Politécnico de Viseu tem impacto de 69 milhões
Um IPV forte e com autonomia
O Instituto Politécnico de Viseu (IPV) teve, em
2012, um impacto na economia da região em que está inserido de
69,33 milhões de euros. Um valor significativo que no entender do
seu presidente, Fernando Sebastião, demonstra a importância daquela
instituição de ensino superior de Viseu. Os resultados surgem após
um estudo científico que veio alertar para a importância da
instituição. "Este estudo demonstrou também que a partir de um
financiamento de cerca de 15 milhões de euros por parte do Estado,
o IPV tem um impacto de 69,33 milhões de euros na região. Ou seja,
tem um retorno de cinco vezes mais. Isto demonstra que o ensino
superior para o Estado não é uma despesa, mas um grande
investimento, pelo seu impacto económico, mas sobretudo pela
qualificação que está a ser feita, e pelo impacto que tem no tecido
empresarial".
Fernando Sebastião recorda que o
"Politécnico de Viseu é a única instituição pública de ensino
superior que existe em Viseu. Somos solicitados pelos diversos
agentes económicos, culturais e sociais, para darmos resposta a
diferentes necessidades. Por isso temos uma oferta formativa
variada de qualidade. Se não houvesse Politécnico, Viseu não seria
a cidade que é hoje, a qual subiu a sua população em cerca de
6%".
Para o presidente do IPV são vários
os objetivos que a instituição enfrenta no futuro. "O grande
desafio é passar este período de crise que o país atravessa e as
dificuldades financeiras por que passam todas as instituições de
ensino superior, de forma a que o Politécnico continue com as suas
valências, de forma a que continue a prestar o seu serviço à região
e ao país".
O presidente do IPV explica que
esse objetivo não é fácil, sobretudo devido aos cortes orçamentais
que o ensino superior tem sofrido. "Em três anos tivemos cerca de
30 por cento de redução do financiamento do Estado. Além disso,
regista-se o facto dos estudantes terem mais dificuldades em pagar
as propinas. Daí que tenhamos procurado receitas alternativas,
através de projetos de investigação aplicada e do recurso a fundos
comunitários", diz.
Fernando Sebastião mostra-se
preocupado com a situação dos alunos. "As bolsas de estudo têm sido
importantes, pois ajudam os alunos em dificuldades. É pena que haja
muitos alunos que ficam na franja entre ter bolsa e não ter, mas
que têm muitas dificuldades. Ainda assim, da nossa parte temos
permitido que o pagamento das propinas, em determinados casos,
possa ser feito em mais prestações, por exemplo mensalmente, e às
vezes mais tarde. Isto porque não queremos que os alunos sejam
prejudicados. Fazemos tudo o que está ao nosso alcance e dentro da
lei. Também temos cerca de 300 camas nas residências de estudantes,
o que constituiu um importante apoio, e os custos da cidade também
não são elevados".
Numa altura em que se fala da
reestruturação da rede de ensino superior em Portugal, Fernando
Sebastião considera que "Portugal não tem ensino superior a mais.
Tem havido uma falta de regulação por parte da tutela. Os
argumentos que têm sido invocados para a reestruturação da rede
resultam apenas do concurso nacional de acesso em que há um número
de cursos que apresentam uma taxa de ocupação baixa. Acontece que
essa taxa não é real, pois há outras formas de captar alunos, como
os maiores de 23, os reingressos ou os CET's. E estes regimes têm
um peso de 30% do total das vagas ocupadas".
O presidente do IPV acrescenta que
"até há dois anos atrás, o número total de cursos estava
controlado. Não podíamos abrir no regime normal (diurno) um número
de cursos superior ao que tínhamos no ano anterior. Isso só era
possível nos cursos pós-laborais, para permitir que quem estivesse
no mercado de trabalho pudesse ter acesso a formação superior. Mas
há dois anos a esta parte, passou a haver a possibilidade das vagas
dos cursos noturnos transitarem para o diurno. Isto significa que
sem haver um crescimento global no número de vagas, foram injetadas
no ensino diurno mais seis ou sete mil vagas. Isto trouxe dois
problemas: primeiro reduziu as vagas para quem é estudante
trabalhador e pretendia ir para um curso pós-laboral, e alargou
demasiado o número de vagas no diurno, o que prejudicou o interior
do país, pois é onde há menos jovens".
