Suplemento

Constantino Rei, presidente do Politécnico da Guarda, não tem dúvidas:
IPG está mais criativo e ousado

IMGP4876.jpgO Instituto Politécnico da Guarda é o principal motor de desenvolvimento da região da Guarda. Constantino Rei, o seu presidente, volta a reforçar essa ideia na entrevista concedida ao Ensino Magazine, onde refere que a questão da fusão de instituições nunca foi colocada e que a Guarda precisa de uma instituição de ensino superior forte, como o é o IPG.

Durante a sessão solene do aniversário do IPG, fez questão de sublinhar a importância que o Instituto Politécnico tem para a região da Guarda. A sociedade ainda não tinha percebido a importância do IPG e aquilo que ele representa?

É importante nós reforçarmos todos os dias essa mensagem. Infelizmente, sobretudo na cidade da Guarda, mas também na sua área envolvente, houve um divórcio entre a sociedade e o Instituto, durante muitos anos. Ou seja durante algum tempo não fomos vistos da melhor maneira, sobretudo por parte de algum poder político e institucional que é importante termos ao nosso lado. Por isso, achamos que é sempre importante passar essa mensagem, sobretudo numa fase em que se discute muito a reorganização e a racionalidade, como se a racionalidade económica fosse o mais importante nesta questão. Foi nesse sentido que quisemos mostrar às pessoas, com números e evidências, de forma a que as pessoas deixem de fazer afirmações com base naquilo que acham, sem terem números. Isto acontece porque ainda não existe uma simbiose perfeita entre a comunidade e o instituto. Embora nos últimos quatro anos tenham sido dados passos positivos.

Esses números divulgados (onde era referido que o IPG tem um impacto de mais de 24 milhões de euros na região) faziam parte de um estudo. Há mais alguns dados que possa adiantar?

Neste momento o estudo está em fase de conclusão. O estudo pretende dar a ideia geral da importância que tem o Politécnico da Guarda para a cidade e para a Região, pois o Instituto não é apenas um conjunto de professores, funcionários ou alunos que estão aqui. É muito mais do que isso. É aquilo que todas essas pessoas e famílias aqui gastam. Acredito que os números sejam bastante superiores às estimativas apresentadas.

Isto vem demonstrar a importância que as instituições como o IPG têm para com o interior do país e para a equidade territorial…

Claro que sim. Não só pela riqueza e pela fixação de pessoas, mas sobretudo pela possibilidade que é dada às pessoas que resistem e que ainda cá vivem e trabalham, de poderem fazer a sua formação. Há pessoas e profissionais no ativo, que se não estudarem aqui não o podem fazer noutro lado. E aqui entra outra questão, que procura dar resposta a essas pessoas, e que passa pela realização de cursos de especialização tecnológica (CET's). Temos descentralizado essa formação, tendo realizado CET's em S. Pedro do Sul, Gouveia e Almeida. É este o papel que os institutos politécnicos têm e que uma universidade não faz, pelo que qualquer tipo de fusão que pudesse vir a ser pensada teria um enorme prejuízo para as pessoas e a região.

Essa questão da fusão nunca foi colocada?

Não. É apenas uma questão que anda na cabeça de algumas pessoas pouco entendidas, que andam distraídas, ou que têm alguma hipocrisia - como eu vi há dias na televisão um responsável político afirmando que enquanto ministro a sua preocupação foi de que na Covilhã, Castelo Branco e Guarda não se repetissem as mesmas formações, quando ele no mesmo ano aprovou o mesmo curso nos três locais. Quem está nos grandes centros urbanos defende o centralismo e olha para o país num perspetiva geográfica. Mas eu respondo, como afirma o próprio Secretário de Estado: se há falta de racionalidade ela encontra-se em Lisboa. Pois Lisboa não precisa de ter 10 instituições de ensino superior público. A fusão nunca foi colocada, nem discutida, e existe a convicção de que não é solução.

Falámos na reorganização do ensino superior, o que é certo é que continua praticamente tudo na mesma no que respeita à distribuição de vagas de acesso pelas instituições…

IMGP4877 cópia.jpgEste é o grande problema. Os políticos pensam sempre que são as instituições que têm que fazer esse trabalho. Para haver uma reorganização da rede e da oferta o Estado não se pode demitir das suas funções. O Estado tem o dever e a obrigação de escolher onde quer alocar os seus recursos. E a verdade é esta: o Estado tem instituições com capacidade instalada em determinadas regiões do país, as quais podem formar mais alguns milhares de pessoas sem gastarem mais um euro. Porquê é que está (o Estado) a gastar mais dinheiro na contratação de docentes e em estruturas junto de instituições dos grandes centros urbanos? O que precisamos é de uma política clara do Governo. Não se pode pedir a estas instituições, como o IPG, que fechem cursos, pois isso não vai significar que tenhamos mais alunos. Tem é que haver uma política nacional que abranja universidades e politécnicos e que enfrente os lóbis. Então se se cortaram 20% das vagas nos cursos de ensino básico, porque é que não se cortam em áreas como o direito ou da psicologia que estão sem mercado de trabalho? Tenha-se a coragem de fechar vagas no litoral e nesse tipo de formações. Vão-nos perguntar, então mas assim vamos obrigar a deslocar os alunos e a fazer cursos que não gostam? E porque não? Afinal não é esse também o papel do Estado, alocando os recursos onde eles são necessários. Porque é que o Estado deve estar a financiar a formação de mais advogados quando não precisa deles, quando o que necessita são engenheiros?

