Bocas do Galinheiro
Philip Seymour Hoffman
Quando Cate Blanchett dedicou o Bafta de melhor
atriz, ao "monumento de cinema" Philip Seymour Hoffman,
desaparecido no passado dia 2, todos sentimos que muito
dificilmente o vazio deixado por um dos maiores atores da
atualidade será preenchido. Hoffman foi daqueles atores que, mesmo
que o filme fosse menor, a sua presença não passava despercebida,
tal a força que imprimia à sua representação e à forma como se
impunha. Conseguia tirar sempre mais da sua interpretação, fazendo
de cada filme momentos bigger than life, no caso de Hoffman a
lembrar o filme com o mesmo nome realizado em 1956 por Nicholas
Ray, em que o tema do vício e da dependência são tratados de uma
forma até aí pouco usual, uma vez que a morte do ator se ficou a
dever a uma overdose de heroína, dependência de que já se havia
livrado no passado, mas a que voltou recentemente com o infeliz
resultado que conhecemos. Philip Seymour Hoffman foi encontrado sem
vida no apartamento onde atualmente vivia em Manhattan, Nova
Iorque.
O primeiro filme de Philip
Seymour Hoffman que vi foi "Perfume de Mulher" (1992), de Martin
Brest, em que um grupo de estudantes se vê envolvido num processo
averiguações no colégio que frequentam, por causa de uma partida
que pregam ao reitor, do qual faz parte também Chris O'Donnell,
rapaz de menores posses e que para ganhar uns trocos aceita ser
guia de um coronel reformado do exército, cego, interpretado por Al
Pacino. Claro que aqui o confronto era desigual, mas Hoffman, o
menino rico e filho do papá, consegue fazer-se notar, apesar de o
que lembramos mesmo neste filme é o tango de Al Pacino com
Gabrielle Anwar, para além do seu show de representação, o que é
normal, diga-se, de tal forma que lhe valeu o Óscar para melhor
ator em 1993. O jovem ator Philip S. Hoffman terá aprendido muito,
apesar de durante alguns anos ainda ter percorrido o caminho dos
papéis secundários, mas nos quais, sublinhe-se, conseguia não
passar despercebido.
Nascido a 23 de julho de 1967, em
Rochester, Nova Iorque, filho de Gordon S. Hoffman e de Marilyn
Hoffman Connor, juíza em Rochester, incentivado pela mãe formou-se
em teatro pela New York University's Tisch School of the Arts, em
1989, fazendo a sua estreia no cinema em 1991 em "Triple Bogey on a
Par Five Hole", de Amos Poe. Porém, é com "Jogos de Prazer" (Boogie
Nights, 1997), de Paul Thomas Anderson, que desponta para uma
carreira de grandes êxitos que culmina em 2006 como o vencedor mais
que anunciado do Óscar de melhor ator pela sua interpretação de
Truman Capote que não deu hipótese à concorrência, em "Capote", de
Bennett Miller (2005). Na sua primeira nomeação, neste biopic do
autor de "A Sangue Frio" colocou a fasquia a uma altura recorde e
conseguiu superá-la. Era o ponto alto de um percurso em que se
destacam as suas passagens pelo chamado cinema Indie em papéis tão
variados como os que representou em "Felicidade", (Hapiness,1998),
de Todd Solondz, "O Destino de um Ex-Combatente" (Flawless, 1999),
de Joel Schumacher, ao lado de outro monstro da representação,
Robert de Niro, O Talentoso Mr. Ripley (1999), de Anthony
Minghella, adaptação de Patricia Highsmith, "Magnolia" (1999), de
novo dirigido por Paul Thomas Anderson e também mais uma vez
contracenando com Julianne Moore, "Quase Famosos" (2000), de
Cameron Crowe e "State and Main" (2000), de David Mamet).
Para além do já falado "Capote",
foi nomeado para os òscares de melhor ator secundário nos filmes
"Jogos de Poder" (Charlie Wilson's Story, 2007), de Mike Nichols,
sobre os esforços de um senador americano, Tom Hanks, em ajudar a
guerrilha afegã a combater os soviéticos. Ironias do destino,
sabendo o que a coisa deu, "A Dúvida" (2008), de John Patrick
Shanley, no qual representa um padre acusado por uma freira, Meryl
Streep, de assediar um dos seus alunos e, mais recentemente por " O
Mentor" (The Master,2012), outro de Paul Thomas Anderson, à volta
da cientologia.
Em filmes como "O Grande
Lebowski"(1998), dos irmãos Coen, "O Barco do Rock" (The Boat That
Rocked, 2009), de Richard Curtis, sobre as rádios pirata que
emitiam de barcos ao largo ou "Missão Imppossível III", (2006), de
J.J. Abrams, e mesmo em "Tornado" (Twistert, 1996), de Jan de Bont,
é evidente a sua arte de dar vida a papéis ou filmes menores.
Haveria outros, mas são mais de 50 e não podemos esmiucá-los aqui
um a um.
Este ano deverão chegar às salas
"God's Pocket", de John Slattery, e "A Most Wanted Man", de Anton
Corbijn, adaptação de John le Carré e "A Revolta - Parte I" (The
Hunger Games: Mockingjay-Part 1), de Francis Lawrence, ficando
ainda por estrear a parte 2 "The Hunger Games: Mockingjay - Part
2", ainda não acabado. Vamos ver como sai.
Aos 46 anos este espantoso ator
deixa-nos, como outros antes dele também partiram prematuramente
como John Belushi, River Phoenix, Heath Ledger, para falar só
destes, e todos pelo mesmo motivo.
Ficam sempre os filmes!