ainda nem foi discutido em Conselho
Geral. Trata-se de um Plano que aponta na consolidação do
instituto, em diferentes áreas, como a relação com o exterior e com
a região em que nos inserimos; a oferta formativa e investigação
(com uma melhor interligação entre estas duas áreas), a
internacionalização, ou a qualificação dos nossos recursos. Não é
um documento de rotura. A memória das instituições é importante
para aquilo que podem vir a fazer.
Cabe à
A3ES - Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior
aprovar novas ofertas formativas. Foi apresentada alguma nova
proposta para o próximo ano letivo?
Apresentámos uma proposta na área
da engenharia mecânica, no domínio da aeronáutica. Ao nível dos
mestrados apresentámos dois mestrados: um em conjunto com a
Universidade do Algarve, em engenharia civil, e outro na área da
saúde em Cuidados Paliativos em fase de avaliação.
E no que
respeita a doutoramentos, há projetos para algum tipo de parcerias
com universidades?
Existem áreas em que isso pode
acontecer, mas ainda não temos nenhum doutoramento em parceria com
universidades. Neste momento, aquilo que temos é mestrados em
conjunto com as universidades do Algarve e Nova de Lisboa, nas
áreas da saúde e das engenharias.
Abordou a
questão das engenharias, esta é uma área que o país necessita, mas
que não tem tido muitos candidatos. Como é que isso se pode
inverter?
É um problema de europa, onde há
escassez de engenheiros. A matemática e física são sempre dois
obstáculos para os alunos candidatos. Em Portugal, este ano,
introduziu-se essas disciplinas como obrigatórias, o que
condicionou a número de candidatos no concurso nacional de acesso.
Isto aconteceu tanto nos politécnicos e como nas universidades.
Para se inverter esta situação, teremos que intervir mais cedo,
tentando aliciar as crianças e os jovens para a ciência, e tornar a
aprendizagem da matemática e da física mais aliciante. Mas este é
um problema que a própria Alemanha está a sentir, pois tem falta de
engenheiros.
Mas esse
é um trabalho que leva tempo. E no presente?
Não há razão para termos a
matemática e a física como disciplinas obrigatórias para o acesso a
licenciaturas e mestrados integrados de engenharia. Nas
licenciaturas, por exemplo, poderia exigir-se uma ou outra
disciplina. No passado não houve queixas sobre a formação dos
diplomados que entraram com a matemática ou a física. Não se
entende a introdução desta dificuldade extra, pois as instituições
têm sabido formar os seus alunos e compensar algum défice que os
alunos possam ter.
O número
de candidatos ao ensino superior tem diminuído. Que novos públicos
se podem procurar, numa altura em que o concurso > 23 tem uma
expressão menor?
Os > 23 não têm a expressão
que já tiveram. Mas ainda assim, fomos a instituição politécnica
onde mais alunos (mais de 300) ingressaram através desse concurso.
Isso deve-se também à divulgação e ao trabalho que fazemos para que
isso aconteça. Temos formações adequadas e em horário pós-laboral.
Mas ainda há aspetos a melhorar.
O ensino profissional pode ser
outro espaço em que podemos intervir. Essa ligação é importante,
pois os politécnicos têm um ensino profissionalizante. Numa outra
perspetiva, temos feito uma forte aposta nos cursos de
especialização tecnológica - este ano ultrapassámos os 300
alunos.
A
internacionalização é um dos eixos estratégicos do IPS. O que é que
está a ser feito?
Ao nível da mobilidade de alunos
e docentes/não docentes temos contado com os programas Erasmus e do
Banco Santander/Totta. Para além disso, temos promovido a semana
internacional do IPS, a qual conta com a participação de pessoas
provenientes de instituições nossas parceiras de outros países.
Este ano a semana decorrerá em março e terá a presença de 30
parceiros europeus (dos quais 16 são funcionários não docentes, que
virão para formação). Temos feito uma forte aposta nesta área, e 7%
das pessoas da nossa instituição já tiveram uma experiência
internacional. Um número que queremos fazer crescer.
E ao
nível da investigação, há também essa preocupação em desenvolver
projetos internacionais?
