Quatro Rodas
Mais um ataque ao setor automóvel
Nos
últimos dias a comunicação social não fala de outra coisa que não
seja, orçamento, orçamento, orçamento e agora aparece um novo
documento, não menos importante, que é a errata do orçamento.
Fala-se de tudo isto, como se os portugueses dominassem o
vocabulário do mundo das finanças, como dominam uma discussão sobre
futebol. Como se não bastasse, cada vez que começamos a ter
capacidade de processar alguma informação, voltam a baralhar-nos
com neologismos e conceitos fabricados, que servem de escape aos
políticos para explicarem o que não conseguem fazer. Para mim, é
simples, o país tem que exportar mais do que importa, se assim for,
gera riqueza suficiente para entregar os recursos necessários ao
bem comum, que são depois geridos por essa instituição a que
decidimos chamar Estado.
O Estado tem as suas despesas, que
deveriam ser apenas aquelas que decorrem da prestação dos serviços
necessários ao desenvolvimento da nossa sociedade, mas parece que
não é bem assim…
Para fazer face às despesas, temos
que recolher receitas, e a quantidade de receitas recolhidas, vai
ditar a quantidade e qualidade dos serviços que o Estado nos pode
proporcionar.
Num sistema perfeito, os políticos deveriam
explicar, nas campanhas eleitorais, quais as suas ideias sobre os
serviços a prestar e a forma como vamos recolher as receitas para
pagar esses serviços. Depois, nós os cidadãos, escolheríamos em
eleições.
Sendo uma pessoa medianamente atenta, não me lembro de ter ouvido
na última campanha eleitoral algumas das ideias que aparecem na
proposta de orçamento ou na errata da mesma.
Entre outros, anuncia-se AGORA, um
autêntico massacre de impostos sobre o setor automóvel e
combustíveis, situação que arrasta também o setor transportador. À
primeira vista, estas medidas podem até parecer populares, mas acho
que devia haver mais respeito relativamente a estes setores. Sem
querer invocar esta ou aquela fonte, se olharmos para uma qualquer
tabela das empresas mais exportadoras, podemos ver que, no TOP10,
há pelo menos 6, que estão diretamente ligadas a este setor. É pois
o setor que mais emprego gera, e que, com os seus impostos,
contribui para pagar as despesas que o estado tem. Abusar deste
setor pode pois ter o efeito contrário. Em vez de se conseguir mais
receitas, este abuso pode baixar o consumo destes produtos, e mesmo
dar origem à fuga ou fecho de empresas. Já agora posso acrescentar
que, este ano, vamos receber 3 campeonatos mundiais de
automobilismo, com forte influência no turismo. É de esperar pois
uma reação da entidade federativa a esta situação. Como diz o
proverbio, podemos estar a matar a galinha dos ovos de ouro.
Parece, no entanto, que ainda não é
desta que vamos atacar a despesa… é mais fácil atacar o setor
automóvel.
Paulo Almeida
Este texto nã foi redigido segundo o novo acordo ortográfico.