Editorial
E se deixassem a Escola em paz?
A educação é um projecto de cultura e de
humanização que a obriga a determinar valores e objectivos que toda
a comunidade envolvente deve cumprir. Isso exige uma grande
abertura aos novos horizontes, às novas solicitações, às novas
oportunidades, para que não sejam, mais tarde, oportunidades
perdidas. É por isso que para os educadores a compreensão da
mudança controlada dos valores que cada nova geração transporta
para a escola, deve ser uma das formas de dar sentido à realidade
do que fazem, clarificando a dimensão social e ética das suas
práticas.
A sociedade do século XXI necessita de profissionais
que sejam capazes de transformar os obstáculos em desafios, e estes
em processos de inovação, e que saibam também identificar as suas
características específicas, potenciando-as através da
identificação das funções e competências que esse impulso renovador
lhes irá exigir.
Mas, para que esse investimento pessoal e profissional
resulte em eficiência organizacional, torna-se, a nosso ver,
indispensável que se conjuguem seis condições, ou objectivos
básicos de intervenção: 1ª- Conceder aos educadores
autonomia de decisão quanto à elaboração de projectos curriculares,
a partir de um trabalho sistemático de indagação, partilhado com os
seus colegas. 2ª- Prestar especial atenção à
integração da diversidade dos alunos, num projecto de educação
compreensiva, que atenda às características e necessidades
individuais. 3ª- Manter um alto nível de preocupação
quanto ao desenvolvimento de uma cultura de avaliação do trabalho
individual e do funcionamento organizacional das escolas.
4ª- Associar a flexibilidade à evolução, face ao
reconhecimento que os professores detêm diferentes ritmos para
atingirem os objectivos que os aproximem dos indicadores sociais da
mudança. 5ª- Manter uma grande abertura às propostas e
às expectativas de participação de todos os elementos da comunidade
educativa, enquanto condição para promover a ruptura que conduz à
renovação. 6º- E, finalmente, terminar com a política
de terrorismo contra os professores e contra a escola
pública.
Infelizmente, os tempos que correm não têm permitido
alimentar este tipo de optimismos. Razões alheias ao crescimento
profissional dos docentes, como o são as ancoradas na crise
demográfica e, sobretudo nas irracionais e conservadoras medidas de
política educativa que visam a mudança pela mudança com o objectivo
de implodir a escola pública, democrática e inclusiva; que
privilegiam os números do orçamento e a estatística por medida, à
promoção do desenvolvimento pessoal dos educadores e dos seus
alunos; tudo isto, dizíamos, anunciam tempos de ruptura e
contestação pouco favoráveis à reflexão serena sobre o futuro da
escola.
Pode ser que o pesado
calendário de consultas eleitorais que se presta a iniciar obrigue,
demagogicamente, como vai sendo habitual, os responsáveis por este
medíocre Ministério da Educação a agirem mais com as pessoas e
menos, como também vai sendo costume, contra elas.