Joaquim Mourato, presidente do Instituto Politécnico de Portalegre
“Ensino superior é a maior riqueza do país!”
O presidente do Instituto Politécnico de
Portalegre (IPP) defendeu, ao Ensino Magazine, que Portugal deve
ter um ensino superior que promova o desenvolvimento do país.
Joaquim Mourato acrescenta que "devemos ter um ensino superior que
procure ser a riqueza maior do país. Portugal não tem recursos
naturais, como petróleo ou metais preciosos, que lhe possa atribuir
competitividade à escala global. Como não tem esses bens, tem que
ser através da elevada qualificação dos seus recursos humanos que
poderá garantir o sue desenvolvimento sustentável".
O presidente do Instituto
Politécnico de Portalegre, considera que para a existência de um
ensino superior forte e competitivo à escala internacional "que
responda a essas necessidades, não se compadece, desde logo, com o
financiamento, a organização e rede que possui, nem com o apoio que
é dado à investigação e ao desenvolvimento, ou com a falta de
articulação necessária no capítulo da internacionalização".
Joaquim Mourato, que também é
presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores
Politécnicos, considera que aqueles são fatores críticos para que
Portugal tenha o que necessita, de "forma a proporcionar um valor
acrescentado ao país, para que seja atrativo aos investidores, que
capte investimento e empresas de ponta, que consiga ter marcas
próprias etc".
Ora no entender do presidente do
IPP o que sucede é "que olhamos para o ensino superior e
verificamos que estamos abaixo da média dos países da OCDE no que
respeita ao financiamento por parte do Estado, quer ao ensino
superior, quer à investigação". Além disso, diz Joaquim Mourato,
"não basta dizermos que queremos ter um ensino superior muito bom.
Temos que trabalhar para o ter. O que verificamos é que os outros
países não param, apesar de estarem muito melhor que nós, de já
terem, em muitos casos, 50% da população entre os 30 e 34 anos com
formação superior; e de terem parâmetros científicos acima de nós.
Quando olhamos para a questão do financiamento verificamos que eles
continuam a investir o ensino superior mais que Portugal, em
percentagem do Produto Interno Bruto (PIB)".
Por isso, adianta Joaquim Mourato,
"Portugal tem que se decidir. Nós não só temos que estar ao nível
desses países, como temos que recuperar terreno. Ora quando os
outros países continuam a investir mais que nós, não nos deixam
grande esperança. Por isso, Portugal tem que tomar a decisão de
apostar no ensino superior para sermos um país competitivo. E para
isso tem que apoiar este setor".
O presidente do IPP assegura que as
instituições estão preparadas para dar resposta a esses desafios.
"Os indicadores ao nível da investigação e desenvolvimento revelam
uma evolução crescente e positiva, apesar desse crescimento não ter
sido acompanhado nos recursos colocados ao dispor das instituições.
A rede está mais que consolidada e madura", diz.
Joaquim Mourato diz que o
financiamento deveria ser indexado ao PIB e lança um desafio à
tutela: "vamos garantir que o ensino superior não tenha
financiamento do Estado abaixo da média dos países da OCDE. E
deixemo-nos de andar a discutir fórmulas de financiamento, que na
prática são fórmulas de distribuição dos poucos recursos que já
temos. E isso coloca umas instituições contra as outras".
Captar mais
alunos
Enquanto aquelas questões não obtêm
resposta, as instituições, sobretudo as que se situam no interior
do país, têm que captar mais alunos. Joaquim Mourato sabe disso.
"Temos que trazer mais gente para o ensino superior", sublinha. A
regulamentação do Estudante Internacional saiu tarde e não foi
eficaz. Ainda assim, aquele responsável aplaude a medida que no
próximo ano poderá ser útil. O espaço lusófono pode ser um caminho,
com África e o Brasil a merecer destaque. "Temos que perguntar a
nós mesmos porque é que um aluno estrangeiro quereria vir estudar
para o IPP? O que é que lhe podemos dizer para ele vir? Foi com
base nisso que desenhámos o programa «Cidade amiga do estudante», o
qual não é só do Instituto, mas também das câmaras, empresas e
outras entidades". Sinergias que garantem aos alunos internacionais
o acesso a um conjunto de mais valias em diferentes áreas, como os
transportes, saúde ou a cultura, por exemplo. "Deste modo, o
estudante pode afirmar que vir estudar para Portalegre lhe
interessa. Não só porque é vantajoso economicamente, mas porque
associado a isso usufrui de um conjunto de apoios e atividades de
que pode usufruir nestas cidades amigas do estudante".
