Musicalbi lança álbum de originais
A vontade de preservar e imortalizar a música portuguesa
Após o lançamento do disco "Lado
Calmo" em 2014, o grupo Musicalbi acaba de lançar oficialmente o
seu novo trabalho discográfico, e o seu primeiro trabalho de
originais, a que deu o nome de "Solidão e Xisto". Um trabalho que
Carlos Salvado, um dos responsáveis da banda, diz, nesta
entrevista, poder ser apresentado em qualquer sala de espetáculos
do mundo.
Fundado em Castelo Branco, em 1983, o grupo é considerado uma das
referências da nova música tradicional, contando com centenas de
espetáculos realizados a nível nacional e internacional. Como
embaixadores, destaque para concertos em Espanha, França, Macau,
China, Polónia e México.
Solidão e Xisto é o
primeiro CD de originais do grupo. O porquê de só agora avançarem
para um projeto de originais, depois de terem lançado seis
discos?
Basicamente porque o Musicalbi sempre foi fiel ao seu objetivo
principal, que é a recolha e a divulgação da música tradicional
portuguesa. No entanto sentimos que tínhamos de dar algo de
diferente ao nosso público, e também porque era já um desejo antigo
começarmos a introduzir originais no nosso repertório. Mas, apesar
de ser um disco de originais, o Musicalbi, teve o cuidado de
respeitar as raízes da música tradicional portuguesa, preconizando
assim um projeto que se distancia do até à data, intersetando os
seus alicerces com sonoridades ditas contemporâneas. Brotou a
vontade de atualizar timbres, de elevar a Beira Baixa, de a
representar e, igualmente, denunciar a sua realidade. Concentrou os
sons tradicionais desde a viola beiroa ao adufe com técnicas atuais
e efeitos musicais que se conjugam com a velha cultura. "Em Solidão
e Xisto" torna-se visível a dicotomia litoral/interior,
evidenciando a desertificação, esquecimento e a solidão tão
características do interior. Deste modo, o Musicalbi amplia o seu
próprio conceito à realização de originais e no seu berço
encontra-se muita motivação e vontade de fazer, preservar e
imortalizar a música portuguesa.
Neste trabalho cantam alguns poetas reconhecidos
internacionalmente, como António Salvado. Esse foi um desafio para
o grupo?
Um desafio que na realidade não foi difícil de concretizar. Quando
assumimos que iríamos arrancar com um projeto de originais,
sabíamos antemão que seria necessário alguém escrever as letras, já
que as músicas estavam a ser elaboradas pelo nosso colega António
Pedro e que também escreveu duas para este CD. Um dos primeiros
nomes que nos veio à cabeça e que era fundamental ter, foi o do
poeta albicastrense António Salvado, sem dúvida a melhor referência
da poesia albicastrense. Os outros letristas surgem por afinidade à
própria Banda e aos seus elementos, a quem lançámos o desafio de
escreverem para nós. E assim surgem os quatro temas da escritora
Joana Lopes, natural da Sertã e já com um trabalho no campo
infantil de reconhecimento nacional; quatro temas do músico e
compositor portuense José Flávio Martins, com quem mantemos um
relacionamento de amizade há mais de 15 anos. Um outro tema foi uma
encomenda que fizemos à jovem fadista Valéria Carvalho que nos
fizesse um poema ligado às romarias e assim surgiu a música
"Senhoras".
O Musicalbi tem já um percurso de 35 anos . Sentem que este é o CD
que fazia falta à vossa discografia?
Claro que sim. Depois de 6 álbuns dedicados à música tradicional,
sobretudo à da região da Beira Baixa, estava na altura de algo
diferente, de mostrarmos ao nosso público e a nós próprios que
também temos essa capacidade de enveredarmos por algo que fugia ao
nosso principal ADN. Apesar disso tivemos o cuidado de respeitar as
raízes, sobretudo pela a aposta timbrica tão própria do Musicalbi,
onde não esquecemos os dois instrumentos mais importantes e com
história, o Adufe e a viola Beiroa.
