Editorial

Editorial
Formação para toda a vida?

João Ruivo

Um dos aspectos que ressalta da mais recente produção em matéria educativa oriunda dos organismos da União Europeia, reporta-se a um novo entendimento da formação de docentes, no sentido de os preparar para assumirem a mudança permanente como uma das condicionantes do seu percurso profissional. Creio que, quanto a essa afirmação, existe um lato consenso.
Segundo as recomendações divulgadas, a necessidade da melhoria da formação inicial dos docentes não deve esconder a sua função certificante para o exercício da docência, entendendo-a, todavia, como ponto de partida para a formação permanente. Isto é: a formação deve tornar-se contínua, dado que vivemos momentos de precoce desactualização, também ela permanente.
Porém, para ser verdadeiramente contínua, a formação inicial deve ser considerada como condição necessária, mas não imperativamente suficiente para o desenvolvimento da profissionalidade docente. Há mesmo quem a catalogue como o primeiro passo para a desprofissionalização.
Assim sendo, o que se deve exigir de um sistema de formação de professores é que procure corresponder, simultaneamente, ao desenvolvimento pessoal e profissional dos docentes, reconhecendo-se que, cada vez mais, esse desenvolvimento se reparte por diferentes etapas: a do formando candidato a professor, a da indução - que corresponde aos primeiros anos de carreira, e a do professor em exercício, já com alguma experiência profissional, partilhada entre pares.
Este triplo entendimento tem beneficiado, infelizmente, de mais produção teórica do que de correspondentes medidas práticas, pelo que quase que nos atreveríamos a considerar que estamos perante um dos grandes mitos das ciências da educação, o qual tem acompanhado os investigadores no decurso das últimas quatro décadas.
Considera-se que o professor deve ser formado, durante a formação inicial, para ter uma grande capacidade de adaptação. Que deve ser sujeito a uma formação plástica e em banda larga que lhe permita enfrentar os ventos de mudança científica, tecnológica, social e cultural, que ocorrem a um ritmo exponencial. Com isso pretende-se não comprometer a inovação e a renovação desejadas, e consideradas condições indispensáveis à melhoria da qualidade de ensino e da eficácia organizacional das escolas.
Daí a importância da aprendizagem ao longo de toda a vida, da aprendizagem permanente. Daí a responsabilidade que todos aqueles que se encontram envolvidos na educação têm em descobrir que também eles são aprendizes. E este facto releva a principal mudança a que nos referíamos: da educação para a aprendizagem permanente. O que pressupõe uma mente que interroga, uma atitude dinâmica e uma capacidade para continuar a reformular o nosso próprio entendimento das coisas e das nossas convicções pessoais.
Entendida neste contexto, a formação ao longo do percurso profissional deverá fundamentar-se na necessidade e exigência da alteração de atitudes, mentalidades e competências profissionais e pessoais, com vista a um melhor desempenho da prática lectiva, tendo como horizonte a consequente melhoria da aprendizagem e o desenvolvimento integral dos alunos. Alunos esses que são, afinal, a única razão porque ainda existem escolas e professores.
Resta saber até que ponto todos os intervenientes no sistema educativo estão receptivos a assumir e aceitar a decisão de passar do que se diz, ao que faz. Ou, melhor, ao que deveria ser feito. Já que nesta matéria, e no que respeita ao sistema educativo português, poucas experiências significativas alteraram a percepção de que, em termos de custos e eficácia, a formação permanente, quantas e quantas vezes, não tem passado do estatuto mediano de um incontornável jogo de mútuos equívocos.

João Ruivo
Este texto não segue o novo Acordo Ortográfico
ruivo@rvj.pt
 
 
Edição Digital - (Clicar e ler)
 
 
 
 
Unesco.jpg LogoIPCB.png

logo_ipl.jpg

IPG_B.jpg logo_ipportalegre.jpg logo_ubi_vprincipal.jpg evora-final.jpg ipseutubal IPC-PRETO