Opinião
A valorização docente na sociedade atual
A valorização docente é uma responsabilidade de
toda a sociedade, não é só uma questão de professores e
alunos.
De acordo com a
perspectiva histórica, o trabalho do professor está relacionado à
ideia de educação como um processo pelo qual as sociedades
transmitem seus costumes, tradições, valores, ou seja, sua cultura,
sendo a profissão docente o instrumento necessário para
sistematização da transmissão cultural das sociedades. Esse
movimento dialético de criação e transformação do homem e do seu
mundo é o que sociologicamente conceitua-se como cultura. A
oficialização do ensino público ocorre graças a oposição do
imperador Juliano à expansão do cristianismo. Na tentativa de
impedir a contratação de professores cristãos, exige que toda a
nomeação de professor seja confirmada pelo Estado, passando os
professores assim, a defender os interesses do mesmo. Esse
entendimento é necessário, para que possamos contextualizar os
diferentes momentos e exigências já feitas ao papel da escola na
humanidade e por consequência de seus profissionais. Diante disso,
importa agora fazer uma reflexão sobre a docência na atualidade,
pois o assunto tem-se tornado centro de muitos debates, tornando-se
central falar sobre a formação e a valorização do
professor.
Na atualidade, o professor é
colocado, para além dos saberes inerentes à profissão, face a novos
reptos que exigem um conjunto de competências sociais e humanas,
sem as quais se torna inexequível o exercício profissional frente
aos desafios deste século. Assim, os professores são convidados a
desenvolver e liderar um processo de transformação social como
refere Roberto Carneiro em seu livro "Fundamentos da Educação e da
Aprendizagem - 21 ensaios para o século XXI".
Neste século, em que a sociedade já
passou por vários estágios de evolução, avanços científicos e
tecnológicos, a escola ainda permanece como a responsável pela
sistematização do conhecimento através de um corpo docente que nem
sempre recebe a devida atenção no sentido de garantir melhores
condições para o exercício da profissão, tanto da sociedade em
geral como da própria tutela. Ambas exigem do professor formação
constante e nenhuma as valoriza. Em Portugal, o primeiro a
desvalorizar a formação docente (ao menos até o ensino secundário)
é o próprio Ministério da Educação, seguidos das Instituições
Escolares, os próprios colegas e a sociedade. Reportando-se até ao
ensino secundário, a tutela, lhes importa mais o tempo de serviço
prestado pelos seus professores que a formação ou graus académicos
por eles adquiridos após a formação base. Se um professor destina
seu tempo livre em pós graduar-se, mestrear-se ou doutorar-se,
ver-se-á deparado com uma enorme desvalorização de seu novo grau
académico dentro dos centros educativos, já que as políticas
educativas valorizam muito mais o tempo de serviço e as ações de
formação acreditadas pelos centros de formação que a aquisição de
um novo grau académico pelas universidades. Frente a isso, a
sociedade passa a legitimar-se na era da desvalorização do
conhecimento e do labor docente. O estado fornece as ferramentas
para que a fragmentação da classe docente comece pela classe
docente, respaldando a sociedade na desvalorização do esforço e do
conhecimento na obtenção de novos graus académicos (stricto
sensu).
Os pontos levantados aqui têm como
objetivo refletir sobre a valorização docente com vista a
indagarmos até que ponto as políticas públicas estão preocupadas
com o desenvolvimento da educação, entendendo como fundamental sua
contribuição para as demandas sociais, com um projeto de sociedade
e de cidadania e com o desenvolvimento e a paz. Por outro lado,
esses anseios confrontados com a sociedade atual nos colocam
desafios, e a educação por meio do professor, certamente tem um
papel decisivo a desempenhar nessa construção histórica da
sociedade, visto que o trabalho docente é fundamental, por meio da
(re)construção e disseminação do conhecimento, para a escola
enquanto instituição. Uma educação de qualidade exige investimento
na valorização e formação de seus professores para que estes possam
responder a necessidade de um país que quer oferecer de verdade uma
educação de qualidade para todos sem exceção alguma.
A valorização do professor é dever
de toda a sociedade e deve traduzir-se em medidas concretas de
valorização desse profissional. A primeira delas são as condições
de trabalho. Quando se fala que a profissão docente é importante,
todas as condições oferecidas devem refletir isso, senão estar-se-á
reforçando sua desvalorização.