Qualidade com sistema acreditado
O Instituto Politécnico da Guarda (IPG) é o segundo
politécnico do país a ver o seu sistema de garantia de qualidade
acreditado por parte da Agência de Avaliação e Acreditação do
Ensino Superior. Constantino Rei, presidente do IPG, mostra-se
satisfeito com o facto e em entrevista ao Ensino Magazine explica
qual seria a sua aposta para a instituição. Sem preconceitos
abordou a aproximação e os entendimentos com a Universidade da
Beira Interior e lamentou o facto do secretário de Estado do Ensino
Superior não ter dado luz verde à estratégia que o IPG e a UBI lhe
apresentaram. A entrevista aqui fica.
O sistema
de garantia de qualidade do Instituto Politécnico da Guarda vai ser
acreditado pela Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino
Superior. Qual o significado dessa acreditação?
Essa acreditação vai acontecer, no
máximo dentro um mês, e seremos o segundo politécnico do país a ter
esse sistema acreditado, o que é bastante importante. Nós já
tínhamos a nossa cultura e historial montados. A ESTG já desde 2006
que tinha sido certificada pela norma ISO 9000. Aquilo que fizemos
foi alargar tudo isso ao Politécnico. Desde 2010 que temos vindo a
trabalhar nesse sentido. Criámos um gabinete para atingirmos esse
objetivo, o qual foi uma proposta da minha candidatura.
Recentemente foi divulgado um estudo que referia que o IPG tem um
impacto direto na região de cerca de 30 milhões de euros…
Esse é um valor que foi apresentado
por baixo, pois houve muita cautela nos pressupostos e nas
previsões, e também porque estamos a trabalhar dados de um período
de recessão. Há quatro ou cinco anos atrás o impacto seria maior.
Mas o importante foi sensibilizarmos a comunidade, os atores e
decisores políticos, para a importância que o IPG tem. Muitas vezes
as pessoas só quando sentem os problemas é que se lembram da
importância destas instituições. A cidade muitas vezes critica e
não apoia, mas esquece os benefícios que tem por existir o IPG. 30
milhões de euros é um peso muito importante. Isto é também um
alerta para aquilo que aqui está em jogo.
Uma das
questões que tem estado em cima da mesa é a reorganização da rede
de ensino superior. O professor já defendeu um entendimento claro
com a Universidade da Beira Interior, mais alargado do que simples
parcerias. Como é que está esse processo?
No Politécnico da Guarda não
estivemos à espera de nenhuma carta do secretário de Estado do
Ensino Superior para fomentar este debate e desde junho que o
fazemos ao nível do Conselho Geral. Houve essa discussão e a
estratégia futura do IPG poderia passar por dois cenários. Um, é o
atual, que passa por manter a nossa autonomia. Mas tendo
consciência que não tendo havido nos últimos anos, nem se
perspetivando para o futuro, nenhum tipo de medidas que protejam as
instituições de ensino superior do interior do país, essa opção vai
conduzir-nos ao emagrecimento das instituições. E se é verdade que
muitos politécnicos já vêm registando um decréscimo da ordem dos
40% no número de alunos, há que referir que esse decréscimo vai
acentuar-se ainda mais.
O outro caminho, que é aquele que
eu defendi, passa por uma aproximação à UBI e, por que não, a
Castelo Branco. No fundo retomava-se a ideia de ser criada uma
universidade para toda a região, embora hoje a realidade seja
diferente daquela que se vivia nos anos 70. Há toda uma história
por trás das instituições, há escolas, as instituições e dois
subsistemas de ensino. Mas penso que ainda não era tarde para
constituir uma nova verdadeira universidade regional. Sempre foi
esse o meu entendimento. É verdade que durante dois ou três anos me
convenci que havendo medidas de proteção às instituições de ensino
superior do interior seria preferível manter a autonomia. Mas a
verdade é que nada aconteceu. Por isso, continuo a defender este
segundo caminho, constituindo-se uma nova instituição de ensino
superior com maior capacidade de intervenção na região. É claro que
isso implica reorganização e emagrecimento. Mas isso acontecerá e
será mais grave se nada for feito.
E qual foi
a recetividade das outras instituições de ensino superior da região
centro?
Houve contactos com o presidente do Politécnico de
Castelo Branco, o qual referiu que não havia disponibilidade para
discutir este tema, mas sim apenas para encontrar parcerias de
cooperação. Da parte da UBI houve abertura e nós entendemos que
poderíamos ir mais longe. Mas sempre defendi que antes de
avançarmos, deveríamos discutir os princípios gerais e as
orientações que deveriam servir de suporte a este processo. Os
conselhos gerais das duas instituições mandataram os responsáveis
das instituições para continuarem a dialogar. A conclusão a que se
chegou é que deveria ser criada uma nova universidade, com campus
na Covilhã, Guarda e em Seia, a qual teria os dois subsistemas de
ensino. Uma das condições era que na Guarda fosse criada uma
Faculdade.
Este era um
processo que poderia estar concluído em quanto tempo?
Em dois ou três anos, pois
implicaria a aprovação de novos estatutos da nova universidade. Mas
tanto eu, como o reitor da UBI, entendemos que para além do nosso
acordo, era preciso saber qual a opinião do ministério sobre isso e
também qual a opinião do PS sobre esta matéria. Reunimos com o
secretário de Estado do Ensino Superior, e foi com surpresa que não
vimos nenhuma, ou quase nenhuma, abertura do Governo para este
processo. Não havendo apoio do ministério para esta iniciativa,
voltamos ao cenário zero, preparando-nos para os próximos anos, os
quais vão ser mais complicados que estes últimos.
