Quatro Rodas
Não vamos ser dogmáticos
É, entre histórias da história do
automobilismo, e comentários a situações da actualidade que tenho
dividido os conteúdos destas minhas aparições no Ensino Magazine.
São já alguns anos em que usando esta fórmula, tenho dado vida a
estas colunas, sobre um tema que nem é o core do jornal. No
entanto, a cada edição, continuo a esforçar-me por procurar
conteúdos que possam prender os leitores durante os minutos que
dedicam a estas linhas.
Para preparar os temas, algumas
vezes tenho que fazer pesquisa histórica, outras, falo com pessoas
que fazem parte da história do automobilismo, mas por vezes, são os
temas que nos vêm bater à porta.
O tema que decidi trazer para aqui
hoje, tem a ver com história, a actualidade, e mesmo que quisesse
desviar-me dele, não conseguia, tal foi a notoriedade que a
comunicação social lhe deu.
Desta vez vou escrever sobre aquela
medida, do município de Lisboa, para proibir veículos de fabrico
anterior a umas determinadas datas, de circularem em algumas ruas
da capital.
Tudo isto tem a ver com os
problemas das emissões de dióxido de carbono, que parece serem
exageradas, nas artérias das chama ZER-Zona de Emissão
Reduzida.
Como pessoa interessada, em tudo o
que afecta o universo dos automóveis antigos, fiquei logo alerta, e
pensei para mim. Como vão proibir os automóveis antigos de circular
nas principais ruas da nossa capital, quando por essa Europa fora,
se tenta casar o cenário urbano histórico com meios de transporte
de outros tempos.
Embora Lisboa não me pareça
aproveitar essa oportunidade, para além do famoso eléctrico 28, é
uma situação que deve estar na agenda, não vá ser precisa no futuro
para revitalizar alguma zona necessitada.
Quando as noticias desta proibição saíram, houve
reacções populares contra a medida, com argumentos que até podem
ter lógica e que estes regulamentos não previram.
O certo é que para os automóveis de
valor histórico, está acertada uma excepção, desde que estes
estejam certificados por uma das três entidades nacionais
reconhecidas para o fazer.
Mas parece que nem tudo foi
acautelado, senão vejam. Portugal é frequentemente visitado por
caravanas de eventos de automóveis antigos, com origem noutros
países. No ano passado tivemos, por exemplo, o Internacional
Meeting dos Porsche 356, onde duzentos modelos desta marca, quase
todos estrangeiros, desfilaram pela Avenida da Liberdade, Rua do
Ouro e pararam em frente ao Mosteiro dos Jerónimos. Não seria um
desperdício proibir estes carros de passar por este percurso?
O certo é que qualquer estrangeiro,
com um veículo histórico, não homologado em Portugal, está em
contravenção, se passar agora por este percurso.
Não podemos embarcar na crítica
fácil a estas medidas ambientalistas, elas são necessárias, mas
também não nos podem dar o nó à cabeça, com dogmatismos por vezes
inadequados. Tive o privilégio de poder assistir à parada dos
duzentos modelos 356 em frente aos Jerónimos e em muitos anos que
tenho de automóveis, este foi um daqueles que me cortou a
respiração e que verdadeiramente me conseguiu emocionar.
Deixemos pois que os automóveis
antigos e os monumentos de Lisboa, nos continuem a emocionar.
Paulo Almeida
Este texto não segue o novo Acordo Ortográfico