Évora cria sistema para diminuir espera na linha SNS24
A Universidade de Évora está a
desenvolver um sistema que permitirá a redução no tempo de espera
na linha SNS 24. Em nota enviada ao Ensino Magazine, a instituição
explica que o SNS24 Scout, como foi designado, "está a ser
desenvolvido, desde janeiro deste ano, por uma equipa de
investigação da Universidade de Évora (UÉ)".
A Universidade diz, na mesma nota,
que "o resultado esperado é uma diminuição de, pelo menos, 5%
no tempo de cada chamada telefónica e um aumento estimado de 50.000
chamadas telefónicas atendidas durante um ano pela Linha
SNS24".
O projeto "Aplicação de
Metodologias de Inteligência Artificial e Processamento de
Linguagem Natural no Serviço de Triagem, Aconselhamento e
Encaminhamento do SNS 24", em parceria com Serviços Partilhados do
Ministério da Saúde, E.P.E. (SPMS), é coordenado pelo investigador
Paulo Quaresma e integrado por uma equipa multidisciplinar de
investigadores da UÉ, do NOVA LINCS - Laboratório de Informática e
Ciências da Computação e do Centro de Investigação em Matemática e
Aplicações (CIMA).
Como explica, na mesma nota, Paulo
Quaresma, "numa primeira fase, foi necessário "identificar os
algoritmos mais adequados para um determinado conjunto de sintomas,
com ajuste para idade e sexo". Para tal, foi desenvolvido "um
pequeno protótipo, com base em apenas três meses de dados do SNS24,
que demonstrou ter um desempenho muito positivo".
O investigador avança que "até ao
final do ano contamos ter uma aplicação que tenha a capacidade de
sugerir o algoritmo clínico mais adequado a cada situação com uma
precisão superior a 95%, reunindo condições para ser integrada na
atual aplicação do SNS24. Esta integração, do ponto de vista
técnico, é razoavelmente simples, mas requer um planeamento cuidado
e uma implementação faseada e devidamente avaliada". De qualquer
forma, "e tendo em conta a atual situação de pandemia Covid-19 e a
forte pressão sobre a linha SNS24, julgo que há condições para se
iniciar este processo antes do final deste ano".
Para desenvolvimento do SNS24 Scout
a equipa está a aplicar técnicas de Processamento de Língua Natural
(PLN) e de Aprendizagem Automática (ML-Machine Learning),
desenvolvidas especificamente para a Língua Portuguesa, bem como a
metodologias de representação de conhecimento. A metodologia é
alicerçada em classificadores construídos com base em algoritmos de
aprendizagem automática sobre um conjunto de dados anonimizados,
obtidos a partir dos contactos para o SNS 24 em 2017, 2018 e 2019,
dados que representam uma experiência acumulada superior a 2
milhões de casos.
Após a criação do modelo de
predição, o sistema será implementado no Serviço de Triagem,
Aconselhamento e Encaminhamento (TAE) do SNS 24, com caráter de
suporte à decisão, auxiliando o enfermeiro a selecionar, em tempo
real, o algoritmo clínico mais adequado.
Quanto aos resultados do projeto, o
Professor do Departamento de Informática da UÉ mostra-se confiante
"se se confirmar a nossa expectativa em termos da qualidade de
desempenho, poderá vir a ser um importante sistema de apoio à
decisão dos profissionais da Linha de atendimento do SNS24.
Pretendemos conseguir diminuir mais do que 5% no tempo médio de
cada chamada telefónica, mantendo ou mesmo aumentando a qualidade
do serviço prestado. Uma diminuição de 5% no tempo de atendimento
(sem compromisso da qualidade) permitirá obter um ganho anual de
350.000 minutos, o que permite realizar mais 50.000
atendimentos.
A avaliação deste impacto será
efetuada por análises comparativas do número e percentagem de
chamadas telefónicas em que há alteração do algoritmo inicialmente
selecionado e da duração média das chamadas telefónicas.
Numa segunda fase do projeto, está
prevista uma articulação mais direta com os SPMS e com a DGS,
"através da partilha dos resultados da análise profunda de dados
("data analytics") e que poderá vir a dar indicações importantes
sobre os diversos algoritmos clínicos e o seu desempenho e
adequação".
Os investigadores da UÉ pretendem,
ainda, criar uma ferramenta de apoio ao processo de otimização do
desenho dos algoritmos clínicos e respetivos encaminhamentos.
Acrescentando aos dados já referidos o encaminhamento e a sua
adequação, e ainda os diagnósticos estabelecidos ao nível
hospitalar, será possível avaliar, entre outros, tal como esclarece
Paulo Quaresma, "o desempenho clínico de cada encaminhamento,
quando classificado em termos de segurança e capacidade
discriminatória, a previsão do impacto de potenciais alterações aos
algoritmos em termos de segurança e desempenho ou a previsão dos
diagnósticos efetuados a nível hospitalar para cada algoritmo ou
conjunto de sintomas".
Com este tipo de análise "será
possível detetar eventuais padrões anómalos e permitir a tomada de
decisões, por parte da Direção-Geral de Saúde, mais informadas e
suportadas por «real world data»", ou seja, através de dados
derivados de várias fontes associadas a resultados em uma população
heterogénea de pacientes em ambiente real, ensaios clínicos e
estudos de coorte observacionais, entre outros, esclarece o
investigador.
Questionado sobre o papel que a
inteligência artificial assumirá no futuro, o investigador não
hesita em afirmar que esta "já tem um forte impacto em grande parte
das áreas do nosso dia-a-dia e essa tendência vai continuar a
aumentar de uma forma exponencial nos próximos tempos". Na sua
opinião "não há nenhuma atividade que não esteja a recorrer a
metodologias de inteligência artificial para melhorar o seu
desempenho, desde a agricultura aos serviços, passando pela
indústria". No entanto "há questões éticas e legais a resolver; não
devemos ver a relação homem-máquina como uma ameaça, mas sim como
uma relação de cooperação, em que a criação de agentes cada vez
mais inteligentes vai permitir libertarmo-nos de algumas tarefas e
focarmo-nos no desenvolvimento de uma melhor e mais justa
sociedade."