Portanto
este processo neste momento está em banho-maria?
Está em banho-maria… ou
semimorto…
Mas todo
este diálogo aproximou as duas instituições para outro tipo de
iniciativas?
Ao contrário de alguns colegas
meus, sou muito cético quanto a consórcios e coisas do género. E
será para esse cenário que o senhor secretário de Estado vai. Na
minha perspetiva não vai haver nenhuma reforma do ensino superior,
mas sim um despacho de vagas que vai fechar mais alguns cursos. E a
reforma vai ficar por aqui, com uma clara menorização do ensino
superior politécnico. Essa menorização do ensino politécnico é
clara por parte do senhor secretário de Estado.
Mudando de
assunto. Uma das orientações da tutela passa pela criação de órgãos
de coordenação de ensino superior ao nível das NUT's II…
É algo com que discordo em
absoluto, pois está a ser proposta a criação desse órgão que
envolve os presidentes e reitores de instituições. Esse órgão, com
mais de 20 pessoas, dará as suas recomendações. Acho que tudo isto
é um absurdo e é brincar às reformas. Eu admito este órgão regional
se ele trabalhar com um órgão nacional. E há um órgão nacional que
foi criado, mas que ainda não tem todas as personalidades
escolhidas. Fiquei estupefacto quando ouvi o senhor secretário de
Estado do Ensino Superior dizer que não coloca esse órgão nacional
a funcionar porque não há, em Portugal, muita gente que perceba
muito de ensino superior. Ou seja, para um órgão nacional não há
pessoas conhecedoras, mas há gente para os órgãos regionais.
Recentemente o Ministro da Educação disse duvidar da formação
ministrada pelas ESE's. Enquanto presidente do IPG como é que
analisa todo este processo?
Face àquela declarações, o ministro
tinham duas alternativas: ou pedia desculpas públicas ou se
demitia. O CCISP entendeu, e muito bem, que face a essas
declarações e, ao posterior comunicado do Ministério - o qual diz
que não disse o que toda a gente ouviu-, que não há margem para
diálogo com este ministro. Já tenho dúvidas sobre a posição que as
ESE's (a escola da Guarda não pertence à Aripese) adotaram e que
foi inferior à dos presidentes dos politécnicos.
Estas declarações vêm também na
linha de rebaixamento e de desprezo que este ministério tem tido
com o ensino superior politécnico. Algo que também foi manifestado
no acordo entre o Instituto de Emprego e as universidades para
fazerem formação de empresários, onde a generalidade dos
politécnicos foi esquecida; e mais grave ainda quando na semana
passada foi assinado entre o AICEP e as universidades um protocolo
com vista à internacionalização, ficando os politécnicos de lado.
Utilizando as palavras do senhor secretário de Estado, nós estamos
a ser empurrados para sermos escolas profissionais avançadas.
...Que são
os cursos de dois anos?...
São os cursos de dois anos e
infelizmente temo que alguns dos politécnicos do interior não sejam
mais que isso. Esses cursos mostram a falta de orientação e
capacidade de decisão do ministério. Em maio ou junho foi-nos
apresentado um projeto de Decreto Lei, sobre o qual apresentámos um
conjunto de propostas, onde referimos que os cursos como nos foram
apresentados não fazem sentido nenhum. Nós neste momento não
conhecemos mais nada sobre esse projeto. São cursos que não
conferem grau académico e visam o mesmo público alvo dos CET's.
Solicitámos (CCISP), há dois meses, ao secretário de Estado que nos
enviasse de novo o projeto de Decreto Lei para que os pudéssemos
analisar, antes de o enviar para o Conselho de Ministros. Houve
esse comprometimento, mas ainda não recebemos nada. Recentemente
fomos confrontados com declarações de que o Decreto Lei estaria
para aprovação em Conselho de Ministros. Se isso acontecer o
secretário de Estado está a faltar a um compromisso que ele próprio
assumiu. E aí os politécnicos devem-se recusar a ministrar este
tipo de formação. Estes cursos não servem os politécnicos e só
servem para nos enganar. Se se mantiverem os CET's atuais e se se
criar uma formação de dois anos nos politécnicos, que se dirige ao
mesmo público alvo, o mercado de trabalho perguntará para que é que
estes novos cursos servem. Mais vale continuar a fazer os CET's,
que já têm reconhecimento do mercado de trabalho e que os jovens já
conhecem, do que implementar os cursos de dois anos. Para além
disso, nós vamos estar a concorrer com as escolas profissionais
onde os alunos ainda recebem bolsas por cursos semelhantes, e nos
politécnicos teriam que pagar.
Mas teme
que acabem as licenciaturas e os mestrados nessas instituições de
ensino superior?
Não temo que isso aconteça. Mas vão
acabar muitas, e quando isso suceder terminam também os mestrados.
Haverá corpo docente a mais, teremos menos capacidade de
intervenção e de investigação. Não concordo com o discurso que
vamos dar doutoramentos e que seremos universidades de ciências
aplicadas, pois mais depressa fechamos as portas do que isso
acontece. Esta é a minha opinião, mas oxalá esteja enganado.