1ª Coluna

Todos juntos e à distância na escola e no mundo

João CarregaO mundo está a atravessar um dos seus piores momentos, numa guerra biológica nunca antes vista, e onde todos somos importantes para derrotar a pandemia de Covid-19. Importa reduzir ao máximo os contactos pessoais, quem puder trabalhar em casa deve fazê-lo. E isto, não significa que estejamos de férias. Uma das primeiras declarações dos responsáveis pelo país foi essa mesma: que os professores não estão de férias! Claro que não estão e no seu dia a dia, a partir de casa, tentam interagir da melhor maneira possível com os seus alunos. Uns, pecam por excesso com o envio de atividades, umas atrás das outras, que deixam os estudantes e as suas famílias à beira de um ataque de nervos; outros, por defeito, não enviando nem desenvolvendo contactos com os seus alunos. O meio termo é o mais correto.

Mas não são apenas os professores que não estão de férias. Muitos milhares de profissionais também não estão. No país ninguém está. A Declaração do Estado de Emergência e as restrições que ela acarreta levaram a que uma grande parte dos portugueses esteja em casa, muitos em teletrabalho, com recomendações expressas para evitarem sair de casa.

Esta nova realidade cria à escola e às famílias um grande de desafio. É uma situação, que faz recordar filmes de ficção científica em que no final há sempre um herói. Aqui ainda não apareceu aquele que nos virá salvar a todos com uma cura e uma vacina. Os heróis teremos que ser todos nós. Todos somos importantes e todos devemos cumprir o nosso papel.

Apelou-se, no imediato, ao ensino a distância para os alunos do básico e secundário (no ensino superior há uma maior agilidade e a maioria das universidades e politécnicos já o faz, com aulas virtuais e em direto). Esta é uma nova exigência no ensino não superior para a qual nem professores nem alunos estão preparados. A mesma escola que sempre foi resistente ao uso, por exemplo, de dispositivos móveis em contexto educativo, proibindo sua utilização, é a mesma que recebe indicações da Direção Geral de Educação, para recorrer a esses mesmos instrumentos, com sugestões de contacto pelo "WhatsApp e outras aplicações semelhantes". As potencialidades dos dispositivos móveis são inúmeras, mas a escola sempre os deixou à porta no que respeita à sua utilização para fins pedagógicos.

Nesta relação a distância, surgem os trabalhos de casa e as atividades enviadas, por email (para aqueles que tem acesso) aos alunos. Muitos não têm computadores disponíveis. Dos alunos que têm acesso a um computador na sua casa, muitos estão num contexto em que os seus pais o utilizam em funções de teletrabalho. Terão que aguardar pela sua vez para o utilizarem nas tarefas da escola. Esta é uma realidade que acontece. A outra é a de não se ter acesso a qualquer meio digital. E há muitos casos assim.

O momento não é fácil e num turbilhão como o que vivemos torna-se muito complicado encontrar soluções. A Direção Geral de Educação enviou às escolas um conjunto de propostas, a saber:

"- Identificação regular pelo diretor de turma ou professor titular dos alunos sem acessibilidade e com baixa ou irregular taxa de participação nas atividades propostas;

  • Definir canais de comunicação simples com as crianças e jovens em situação de vulnerabilidade. Privilegiar canais fáceis, momentos de contacto diário, através de todas as formas de comunicação disponíveis, como o telefone (voz ou mensagem);
  • Para os que têm telemóvel, com acesso ao whatsapp ou outras aplicações semelhantes, estimular o envio de dúvidas e trabalhos por mensagem ou fotografia;
  • Os canais de televisão disponiblizaram-se para divulgar conteúdos educativos em momentos específicos. Estimular a visualização desses momentos;
  • Articular com as equipas das forças de segurança afetas ao Programa Escola Segura (EPES), na medida das suas possibilidades e disponibilidades, para coadjuvarem o trabalho de seguimento na proximidade com estes alunos, nomeadamente na articulação escola-alunos e em apoio domiciliário;
  • Articular com os CTT para entregar/levantar fichas de apoio e os trabalhos ao domicílio;
  • Mobilizar cidadãos para interagirem com as famílias e crianças, fomentando exercícios compatíveis com a distância telefónica/online, assim como para a entrega/recolha de fichas ao domicílio e posterior monitorização".

A educação é um bem de que ninguém deve estar privado. A saúde também. Neste momento, mantendo-se algumas dinâmicas entre professores e alunos, não se pode cair na tentação de querer ser mais papista que o papa, nem de colocar em risco pessoas para irem buscar e levar os trabalhos de casa. Não faz sentido.

Todos sabemos que ninguém está de férias. Estamos todos juntos, à distância, na luta contra a pandemia. E isso é o mais importante. Nada supera a vida das pessoas. A todos votos de boa saúde e e um cotovelo (os abraços estão proibidos) com amizade.

 
 
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