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Rostos de guerra

unesco.jpgIndependentemente da nossa idade, raça, género, religião, nacionalidade, classe social, todos nós desejamos a Paz nas nossas vidas, mas, para que possamos promover e sustentar a Paz temos que nos educar, e essa educação passa pela compreensão e respeito pelos princípios básicos de liberdade, justiça, democracia, tolerância, igualdade, solidariedade e direitos humanos.
De repente, sem avisar, a crise dos refugiados entrou nas nossas casas. Estávamos em 2016 e a comunicação social encarregava-se de nos bombardear com imagens e números aterradores, mas completamente desumanizados. Na Escola, fomos obrigados a desconstruir essas notícias e explicar que refugiados eram migrantes forçados. Eram pessoas como nós, com uma família, casa, empregos, mas que foram obrigadas a fugir do seu país devido a perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, opinião política ou participação em grupos sociais, e que não podiam (ou não queriam) voltar para casa. Cabia-nos a nós, Europa, recebê-los e oferecer-lhes proteção. E aqui levantavam-se todas as dúvidas. Era preciso desmistificar e elucidar os alunos, pois por ausência de informação factual e equilibrada facilmente se geravam ondas de discriminação, xenofobia e racismo. Era obrigatório informar e formar os nossos jovens, os decisores políticos de amanhã, cidadãos de uma Europa cada vez mais multicultural.
Sou daquelas professoras que acredita que na sua maioria, os nossos jovens alunos procuram um propósito, algo relevante e que gostariam de fazer parte de algo grandioso, maior que eles, mesmo que tenham que sair da sua zona de conforto. Foi o que aconteceu na Escola Secundária Pinheiro e Rosa (Faro) a um grupo de alunos envolvidos no projeto Erasmus+ AC 2 "In a far away land: refugee children" que abraçou como mote o grito de Sophia de Mello Breyner Andresen na sua Cantata da Paz: "Vemos, ouvimos e lemos. Não podemos ignorar." Não podemos ignorar que é através da educação que somos capazes de promover uma cultura de paz. Paz, que significa a capacidade de ver no outro a diferença de cultura, valores, religião, política, de escolhas de vidas, mas mesmo assim, ser capaz de conviver com essas diferenças, valorizando-as.
Em abril de 2017, ao visitar o campo de refugiados Veria (Grécia), seis alunos foram os olhos e os ouvidos de todos os outros que ficaram. Esta visita tocou-os muito. Contactaram com pessoas que antes da guerra tinham uma vida como a deles, organizada, sem sobressaltos. Essas pessoas deram um rosto e uma voz à frase "É melhor arriscar a vida num dia do que viver a arriscá-la todos os dias". A comunicação social debitava constantemente notícias sobre a crise dos refugiados, porém, as vidas humanas envolvidas pareciam não fazer parte desse acontecimento. Era preciso humanizar a crise dos refugiados e fazer passar essa mensagem à comunidade escolar. E assim nasceu o livro de contos e poemas "Rostos de Guerra". Foi a primeira vez que os seus autores tentaram escrever e desenhar sobre emoções e sentimentos de uma maneira mais formal. O Gonçalo J., inspirado por um refugiado sírio que lhe ofereceu um poema, começou também ele a escrever poesia. A Cátia O. nunca tinha escrito. A Luísa L. reacendeu a sua paixão pela escrita. O Rafael P. adicionou cor e sentimento aos trabalhos dos colegas. Viram inclusivamente o seu trabalho reconhecido pelo Alto Comissariado para as Migrações, quando ganharam o Prémio Comunicação categoria Jovem ACM 2018. Vão continuar a escrever e a envolver-se, dando continuidade ao desafio pessoal que assumiram: passar a mensagem, pois cada um de nós, individual e coletivamente, tem que assumir um compromisso para a manutenção da Paz.

 
 
 
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