No seu discurso referiu que mais do que discutir cenários mais tenebrosos, importava que o instituto fosse criativo, forte e ousado. O IPG está a ser isso?

Procuramos sê-lo. Quando saímos da cidade e vamos lecionar noutros locais estamos a ser ousados. Mas estamos a se-lo no envolvimento com a sociedade, através de diversos projetos ao nível do QREN, com ligação a empresas, de forma a angariarmos receitas e colocarmos de lado a tentação de dispensar recursos. A minha prioridade é procurar encontrar formas de ultrapassar os problemas, não só no que respeita ao orçamento, mas também para captar outro tipo de alunos. Isto significa captar receitas, fazer outro tipo de formações e possibilitar que os nossos docentes se envolvam noutros projetos e atividades, que criem eventualmente empresas.

Abordou a questão da captação de novos públicos. O ensino profissional pode ser um dos caminhos?

Tem havido nos últimos cinco anos um decréscimo no número de alunos que conclui o 12º ano pela via normal, o qual é acompanhado por um aumento no número de alunos que o concluem no ensino profissional. Estes últimos são alunos, que na sua maioria, não entram para o ensino superior. Numa fase em que o país não tem empregos, em que as profissões são mais exigentes - e temos que ter a consciência que um aluno que termine um curso profissional não está preparado para o mercado de trabalho para exercer uma função técnica qualificada -, temos que olhar para esse grupo de alunos e ver se não o podemos captar para o ensino superior. Refiro-me concretamente aos cursos mais especializados que estão na fileira dos profissionais. Deve-se estudar uma forma para se encontrar uma via especial - e não estou a defender facilitismos - para que esses alunos possam entrar diretamente no ensino superior sem terem que passar pelas provas de ingresso. Eu dou um exemplo: um aluno que tenha concluído um curso profissional de cozinha e restauração. O que é que se perderá se ele entrar num curso de catering e restauração? Será que as provas de ingresso lhe acrescentam algo às suas competências? Se encontrarmos este caminho, criando por exemplo um contingente de vagas específicas, os institutos politécnicos poderão ter um novo fôlego como o que tivemos nos Maiores de 23 anos. Estamos a falar de 10 a 15 mil alunos que concluem os cursos profissionais.

No que respeita à oferta formativa há novos cursos para o próximo ano?

Não. Não fizemos qualquer proposta à Agência de Avaliação e Acreditação. Não estamos em fase de andar numa fuga para a frente. A prioridade é consolidarmos as formações que temos. Os próprios mestrados estão a perder força - o número de mestrandos reduziu em todo o país. Há uma área, que é da saúde, que poderia ter novas ofertas. Mas só o faremos quando tivermos condições para o fazer, com a certeza de que vão ser aprovados pela Agência. Aquilo que temos desenvolvido são pós-graduações em parcerias. Se elas resultarem poderão dar origem a mestrados.



Já no que respeita a doutoramentos, estamos desenvolver um em parceria com a Universidade da Beira Interior e Politécnico de Viseu, na área da enfermagem, numa lógica de consórcio. Trata-se de um curso cuja proposta foi apresentada à A3ES pela UBI.

Na avaliação da A3ES os institutos politécnicos tiveram uma boa prestação?

É uma avaliação que corresponde à verdade. Os politécnicos não são instituições de menor qualidade que as universidades, e a prova disso é que a quantidade de cursos que na primeira fase foi fechado nas universidades é superior aos dos politécnicos.

Na área da investigação, o IPG está a atingir os seus objetivos?

Em termos genéricos, sim. Nós não podemos comparar uma universidade centenária com uma instituição com 30 anos. Demos passos muito importantes nesta área. A nossa preocupação é que os nossos investigadores desenvolvam projetos para as empresas e organizações. Queremos que os nossos docentes façam a sua investigação de forma a que ela tenha consequências práticas e que até possam dar origem a empresas. Um exemplo disso é o Magic Key.

A internacionalização é outro fator determinante. Nesta área a assinatura de um protocolo entre o Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos e os Institutos Federais Brasileiros que prevê a vinda de alunos para cá, é um dado importante?

Sem dúvida. Estamos muito esperançados, pois esse acordo prevê a vinda de 1500 alunos brasileiros para os institutos politécnicos portugueses. Este acordo mostra a força e a união dos politécnicos - pois para as universidades teve que haver a intervenção do Governo.

O Politécnico da Guarda tem tido também uma forte ligação a Cabo Verde. Temos também alguns projetos com Moçambique e Angola.



 

 
 
 
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