Todos juntos e à distância na escola e no mundo
O
mundo está a atravessar um dos seus piores momentos, numa guerra
biológica nunca antes vista, e onde todos somos importantes para
derrotar a pandemia de Covid-19. Importa reduzir ao máximo os
contactos pessoais, quem puder trabalhar em casa deve fazê-lo. E
isto, não significa que estejamos de férias. Uma das primeiras
declarações dos responsáveis pelo país foi essa mesma: que os
professores não estão de férias! Claro que não estão e no seu dia a
dia, a partir de casa, tentam interagir da melhor maneira possível
com os seus alunos. Uns, pecam por excesso com o envio de
atividades, umas atrás das outras, que deixam os estudantes e as
suas famílias à beira de um ataque de nervos; outros, por defeito,
não enviando nem desenvolvendo contactos com os seus alunos. O meio
termo é o mais correto.
Mas não são apenas os professores
que não estão de férias. Muitos milhares de profissionais também
não estão. No país ninguém está. A Declaração do Estado de
Emergência e as restrições que ela acarreta levaram a que uma
grande parte dos portugueses esteja em casa, muitos em
teletrabalho, com recomendações expressas para evitarem sair de
casa.
Esta nova realidade cria à escola e
às famílias um grande de desafio. É uma situação, que faz recordar
filmes de ficção científica em que no final há sempre um herói.
Aqui ainda não apareceu aquele que nos virá salvar a todos com uma
cura e uma vacina. Os heróis teremos que ser todos nós. Todos somos
importantes e todos devemos cumprir o nosso papel.
Apelou-se, no imediato, ao ensino a
distância para os alunos do básico e secundário (no ensino superior
há uma maior agilidade e a maioria das universidades e politécnicos
já o faz, com aulas virtuais e em direto). Esta é uma nova
exigência no ensino não superior para a qual nem professores nem
alunos estão preparados. A mesma escola que sempre foi resistente
ao uso, por exemplo, de dispositivos móveis em contexto educativo,
proibindo sua utilização, é a mesma que recebe indicações da
Direção Geral de Educação, para recorrer a esses mesmos
instrumentos, com sugestões de contacto pelo "WhatsApp e outras
aplicações semelhantes". As potencialidades dos dispositivos móveis
são inúmeras, mas a escola sempre os deixou à porta no que respeita
à sua utilização para fins pedagógicos.
Nesta relação a distância,
surgem os trabalhos de casa e as atividades enviadas, por email
(para aqueles que tem acesso) aos alunos. Muitos não têm
computadores disponíveis. Dos alunos que têm acesso a um computador
na sua casa, muitos estão num contexto em que os seus pais o
utilizam em funções de teletrabalho. Terão que aguardar pela sua
vez para o utilizarem nas tarefas da escola. Esta é uma realidade
que acontece. A outra é a de não se ter acesso a qualquer meio
digital. E há muitos casos assim.
O momento não é fácil e num
turbilhão como o que vivemos torna-se muito complicado encontrar
soluções. A Direção Geral de Educação enviou às escolas um conjunto
de propostas, a saber:
"- Identificação regular pelo
diretor de turma ou professor titular dos alunos sem acessibilidade
e com baixa ou irregular taxa de participação nas atividades
propostas;
- Definir canais de comunicação simples com as crianças e jovens
em situação de vulnerabilidade. Privilegiar canais fáceis, momentos
de contacto diário, através de todas as formas de comunicação
disponíveis, como o telefone (voz ou mensagem);
- Para os que têm telemóvel, com acesso ao whatsapp ou outras
aplicações semelhantes, estimular o envio de dúvidas e trabalhos
por mensagem ou fotografia;
- Os canais de televisão disponiblizaram-se para divulgar
conteúdos educativos em momentos específicos. Estimular a
visualização desses momentos;
- Articular com as equipas das forças de segurança afetas ao
Programa Escola Segura (EPES), na medida das suas possibilidades e
disponibilidades, para coadjuvarem o trabalho de seguimento na
proximidade com estes alunos, nomeadamente na articulação
escola-alunos e em apoio domiciliário;
- Articular com os CTT para entregar/levantar fichas de apoio e
os trabalhos ao domicílio;
- Mobilizar cidadãos para interagirem com as famílias e crianças,
fomentando exercícios compatíveis com a distância
telefónica/online, assim como para a entrega/recolha de fichas ao
domicílio e posterior monitorização".
A educação é um bem de que ninguém
deve estar privado. A saúde também. Neste momento, mantendo-se
algumas dinâmicas entre professores e alunos, não se pode cair na
tentação de querer ser mais papista que o papa, nem de colocar em
risco pessoas para irem buscar e levar os trabalhos de casa. Não
faz sentido.
Todos sabemos que ninguém está de
férias. Estamos todos juntos, à distância, na luta contra a
pandemia. E isso é o mais importante. Nada supera a vida das
pessoas. A todos votos de boa saúde e e um cotovelo (os abraços
estão proibidos) com amizade.