Santana Castilho, especialista em educação
Relatório do FMI tem erros
O especialista em política educativa
Santana Castilho considera que o relatório do FMI com propostas
para cortes orçamentais contém "erros enormes", alguns deles
"gravíssimos", que atribui a "desonestidade".
"Qualquer pessoa minimamente
informada olha para aquele relatório e vê que é encomendado pelo
Governo, que do ponto de vista técnico é a coisa mais mal feita,
cheia de erros enormes, alguns deles gravíssimos", afirmou o
professor em declarações à Agência Lusa.
Para Santana Castilho, apesar de
frequentemente utilizado, o Produto Interno Bruto (PIB) não é o
indicador mais fiável para medir o investimento dos países em
educação e respetivo retorno.
Por outro lado, o relatório
apresenta dados de 2010, dizendo que Portugal gastou seis por cento
do PIB em educação, quando "gastou cinco por cento".
Além do mais, prosseguiu, "porquê
usar dados de 2010, quando os técnicos têm os números de
ontem?".
"Isto é absolutamente inaceitável.
Vindo de uma pessoa mal informada é uma coisa, agora vindo do FMI,
só podem dizer isto por desonestidade, por dolo", criticou.
"Toda a gente sabe que nesta altura
aquilo que se gasta é 3,8 por cento do PIB, o que é o valor mais
baixo da Europa", indicou.
O especialista em política educativa
recordou que Portugal ficou recentemente entre os 20 melhores, num
conjunto de 50 países, em dois estudos internacionais (TIMS e
PIRLS: Tendências Internacionais no Estudo da Matemática e Ciências
e Progressos no Estudo Internacional de Leitura e Literacia".
"Quando eles dizem que o país gasta
mal o seu dinheiro - eles que são amantes dos programas de
avaliação de desempenho dos sistemas educativos e usam dados da
OCDE - tinham acabado de ter dois estudos que são os mais credíveis
a nível mundial", argumentou.
Entre os vários parâmetros
avaliados, Santana Castilho destacou o sétimo lugar de Portugal a
matemática, no contexto da Europa, "à frente de países que gastam
quase o dobro, como é o caso da Alemanha".
"E vêm estes senhores dizer que
Portugal fica mal na comparação com outros países?, gastando menos
do que a média da OCDE?, Isto é de gente desonesta", reiterou.
Santana Castilho considerou também
"chocante" a análise feita de dois relatórios, do Tribunal de
Contas (TC) e de um grupo de trabalho nomeado pelo Ministério da
Educação, para se concluir que o ensino privado seria mais
barato.
"Eles conhecem estes estudos e o
primeiro (TC) diz logo para se ter cuidado porque está
ultrapassado", recordou.
O estudo apresentado pelo ministério
apresenta vários cenários: "aquele que é menos favorável à escola
pública diz que esta gasta menos 15.000 euros por turma do que a
escola privada relativamente ao ensino básico", referiu.
Santana Castilho entende que o
objetivo é fazer crer que o ensino privado é mais barato para
passar esta responsabilidade do Estado para agentes privados,
contrariando a Constituição da República.
"Estamos sob protetorado financeiro,
mas não estamos sob protetorado político", defendeu, recordando a
experiência das concessões de serviços públicos, como os hospitais
e as autoestradas, sem benefício para o utente.
As críticas de Santana Castilho
juntam-se às de outros especialistas, como a pró-reitora da
Universidade de Lisboa, Luísa Cerdeira, e o constitucionalista
Jorge Miranda.