Uma das particularidades
deste trabalho é a colaboração de outros músicos e a produção de
José Barros, dos Navegante. Como é que surgiu essa
possibilidade?
Inicialmente tínhamos em mente o músico José Flávio Martins, mas
por este estar a construir um novo projeto, não teve essa
disponibilidade. Depois por sugestão de Armando Carvalheda, autor e
produtor do programa Viva a Música da Antena 1, avançamos para José
Barros. Como sabem José Barros é uma das maiores referências da
Música Tradicional Portuguesa, das pessoas que mais experiência e
sabedoria tem neste campo. Após ter ouvido os temas praticamente a
cru, e ter dito que aceitava o desafio porque acreditava muito no
potencial das músicas foi para nós uma satisfação e motivo de
orgulho. O papel dele não só foi importante como produtor, mas
também porque foi o responsável pelas gravações, tendo gravado
também alguns instrumentos e voz e desta maneira ter dado o seu
contributo acompanhou à construção dos temas.
Que tipo de exigências este
trabalho trouxe à banda?
Principalmente no campo financeiro, pelos gastos que este CD nos
exigiu. As gravações foram realizadas em Sintra o que por si
próprio já é sinónimo de gastos, deslocações, refeições,
alojamento, ou seja toda a logística necessária para uma banda
destas ter de sair da cidade durante muitas horas e vários dias
para concretizar este trabalho. Depois ouve a necessidade de
convidarmos alguns músicos que, à partida sabíamos que iriam trazer
uma mais valia na qualidade técnica e artística a este CD. Por
último, a exigência de nos fixarmos de corpo e alma a um trabalho
que deu trabalho e que nos tirou muitas horas e dias ao nosso
quotidiano, à nossa vida diária e sobretudo às nossas famílias. Mas
tudo isto foi sem dúvida ultrapassado depois de vermos, que o todo
o esforço deu um fruto promissor e com muita qualidade.
A Antena 1 fez a pré
apresentação do vosso trabalho, cujo lançamento nacional aconteceu
no passado dia 12 em Castelo Branco. Qual o feedback que têm
tido?
Tivemos o privilégio de ter a Rádio Antena 1 a dar esse destaque ao
CD, bem como igualmente e pela quarta vez consecutiva dos últimos
álbuns, marcarmos presença em direto e ao vivo para o público no
Programa Viva a Música de Armando Carvalheda que decorreu no
passado dia 24 de janeiro. Para nós esta passagem neste programa é
fundamental, não pela importância que ele tem dentro da Antena 1,
sendo que já se faz há cerca de 19 anos, mas também porque é um dos
mais importantes na divulgação da música Folk portuguesa.
"Solidão e Xisto" tem merecido as melhores criticas, não só por
quem assistiu ao espetáculo de lançamento, mas por todos aqueles
que já tiveram oportunidade de ouvir o CD E estas criticas têm
vindo das mais diversas pessoas e personalidades ligadas à cultura
e particularmente à música. Sem dúvida o melhor trabalho do
Musicalbi.
Este CD vai dar origem a
alguma tournée?
Não sei se lhe podemos chamar tournée, o que sei e queremos, é
levar este concerto ao maior número possível de salas de espetáculo
deste país, muito particularmente e a curto prazo nas salas da
região. Já estamos em contactos com várias câmaras municipais e
agentes culturais, para que "Solidão e Xisto" possa ser apresentado
e que as pessoas tenham oportunidade de ouvir e assistir a um
grande concerto. E aqui lanço este repto a todos, que nos ajudem a
divulgar este trabalho. Estamos convictos que é um espetáculo ao
nível do melhor que se faz em Portugal dentro da música Folk, e que
pode fazer parte de qualquer agenda cultural em qualquer parte do
mundo.