Joaquim Mourato, ex-presidente do CCISP
As grandes questões do Conselho
Joaquim Mourato presidiu ao Conselho Coordenador dos
Institutos Superiores Politécnicos (CCISP) durante dois mandatos.
Quatro anos em que, recorda, estiveram em cima da mesa questões
muito importantes e difíceis para o subsistema politécnico. "Em
2013 veio a debate público a questão da reorganização da rede de
ensino superior. Dizia-se que havia instituições de ensino superior
a mais", começa por referir.
"Uma das razões porque se falava
nisso estava relacionada com o facto de na primeira fase das
colocações alguns cursos ficarem sem candidatos. Portanto, quando
se falava em instituições a mais, olhava-se logo para o interior do
país. Em 2013 entendemos que tínhamos que dar uma resposta a essa
questão e desmontar a teoria de que havia instituições a mais. Hoje
o novo ministro, Manuel Heitor, diz que não há instituições de
ensino superior a mais, mas sim alunos a menos", explica o também
presidente do Politécnico de Portalegre.
Joaquim Mourato diz que aquela
foi uma das lutas mais intensas e difíceis. "Fomos à procura de um
Centro de Investigação Europeu (Centro de Investigação de Políticas
do Ensino Superior que está situado na Universidade de Twente, na
Holanda) para a realização de um estudo, o qual foi apresentado no
Conselho Nacional de Educação e onde ficou demonstrada a
importância das instituições politécnicas e a sua missão. Depois
fizemos um outro estudo com investigadores das universidades do
Minho e do Porto como coordenadores sobre o impacto socioeconómico
de seis politécnicos nas suas regiões. E este estudo foi muito
importante pois ficámos com indicadores concretos. Por exemplo, em
Portalegre, nós deixamos cerca de 30 milhões de euros na economia
local. E era importante demonstrar que por cada euro que vem
do orçamento de estado o Politécnico gera 3,5 euros na economia da
região".
O anterior presidente do CCISP
diz que as outras grandes batalhas foram a qualificação e a
investigação. "Havia a ideia de que os politécnicos não tinham
qualificação. Hoje coloca-se a questão dos doutoramentos puderem a
ser ministrados pelos Politécnicos. Já não há argumentos para que
assim não seja, é apenas uma questão política. Temos vindo a
demonstrar que a perceção que muitas pessoas têm sobre as
instituições politécnicas, de que nós não temos corpo docente
qualificado ou que não temos investigação, está errada. A realidade
é completamente diferente. As instituições politécnicas têm áreas
em que mais 80 por cento do corpo docente é doutorado. Dentro de,
no máximo, uma década tudo isto estará ultrapassado. Nos próximos
três ou quatro anos vamos consolidar a questão da qualificação e da
investigação, pelo que será uma questão de tempo as instituições
politécnicas puderem conferir o grau de doutor. E esta luta está
agora a ser travada porque as instituições fizeram o seu trabalho.
Fico feliz por este ter sido o último tema a ser colocado por mim
na ordem do dia, enquanto presidente do CCISP".
O ex-presidente do CCISP refere
que "esses estudos vieram demonstrar que as instituições valiam
muito mais do que o número maior ou menor de estudantes que temos,
pois damos muitos outros contributos para a região. E esta foi a
grande batalha que tivemos para desmontar a estratégia que vinha
sendo implementada para alterar a rede de ensino superior, em
prejuízo do interior do país. Nós temos entre Bragança e Beja 13%
do total do ensino superior em Portugal, no litoral encontram-se
mais de 80% e onde se queria cortar era nos 13% do interior. E esta
questão foi desmontada por todos os colegas do CCISP, das
diferentes regiões, fomos à luta. Estivemos em todos fóruns para se
alterar essa questão".
O ex-presidente do CCISP e
presidente do Politécnico de Portalegre mostra-se, por isso,
satisfeito com o trabalho realizado e está otimista quanto ao
futuro do Conselho Coordenador, agora presidido por Nuno Mangas,
presidente do Politécnico de Leiria. "O professor Nuno Mangas
conhecia o Conselho por dentro, onde foi vice-presidente e a
passagem de testemunho foi uma coisa natural. Tanto o professor
Nuno Mangas como o professor Pedro Dominguinhos assumiram as
funções com garra. Acredito que vão ter sucesso nessas
funções".
Joaquim Mourato recorda que
durante os seus mandatos foram feitas "64 reuniões plenárias, e
realizados 83 pareceres perante a tutela, para além de termos
solicitado 17 pedidos de esclarecimento ao ministério. A estes
dados acrescem os 88 estudantes em mobilidade com Macau, 14
protocolos assinados e seis publicações efetuadas".
O ex-presidente do Conselho
Coordenador explica que quando tomou posse recebeu um CCISP que
"vinha de uma boa governação de Sobrinho Teixeira, presidente do
Politécnico de Bragança. Encontrei uma instituição equilibrada e
que vinha na rota daquilo que eu entendia. Mas eu desejava um CCISP
com mais força e para que isso acontecesse teríamos que ter mais
recursos humanos. Felizmente deixámos o Conselho com mais um
técnico e um CCISP com mais iniciativas próprias e não apenas as de
cada uma das instituições".
Hoje, diz, "o ensino politécnico
tem que se soltar das amarras administrativas e jurídicas para
poder dar o salto em termos internacionais". De resto, a
internacionalização foi outra das apostas de Joaquim Mourato e da
sua equipa no CCISP. "Hoje temos um vice-presidente na EURASHE
(maior associação europeia de ensino superior), que é o professor
Armando Pires, do Politécnico de Setúbal, por indicação do CCISP.
Além disso entrámos também na Board da Rede Europeia das
Universidades de Ciências Aplicadas e da Federação Mundial de
Politécnicos. Procurámos marcar presença e estarmos de forma ativa
e participativa nos fóruns mundiais", revela.
Joaquim Mourato recorda ainda a
relação bilateral com a "Conferência de Reitores das Universidades
Tecnológicas da Polónia. Vamos para o quarto encontro e temos
linhas de trabalho importantes, como a energia e o
empreendedorismo. Temos neste processo o empenho dos embaixadores
dos dois países. É um projeto interessante, que começou ainda com o
professor Sobrinho Teixeira. Além disso, desenvolvemos uma parceria
com a Universidade Teconológica do Paraná (Brasil) a qual foi
alargada à Universidade de Missiones da Argentina. Com Macau também
reforçámos a nossa relação. Tudo isto culminou com a aprovação de
uma candidatura para a internacionalização do ensino politécnico
português, de mais de 600 mil euros".
O ex-presidente do CCISP revela
que foi também "aprovada uma outra candidatura do CCISP, no âmbito
do projeto Poliempreende, no valor de 700 mil euros. Temos ainda
outros projetos internacionais aprovados através da EURASHE".
A concluir, Joaquim Mourato
mostra-se satisfeito com o trabalho desenvolvido por todo o CCISP.
Em termos pessoais diz ter sido "um trabalho enriquecedor. Fez de
mim outra pessoa. Fico grato a todos os colegas que colaboraram.
Neste percurso tivemos alguns problemas com alguns colegas que
divergiram da nossa opinião, o que é perfeitamente normal. O que
não me parece normal é terem deixado de participar na atividade do
CCISP. Mas isso também se irá resolver e tudo vai passar, ficando o
CCISP mais forte. Neste momento passámos a contar com a
Universidade dos Açores e com a Universidade da Madeira, que se
juntam à do Algarve e Aveiro, que têm escolas politécnicas".