Sim, temos projetos no âmbito do
Quadro Comunitário de Apoio, e projetos internacionais, alguns dos
quais coordenados por nós. Também aqui nesta área, a
internacionalização é importante.
A
qualificação do pessoal docente e não docente tem sido uma aposta
do IPS. As metas estão a ser atingidas?
Tínhamos previsto no nosso plano
estratégico de desenvolvimento que agora terminou, atingir os 50%
de doutorados, e neste momento temos 36% do total de docentes
doutorados, mas se pensarmos nos docentes de carreira temos cerca
de 70%. É uma área importante onde criámos condições, com programas
próprios, para que os docentes tivessem condições para prosseguirem
os seus doutoramentos. Continuamos a fazer este esforço, embora de
uma forma mais seletiva, incidindo sobre as áreas em que estamos
mais deficitários. Em relação ao pessoal não docente, também
consideramos a formação fundamental, desenvolvendo formações ações
dirigidas para uma melhoria contínua para as suas atividades.
Há pouco
abordou a questão das parcerias que o IPS possui com outras
instituições. Tem havido abertura e capacidade por parte dos
politécnicos e universidades para que essa rede seja maior?
Muitas vezes essa capacidade
resulta da necessidade. Estamos ainda um pouco aquém daquilo que é
o desejável para as instituições. Há cerca de oito anos fizemos um
consórcio com o Politécnico de Santarém, a Universidade Nova de
Lisboa - era reitor o professor Leopoldo Guimarães - e o ISPA.
Entretanto, o reitor mudou, e o regime jurídico do ensino superior
também foi alterado, pelo que o consórcio não se concretizou. Pela
situação que o país está a viver é inevitável que as instituições
se entendam, ao nível de parcerias pontuais ou mais permanentes, ao
nível de consórcios ou até mesmo de fusões. No entanto, este tipo
de situações envolvem processos complicados, que sem as orientações
de tutela será de difícil concretização. Nós estamos atentos e já
temos um grupo de trabalho a avaliar eventuais parcerias. Os
próximos tempos serão importantes e iremos assistir a autênticos
testes nesta matéria. Estou curioso para ver como é que as
instituições se vão entender quando terão que abdicar de
determinadas formações para que outros as possam dar, sobretudo
quando têm recursos humanos para o fazer. Esta é uma gestão
difícil, pois, por exemplo, não posso fechar formações numa
determinada área, quando tenho os meus recursos humanos.
Mas será
sempre melhor as instituições entenderem-se do que o Ministério a
decidir?
Mas a tutela terá sempre que dar
orientações. Fazer algo contra as instituições não resultará.
Esta
questão leva-nos às vagas de acesso ao ensino superior…
E essa é uma questão muito
abrangente e que está na ordem do dia. À volta do concurso nacional
de acesso existe uma grande divulgação mediática, da 1ª fase, que
depois não corresponde à realidade. Nunca se mostra como é que as
instituições ficam em termos de captação de alunos. Ou seja fica-se
apenas com a primeira fotografia da 1ª fase do concurso de acesso.
Mas essa fotografia tem problemas. Por exemplo, o ensino
pós-laboral, ou ensino a distância, que não se destinam ao público
tradicional do concurso nacional de acesso, surgem contabilizados
nas percentagens de entrada. O modo como essas vagas são
disponibilizadas deveria ser repensado. Por outro lado, e tendo em
conta os dados da OCDE, Portugal tem necessidade de aumentar as
vagas no ensino superior politécnico, não só nas licenciaturas como
em formações de curta duração. O país agradeceria o aumento das
vagas no ensino politécnico.
Para além disso, há uma outra
vertente, que está relacionada com as instituições que têm mais
dificuldade em preencher as vagas, nomeadamente no interior. É
indiscutível a importância dessas instituições para o
desenvolvimento dessas regiões. Penso que isso é consensual e não
há qualquer discussão sobre isso, pois a sua importância
sobrepõem-se a tudo o resto. Por isso, não vamos falar no fecho de
instituições no interior do país. A questão é como é que lá
conseguimos por mais alunos. Não basta criar mais vagas, é preciso
dar incentivos de outra forma, por exemplo fiscais. Mas isso não
está nas mãos das instituições. Outro aspeto que considero
importante é o facto das instituições da zona raiana tirarem
proveito da relação com Espanha.