O presidente do IPP fala também no
Programa + Superior, o qual tem uma boa conceção, mas que deve ter
a sua regulamentação melhorada. "É um mecanismo que estimula
mobilidade do litoral para o interior. Mas não acredito que venha
por si só resolver o problema".
Joaquim Mourato explica que para
esse programa ser eficaz "os resultados obtidos devem ser estes:
temos que ter alunos nas nossas instituições do interior do país,
cuja decisão de virem para cá assenta no programa. E isso não
aconteceu este ano. O programa foi lançado depois das colocações da
1ª fase terem sido
divulgadas" e os cursos abrangidos não foram indicados pelas
instituições. "São elas que devem indicar os cursos para os quais
as bolsas devem ser utilizadas, pois para aquelas formações que
enchem, não são necessárias as bolsas para incentivar os alunos a
virem".
Outra das questões que afeta o
ensino superior diz respeito ao elevado número de alunos que
conclui o ensino secundário e não se candidata ao ensino superior.
Joaquim Mourato acredita que a nova oferta dos Técnicos Superior
Profissionais, que desde este ano está a ser ministrada pelos
politécnicos, poderá captar muitos alunos oriundos do ensino
profissional. "Esses cursos procuram ser uma resposta a um público
que não tem conseguido chegar ao superior. Só 40 por cento dos
alunos que concluem o ensino secundário é que chegam ao superior.
Ou seja há 60 mil alunos que não o fazem. Destes há 20 mil que não
conseguem fazer as provas de acesso. Depois há cerca de 30 mil que
estão em cursos profissionais e destes só 5% é que consegue fazer
as provas específicas e entrar. Ou seja, há cerca de 30 mil alunos
do ensino profissional que os cursos de técnico superior
profissional podem captar. Muitos depois entrarão no mercado de
trabalho, mas também poderão prosseguir estudos na licenciatura com
algumas equivalências".
O presidente do IPP esclarece que
fazer um Curso de Especialização Tecnológica (CET) é muito
diferente de um Curso Técnico Superior, pois um é de nível
superior, tem a duração de dois anos e permite aos alunos a
continuidade para uma licenciatura. "O que deveria ser feito era
revogar os CET's. Não deve haver confusão nem para os candidatos,
nem para os empregadores", diz Joaquim Mourato. Aquele responsável
vai mais longe: "queremos que os novos cursos sejam acreditados
pela Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3E's).
Estamos a falar de cursos superiores ministrados por instituições
de ensino superior. E o que acontece é que neste momento a Direção
Geral do Ensino Superior acolhe as propostas, mas ninguém sabe quem
garante a sua qualidade. Tem que ser a A3E's a fazer a sua
avaliação e dar a acreditação dos novos cursos". Outra questão
levantada por Joaquim Mourato diz respeito ao financiamento desses
novos cursos. "Estes cursos, que exigem mais prática, não podem ser
mais baratos que os de licenciatura. E a proposta do Governo é que
o sejam. Seguramente as instituições não vão poder fazer essa
formação a custos mais baixos que os de uma licenciatura.
Ofertas
formativas
Perante o atual cenário, Joaquim
Mourato anuncia algumas novidades em termos de oferta formativa, a
começar pelos novos Cursos de Técnicos Profissionais Superiores.
"Vamos abranger todas as escolas. Teremos uma oferta preocupada com
aquilo que está a ser feito a montante, nas escolas profissionais.
Queremos criar fileiras. Olhámos também para toda a região, pelo
que esses cursos serão ministrados em vários pontos da região, como
Portalegre, Elvas, Estremoz, Ponte de Sor ou Évora. Esperamos ter
oferta formativa em toda a região. No caso do distrito de Évora
haverá uma articulação com o Politécnico de Beja".
Joaquim Mourato diz que "é
fundamental que este processo corra bem. Estamos a conversar com as
escolas, autarquias e empresas (há cursos que resultaram de
propostas do tecido empresarial). Esta tem que ser uma aposta
ganha. E no próximo ano letivo tem que correr muito bem".
No que respeita às licenciaturas e
mestrados, Joaquim Mourato diz que a oferta formativa se deverá
manter. "Não será muito diferente da existente. Queremos apostar
nos novos Cursos dos Técnicos Superiores Profissionais, os quais
terão ligação futura com as licenciaturas, mas que garantem também
qualificação para o mundo do trabalho".
Joaquim Mourato fala também em pós-graduações e mestrados em
áreas especializadas, como a aeronáutica (em Ponte de Sor), ou a
cortiça, vinha/vinho (Estemoz), por exemplo.