Editorial
Por uma escola de qualidade
Em toda a União Europeia se revelam
evoluções significativas quanto ao conteúdo a dar ao termo
"qualidade em educação" ou "qualidade da Escola".
Quase todos os sistemas educativos
tentam desenvolver procedimentos de qualidade, promover a melhoria
contínua de formação do seu corpo docente, fazer com que a educação
e a formação sejam permanentes, isto é, ao longo da vida, bem com
requalificar os gastos públicos com a educação, através de uma
relação mais positiva entre custos e eficácia.
Este debate que se generalizou no
seio dos sistemas educativos europeus, tem vindo a colocar no
centro da controvérsia a evolução desejada para a educação e a
formação, já que estes temas emergem da necessidade de promover,
definir, avaliar e manter a qualidade da escola pública.
Porém, e infelizmente, quase sempre
as propostas de mudança que nos são sugeridas têm uma base
meramente economicista (muito em voga nestes tristes tempos de
neoliberalismo desenfreado) e em nada ajudam a escola e os
educadores a cumprir o seu pacto de missão para com a
sociedade.
A procura dessa qualidade tem sido
vista, nos primeiros anos da educação básica, como a tentativa de
imprimir um novo ênfase à aquisição e controlo de competências
básicas, em particular referentes a três disciplinas fundamentais:
a leitura, a escrita e o cálculo. Por outro lado, tenta-se, nesse
nível, generalizar a aprendizagem de uma língua estrangeira e
incentivar a iniciação às tecnologias da informação.
Neste espírito, dentro e fora do
sistema educativo institucional, professores e formadores
desenvolvem experiências muito inovadoras e que podem resultar em
saltos qualitativos significativos na educação formal.
Também para os adultos se
desenvolvem acções inovadoras como as realizadas pelas
Universidades Seniores ou da Terceira Idade, ou mesmo a Outdoor
Education, desenvolvida entre os Britânicos na segunda metade dos
anos noventa do passado século. No essencial, todas estas inovações
propõem exercícios, ou práticas, que transformam os procedimentos e
conteúdos da formação contínua tradicional, buscando muito mais a
adaptação e reformulação de comportamentos num mundo em mudança
exponencial, mais do que a aquisição de conhecimentos abstractos e
desligados do quotidiano em que têm que aprender a viver essas
crianças e esses adultos.
Todas estas experiências põem em
evidência que, no seio dos velhos sistemas educativos europeus,
ainda existe uma capacidade criativa real entre os professores e os
educadores, os quais só esperam condições de tranquilidade
profissional para os generalizar às suas práticas educativas.
Há entre professores e educadores
mais forças de mudança do que de imobilismo e de estagnação.
As primeiras são
incomensuravelmente mais fortes, e delas depende o futuro educativo
dos nossos jovens.
Mas não é criando artificiais
quadros de crise e afrontando o profissionalismo docente que a
suposta qualidade total chegará às nossas escolas.
Que bem saibamos, não nos
ocorre que se possam traçar cenários de futuro com o desencanto dos
principais protagonistas da viagem.