Constantino Rei, presidente do Politécnico da Guarda, não tem dúvidas:
IPG está mais criativo e ousado
O
Instituto Politécnico da Guarda é o principal motor de
desenvolvimento da região da Guarda. Constantino Rei, o seu
presidente, volta a reforçar essa ideia na entrevista concedida ao
Ensino Magazine, onde refere que a questão da fusão de instituições
nunca foi colocada e que a Guarda precisa de uma instituição de
ensino superior forte, como o é o IPG.
Durante a
sessão solene do aniversário do IPG, fez questão de sublinhar a
importância que o Instituto Politécnico tem para a região da
Guarda. A sociedade ainda não tinha percebido a importância do IPG
e aquilo que ele representa?
É importante nós reforçarmos todos
os dias essa mensagem. Infelizmente, sobretudo na cidade da Guarda,
mas também na sua área envolvente, houve um divórcio entre a
sociedade e o Instituto, durante muitos anos. Ou seja durante algum
tempo não fomos vistos da melhor maneira, sobretudo por parte de
algum poder político e institucional que é importante termos ao
nosso lado. Por isso, achamos que é sempre importante passar essa
mensagem, sobretudo numa fase em que se discute muito a
reorganização e a racionalidade, como se a racionalidade económica
fosse o mais importante nesta questão. Foi nesse sentido que
quisemos mostrar às pessoas, com números e evidências, de forma a
que as pessoas deixem de fazer afirmações com base naquilo que
acham, sem terem números. Isto acontece porque ainda não existe uma
simbiose perfeita entre a comunidade e o instituto. Embora nos
últimos quatro anos tenham sido dados passos positivos.
Esses
números divulgados (onde era referido que o IPG tem um impacto de
mais de 24 milhões de euros na região) faziam parte de um estudo.
Há mais alguns dados que possa adiantar?
Neste momento o estudo está em fase
de conclusão. O estudo pretende dar a ideia geral da importância
que tem o Politécnico da Guarda para a cidade e para a Região, pois
o Instituto não é apenas um conjunto de professores, funcionários
ou alunos que estão aqui. É muito mais do que isso. É aquilo que
todas essas pessoas e famílias aqui gastam. Acredito que os números
sejam bastante superiores às estimativas apresentadas.
Isto vem
demonstrar a importância que as instituições como o IPG têm para
com o interior do país e para a equidade territorial…
Claro que sim. Não só pela riqueza
e pela fixação de pessoas, mas sobretudo pela possibilidade que é
dada às pessoas que resistem e que ainda cá vivem e trabalham, de
poderem fazer a sua formação. Há pessoas e profissionais no ativo,
que se não estudarem aqui não o podem fazer noutro lado. E aqui
entra outra questão, que procura dar resposta a essas pessoas, e
que passa pela realização de cursos de especialização tecnológica
(CET's). Temos descentralizado essa formação, tendo realizado CET's
em S. Pedro do Sul, Gouveia e Almeida. É este o papel que os
institutos politécnicos têm e que uma universidade não faz, pelo
que qualquer tipo de fusão que pudesse vir a ser pensada teria um
enorme prejuízo para as pessoas e a região.
Essa
questão da fusão nunca foi colocada?
Não. É apenas uma questão que anda
na cabeça de algumas pessoas pouco entendidas, que andam
distraídas, ou que têm alguma hipocrisia - como eu vi há dias na
televisão um responsável político afirmando que enquanto ministro a
sua preocupação foi de que na Covilhã, Castelo Branco e Guarda não
se repetissem as mesmas formações, quando ele no mesmo ano aprovou
o mesmo curso nos três locais. Quem está nos grandes centros
urbanos defende o centralismo e olha para o país num perspetiva
geográfica. Mas eu respondo, como afirma o próprio Secretário de
Estado: se há falta de racionalidade ela encontra-se em Lisboa.
Pois Lisboa não precisa de ter 10 instituições de ensino superior
público. A fusão nunca foi colocada, nem discutida, e existe a
convicção de que não é solução.
Falámos na
reorganização do ensino superior, o que é certo é que continua
praticamente tudo na mesma no que respeita à distribuição de vagas
de acesso pelas instituições…
Este é o grande problema. Os políticos
pensam sempre que são as instituições que têm que fazer esse
trabalho. Para haver uma reorganização da rede e da oferta o Estado
não se pode demitir das suas funções. O Estado tem o dever e a
obrigação de escolher onde quer alocar os seus recursos. E a
verdade é esta: o Estado tem instituições com capacidade instalada
em determinadas regiões do país, as quais podem formar mais alguns
milhares de pessoas sem gastarem mais um euro. Porquê é que está (o
Estado) a gastar mais dinheiro na contratação de docentes e em
estruturas junto de instituições dos grandes centros urbanos? O que
precisamos é de uma política clara do Governo. Não se pode pedir a
estas instituições, como o IPG, que fechem cursos, pois isso não
vai significar que tenhamos mais alunos. Tem é que haver uma
política nacional que abranja universidades e politécnicos e que
enfrente os lóbis. Então se se cortaram 20% das vagas nos cursos de
ensino básico, porque é que não se cortam em áreas como o direito
ou da psicologia que estão sem mercado de trabalho? Tenha-se a
coragem de fechar vagas no litoral e nesse tipo de formações.