Fernando Sebastião, refere que
reduzir vagas no litoral pode não "ser muito bem aceite por muitas
instituições. Mas em determinadas áreas deveria ser feito um
ajustamento de vagas a nível nacional. Tem que haver regulação para
permitir menos vagas no litoral e no interior, o que permitiria uma
distribuição mais homogénea dos estudantes". E acrescenta:
"instituições como o Politécnico de Viseu têm que ter um leque
alargado de formações. Só assim conseguiremos dar resposta ao
mercado empresarial e permitir que as pessoas possam escolher um
curso numa área que tem interesse. Tem que existir diversidade. Por
isso, defendo uma oferta variada por região. Nós temos seis mil
alunos, e cerca de 30 por cento desse número referiu que se não
houvesse Politécnico não iria estudar. Estamos a falar de uma
instituição que tem feito um grande esforço na qualificação do
corpo docente, hoje temos 150 doutorados e há mais 100 docentes que
este ano vão terminar o seu doutoramento. E isso tem tido reflexo
na produção científica, na investigação, na qualidade de ensino e
na ligação com as empresas. Não foi por acaso que assinámos com a
Sonae para a criação de um centro de competência da Microsoft, que
criará 150 postos de trabalho, e que é também um certificado de
qualidade da nossa instituição".
O presidente do IPV aborda também a
questão das alterações do ingresso ao ensino superior. Aquele
responsável dá o exemplo das engenharias, onde é exigido que os
candidatos tenham positiva nas específicas de física e matemática,
e onde o número de candidatos é cada vez menor. Fernando Sebastião
entende que seria mais justa a média entre os resultados das provas
específicas e as notas obtidas na escola pelos alunos. "A prova
específica é eliminatória. Há alunos que tiveram positiva no final
do secundário, mas que numa das provas específicas não conseguiram
nota positiva e assim não se puderam candidatar", diz.
Quando confrontado com a
reorganização da rede, em termos de agregações ou fusões, Fernando
Sebastião é claro na resposta: "nós somos a única instituição de
ensino superior pública de Viseu, temos cerca de seis mil alunos,
temos massa crítica e dimensão para sermos uma instituição que se
afirme por si própria. Ou seja, nós não somos favoráveis a fusões
ou a agregações seja com quem for. Nós devemos manter a nossa
autonomia e continuar a fazer o trabalho que tem sido feito até
aqui".
A questão sobre a formação
ministrada pelas ESE's, a qual foi criticada pelo ministro da
Educação, também foi focada por Fernando Sebastião. Sem querer
entrar em polémica, o presidente do IPV diz que "as declarações
foram infelizes, até porque não correspondem à realidade. A
estrutura curricular dos cursos de formação de professores está
regulamentada por Lei e é a mesma das universidades. Por outro
lado, há a Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior e
a legislação que define a qualificação do corpo docente. O processo
de avaliação dos cursos é exaustivo e no nosso caso, o curso foi
acreditado, à primeira, por cinco anos - que é o número máximo. Não
há nenhuma razão para se dizer que a formação da ESE's é inferior à
das universidades. Aliás, as ESE's até têm uma maior experiência na
formação de professores que as universidades. Para além disso, as
ESE's sempre fizeram formação contínua de professores e cursos de
profissionalização de docentes".
A concluir, o presidente do IPV aborda também a questão dos
cursos de ensino superior de curta duração (2 anos). "Nós estaremos
disponíveis, pelo menos nalgumas áreas, em avançar com esses
cursos, os quais permitirão que estudantes do secundário possam vir
a ter uma via alternativa para entrar no mercado de trabalho, um
pouco à semelhança do que acontece com os atuais Cursos de
Especialização Tecnológica (CET's)". No entanto, Fernando Sebastião
explica que a avançar-se para estes cursos de dois anos, não "faz
sentido manterem-se os CET's nem nas instituições de ensino
superior, nem nas de ensino profissional. Por outro lado, estes
cursos só serão atrativos se permitirem que os estudantes possam
prosseguir para o ensino superior, como acontece com os CET's. Caso
contrário estes cursos não terão sucesso".