Prémio “Fellow” para Portugal
Rui Diogo premiado na América
O
investigador português, Rui Diogo, acaba de ser distinguido pela
maior organização mundial para anatomistas, a American Association
of Anatomists. Aos 40 anos o também professor do Colégio de
Medicina da Universidade de Howard, nos Estados Unidos, vê
reconhecido o seu trabalho sendo nomeado com o prémio "Fellow" por
aquela associação.
Natural de Castelo Branco, Rui
Diogo é hoje um dos investigadores mais conceituados na área da
biologia. Com um oceano pelo meio, explica ao Ensino Magazine que
"esta nomeação é bastante importante, em termos científicos e de
carreira. É um reconhecimento de excelência não só ao nível de
ciência pura, mas também de ensino, e de promoção da anatomia para
a divulgação da ciência em geral", começa por referir.
Daí que entenda esta nomeação como
"um reconhecimento triplo: de ciência, de educação, e de
divulgação", a qual está ligada a "um novo campo da biologia que
estamos a desenvolver, aqui no meu laboratório".
Rui Diogo explica: "no fundo, estou
a tentar criar, junto com alguns colegas, um novo campo da
biologia, que se chama "Evolutionary Developmental Anthropology",
que pretende combinar a biologia evolutiva com a biologia de
desenvolvimento; a evolução humana e o estudo de defeitos de
nascimento - o que tem importantes aplicações e implicações para a
medicina -, e que permite discutir temas sociais como a história do
racismo, entre outros".
Esta nova perspetiva que Rui Diogo
está a implementar no seu laboratório entusiasma a comunidade
científica internacional. Shawn E. Boynes, diretor executivo da
American Association of Anatomists, lembra que a distinção que vai
ser entregue ao investigador português é "atribuída para homenagear
ilustres Membros que têm demonstrado excelência na ciência e na
suas contribuições para as ciências anatómicas".
A conversa digital com Rui Diogo
prossegue. O investigador confessa que não estava à espera desta
nomeação. "Sou relativamente jovem para ganhar uma distinção deste
nível, sobretudo sendo a American Association of Anatomists a maior
organização mundial para anatomistas".
Por outro lado, esclarece, "a
anatomia é apenas uma das várias áreas nas quais faço investigação.
Na verdade não me defino como um anatomista, mas sim como um
biólogo evolutivo, só uso a anatomia como um caso de estudo para
discutir questões evolutivas mais abrangentes, como poderia usar a
ecologia ou etologia, por exemplo".
Rui Diogo diz-se adepto do lema
grego "mente sã em corpo são". Daí que não abdique de sair, ver
cinemas ou jogar futebol. "Assim quando trabalho, estou realmente
feliz e concentrado", confessa. O que também contribui para que
esse lema seja cumprido é gostar mesmo do que faz "como
investigador e professor", o que lhe permite também "poder viajar e
aprender mais, sobre outras coisas, sobre o mundo". A acrescentar a
estes fatores está a escolha do local onde vive, Washington DC,
"uma cidade agradável e verde".
Aos 40 anos, este jovem português
está a conquistar a comunidade científica internacional. Desafiado
a deixar uma mensagem a outros investigadores nacionais, refere que
"nunca se deve dizer não quando se nos abrem portas que nos poderão
levar a aprender mais e ir mais longe".
Além disso, refere Rui Diogo, não
"devemos ser impacientes, ou pensar só nos ganhos materiais, ou que
já somos muito grandes em termos académicos para aceitar
continuarmos a aprender. Devemos ser humildes. No meu caso, depois
de acabar o pós doutoramento em Madrid, eu poderia dizer que só
aceitaria um emprego como professor, ou num museu, que já merecia
(tinha escrito vários livros nesse momento, por exemplo) e que
quereria ganhar mais, ou ser um chefe de laboratório. Mas preferi
muito mais a opção de fazer um novo doutoramento, numa área nova,
num dos departamentos mais prestigiosos do planeta na área da
evolução humana, a ganhar muito menos do que tinha ganho quando fiz
o primeiro doutoramento, pois achava que era isso que me faria
aprender mais, e ser melhor no longo prazo".