Vão-nos perguntar, então mas assim vamos obrigar a deslocar os
alunos e a fazer cursos que não gostam? E porque não? Afinal não é
esse também o papel do Estado, alocando os recursos onde eles são
necessários. Porque é que o Estado deve estar a financiar a
formação de mais advogados quando não precisa deles, quando o que
necessita são engenheiros?
No seu
discurso referiu que mais do que discutir cenários mais tenebrosos,
importava que o instituto fosse criativo, forte e ousado. O IPG
está a ser isso?
Procuramos sê-lo. Quando saímos da
cidade e vamos lecionar noutros locais estamos a ser ousados. Mas
estamos a se-lo no envolvimento com a sociedade, através de
diversos projetos ao nível do QREN, com ligação a empresas, de
forma a angariarmos receitas e colocarmos de lado a tentação de
dispensar recursos. A minha prioridade é procurar encontrar formas
de ultrapassar os problemas, não só no que respeita ao orçamento,
mas também para captar outro tipo de alunos. Isto significa captar
receitas, fazer outro tipo de formações e possibilitar que os
nossos docentes se envolvam noutros projetos e atividades, que
criem eventualmente empresas.
Abordou a
questão da captação de novos públicos. O ensino profissional pode
ser um dos caminhos?
Tem havido nos últimos cinco anos
um decréscimo no número de alunos que conclui o 12º ano pela via
normal, o qual é acompanhado por um aumento no número de alunos que
o concluem no ensino profissional. Estes últimos são alunos, que na
sua maioria, não entram para o ensino superior. Numa fase em que o
país não tem empregos, em que as profissões são mais exigentes - e
temos que ter a consciência que um aluno que termine um curso
profissional não está preparado para o mercado de trabalho para
exercer uma função técnica qualificada -, temos que olhar para esse
grupo de alunos e ver se não o podemos captar para o ensino
superior. Refiro-me concretamente aos cursos mais especializados
que estão na fileira dos profissionais. Deve-se estudar uma forma
para se encontrar uma via especial - e não estou a defender
facilitismos - para que esses alunos possam entrar diretamente no
ensino superior sem terem que passar pelas provas de ingresso. Eu
dou um exemplo: um aluno que tenha concluído um curso profissional
de cozinha e restauração. O que é que se perderá se ele entrar num
curso de catering e restauração? Será que as provas de ingresso lhe
acrescentam algo às suas competências? Se encontrarmos este
caminho, criando por exemplo um contingente de vagas específicas,
os institutos politécnicos poderão ter um novo fôlego como o que
tivemos nos Maiores de 23 anos. Estamos a falar de 10 a 15 mil
alunos que concluem os cursos profissionais.
No que
respeita à oferta formativa há novos cursos para o próximo ano?
Não. Não fizemos qualquer proposta
à Agência de Avaliação e Acreditação. Não estamos em fase de andar
numa fuga para a frente. A prioridade é consolidarmos as formações
que temos. Os próprios mestrados estão a perder força - o número de
mestrandos reduziu em todo o país. Há uma área, que é da saúde, que
poderia ter novas ofertas. Mas só o faremos quando tivermos
condições para o fazer, com a certeza de que vão ser aprovados pela
Agência. Aquilo que temos desenvolvido são pós-graduações em
parcerias. Se elas resultarem poderão dar origem a mestrados.
Já no que respeita a doutoramentos,
estamos desenvolver um em parceria com a Universidade da Beira
Interior e Politécnico de Viseu, na área da enfermagem, numa lógica
de consórcio. Trata-se de um curso cuja proposta foi apresentada à
A3ES pela UBI.
Na
avaliação da A3ES os institutos politécnicos tiveram uma boa
prestação?
É uma avaliação que corresponde à
verdade. Os politécnicos não são instituições de menor qualidade
que as universidades, e a prova disso é que a quantidade de cursos
que na primeira fase foi fechado nas universidades é superior aos
dos politécnicos.
Na área da
investigação, o IPG está a atingir os seus objetivos?
Em termos genéricos, sim. Nós não
podemos comparar uma universidade centenária com uma instituição
com 30 anos. Demos passos muito importantes nesta área. A nossa
preocupação é que os nossos investigadores desenvolvam projetos
para as empresas e organizações. Queremos que os nossos docentes
façam a sua investigação de forma a que ela tenha consequências
práticas e que até possam dar origem a empresas. Um exemplo disso é
o Magic Key.
A
internacionalização é outro fator determinante. Nesta área a
assinatura de um protocolo entre o Conselho Coordenador dos
Institutos Superiores Politécnicos e os Institutos Federais
Brasileiros que prevê a vinda de alunos para cá, é um dado
importante?
Sem dúvida. Estamos muito
esperançados, pois esse acordo prevê a vinda de 1500 alunos
brasileiros para os institutos politécnicos portugueses. Este
acordo mostra a força e a união dos politécnicos - pois para as
universidades teve que haver a intervenção do Governo.
O Politécnico da Guarda tem tido também uma forte ligação a Cabo
Verde. Temos também alguns projetos com Moçambique e Angola.