Primeira Coluna
Devolver a autoridade à escola
O Ministério da Educação quer reforçar a autoridade
dos professores nas escolas. Essa é uma das medidas apresentadas
pela tutela aos directores de escola e que há muito era esperada
pela comunidade educativa. O Governo pretende, através da revisão
do estatuto do aluno, reforçar a autoridade dos docentes, e
aumentar a exigência, o rigor, o empenho, a disciplina e também a
responsabilização dos diferentes intervenientes do processo
educativo.
Num momento difícil para todos os
portugueses, onde a desmotivação ameaça o bom funcionamento das
escolas, e onde a crítica é feita de forma leviana a quem, em
condições adversas, procura desempenhar a sua profissão da melhor
forma, aquela será uma medida que pode e deve melhorar o
funcionamento das escolas, colocando a responsabilidade nos dois
pratos da balança. Uma medida que deve trazer mais exigência e
rigor e, porque não dizê-lo, mais respeito para com a escola. Mas
que deve também responsabilizar os pais dos alunos, pois sem essa
responsabilização provavelmente muitos problemas vão manter-se.
As medidas anunciadas pelo
ministério procuram dar às escolas mais autonomia. Mas pretendem
também retomar o processo de agregações (em diálogo com as
autarquias e directores de agrupamentos), bem como o reordenamento
da rede escolar do 1.º Ciclo do
Ensino Básico. Três aspectos delicados, que devem ser tratados com
pinças e racionalidade, e nunca, apenas, por questões económicas.
Como diz o velho ditado, o barato sai caro, e em matéria educativa
nada deve ser feito de modo impulsivo, pois um passado recente
revela que os resultados obtidos, por exemplo na criação de
mega-agrupamentos, foram nalguns casos, medíocres, constituindo
mais uma fonte de desmotivação do pessoal docente e não
docente.
Na última reunião com alguns directores de escola, o
Secretário de Estado do Ensino e da Administração Escolar, João
Casanova de Almeida, anunciou ainda que será revisto o diploma de
avaliação dos directores, colocando-se o enfoque da avaliação no
seu desempenho e não na formação realizada.
A burocratização a que os docentes
têm sido sujeitos, nos últimos anos, é outra área em que o Governo
pretende intervir. Para isso, assegura Casanova de Almeida, "haverá
um esforço para a desburocratização institucional, simplificando a
documentação relativa à avaliação dos alunos e às relações entre os
serviços centrais e as escolas. Deste modo, os inquéritos das
diversas direcções gerais serão unificados, de modo a reduzir o
tempo gasto com estas tarefas".
Outra das novidades diz respeito à
simplificação da contratação de pessoal não docente, através dos
centros de emprego. Falta agora sabermos como isso será
agilizado.
O Ministério revela, finalmente,
que "será revisto, em parceria com o Ministério das Finanças, o
diploma relativo à definição do rácio para o número de alunos por
funcionário, tendo em conta as novas construções escolares".
Centrar a escola naquilo que é a
sua missão (ensinar) deverá ser o propósito destas medidas
anunciadas por um ministério que também já anunciou o fim das
Direcções Regionais de Educação.
Importa agora garantir que a
introdução das novas regras contribua para uma melhoria efectiva do
ensino no nosso país. A tradição portuguesa diz-nos que sempre que
entra um novo ministro da educação surgem novas medidas que
substituem as anteriores, apagando o caminho como se tudo estivesse
errado no passado. Mas a tradição revela-nos também que a escola
foi perdendo a sua autoridade e que é necessário impor regras e
deveres a quem lá está para aprender.