Motor

Quatro Rodas
Não vamos ser dogmáticos

DSCN0288.jpgÉ, entre histórias da história do automobilismo, e comentários a situações da actualidade que tenho dividido os conteúdos destas minhas aparições no Ensino Magazine. São já alguns anos em que usando esta fórmula, tenho dado vida a estas colunas, sobre um tema que nem é o core do jornal. No entanto, a cada edição, continuo a esforçar-me por procurar conteúdos que possam prender os leitores durante os minutos que dedicam a estas linhas.

Para preparar os temas, algumas vezes tenho que fazer pesquisa histórica, outras, falo com pessoas que fazem parte da história do automobilismo, mas por vezes, são os temas que nos vêm bater à porta.

O tema que decidi trazer para aqui hoje, tem a ver com história, a actualidade, e mesmo que quisesse desviar-me dele, não conseguia, tal foi a notoriedade que a comunicação social lhe deu.

Desta vez vou escrever sobre aquela medida, do município de Lisboa, para proibir veículos de fabrico anterior a umas determinadas datas, de circularem em algumas ruas da capital.

Tudo isto tem a ver com os problemas das emissões de dióxido de carbono, que parece serem exageradas, nas artérias das chama ZER-Zona de Emissão Reduzida.

Como pessoa interessada, em tudo o que afecta o universo dos automóveis antigos, fiquei logo alerta, e pensei para mim. Como vão proibir os automóveis antigos de circular nas principais ruas da nossa capital, quando por essa Europa fora, se tenta casar o cenário urbano histórico com meios de transporte de outros tempos.

Embora Lisboa não me pareça aproveitar essa oportunidade, para além do famoso eléctrico 28, é uma situação que deve estar na agenda, não vá ser precisa no futuro para revitalizar alguma zona necessitada.

motor.jpgQuando as noticias desta proibição saíram, houve reacções populares contra a medida, com argumentos que até podem ter lógica e que estes regulamentos não previram.

O certo é que para os automóveis de valor histórico, está acertada uma excepção, desde que estes estejam certificados por uma das três entidades nacionais reconhecidas para o fazer.

Mas parece que nem tudo foi acautelado, senão vejam. Portugal é frequentemente visitado por caravanas de eventos de automóveis antigos, com origem noutros países. No ano passado tivemos, por exemplo, o Internacional Meeting dos Porsche 356, onde duzentos modelos desta marca, quase todos estrangeiros, desfilaram pela Avenida da Liberdade, Rua do Ouro e pararam em frente ao Mosteiro dos Jerónimos. Não seria um desperdício proibir estes carros de passar por este percurso?

O certo é que qualquer estrangeiro, com um veículo histórico, não homologado em Portugal, está em contravenção, se passar agora por este percurso.

Não podemos embarcar na crítica fácil a estas medidas ambientalistas, elas são necessárias, mas também não nos podem dar o nó à cabeça, com dogmatismos por vezes inadequados. Tive o privilégio de poder assistir à parada dos duzentos modelos 356 em frente aos Jerónimos e em muitos anos que tenho de automóveis, este foi um daqueles que me cortou a respiração e que verdadeiramente me conseguiu emocionar.

Deixemos pois que os automóveis antigos e os monumentos de Lisboa, nos continuem a emocionar.

Paulo Almeida
Este texto não segue o novo Acordo Ortográfico
 
 
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