1ª Coluna

Primeira Coluna
As praxes, o enxovalho e a rede de ensino

João CarregaO assunto já aqui foi apresentado nesta mesma coluna, mas, a acrescentar a todo um conjunto de dificuldades e de assuntos que afetam o ensino superior português, surge agora nas capas de jornais, nos horários nobres dos canais televisivos, nas rádios e nas redes sociais. Refiro-me às praxes académicas e aos exageros que muitas vezes se cometem, com a justificação que é essa a tradição académica. Mas não é!.

As praxes académicas devem servir para acolher os novos estudantes (caloiros) na academia, para os integrar e lhes dar confiança para o primeiro dia do resto das suas vidas no ensino superior. Não deve servir para mais nada a não ser isto. Quando isso acontece, quando se obriga alguém a fazer algo que não quer, sob a ameaça de meses terríveis entre os pares, já não estamos perante uma praxe, mas sim ante um atentado à integridade física e mental, que naturalmente deve ser punida pela justiça.

Muitas instituições já as proibiram, alegadamente devido aos tais excessos cometidos sobre os caloiros. Praxar não é humilhar. Praxar não é tratar mal quem está de novo nas universidades e nos politécnicos. O problema é que em muitos casos quem praxa se acha no direito de fazer o que quer, ameaçando os praxados, ano após ano, acontecendo nalguns casos que os praxados ainda vão acabar o seu curso mais depressa do que os autores das ditas práticas, os quais teimam em continuar a praxar, tirando assim uma licenciatura em praxes sem direito ao mercado de trabalho.

Quem passou pelo ensino superior sabe que é assim. Quem entrou caloiro na verdadeira ascensão da palavra (não incluo aqui os trabalhadores estudantes ou os maiores de 23), sabe que é assim. E, aqueles que foram acolhidos e integrados com espírito académico e sem humilhações, ainda hoje sentem orgulho de terem sido praxados.

Como em tudo na vida, só quando as coisas correm mal, é que se colocam as trancas à porta. Muitas instituições de ensino superior, lideradas por pessoas que também, no seu tempo foram caloiros e veteranos, já tinham suspendido e condenado práticas abusadoras. Os próprios tribunais já tomaram as suas decisões, nalguns casos, condenações.

Perante os acontecimentos recentes, o Ministério da Educação garantiu ir discutir o assunto com reitores de universidades, presidentes de politécnicos, associações académicas. Certamente que é importante que a questão seja discutida, mas os problemas que realmente afetam o ensino superior são outros. São a reorganização da rede de ensino e da oferta formativa, é o financiamento das instituições, a coesão territorial, a investigação ou as bolsas aos alunos em maiores dificuldades. Esperemos que estas questões não passem agora para segundo plano, pois se isso acontecer também o verdadeiro espírito académico sai prejudicado…

 
 
 
Edição Digital - (Clicar e ler)
 
 
Unesco.jpg LogoIPCB.png

logo_ipl.jpg

IPG_B.jpg logo_ipportalegre.jpg logo_ubi_vprincipal.jpg evora-final.jpg ipseutubal IPC-PRETO