Correia de Campos, presidente do Conselho Económico e Social
Na saúde, o lucro é incompatível com a equidade
Ministro da Saúde, secretário de Estado,
deputado, eurodeputado, professor catedrático e atual presidente do
Conselho Económico e Social (CES). Correia de Campos e a longa e
preenchida história de uma vida dedicada ao serviço público.
Nasceu em Torredeita, uma aldeia do distrito de Viseu,
filho e neto de professores do ensino primário. De que forma é que
este contexto influenciou a sua vida e a sua
carreira?
A partir dos quatro anos comecei a caminhar para a escola primária,
que ficava em frente da minha casa. Um dia, o meu pai sentou-me
junto a uns rapazes mais velhos, numa daquelas carteiras grandes,
de três lugares. E a partir de então, fiquei a assistir às aulas da
primeira classe. Nessa altura, os professores do ensino primário
nas aldeias lecionavam as classes todas, da primeira à quarta, o
que agora vai contra os padrões modernos de ensino.
Mas, por outro lado, permitia uma maior aproximação e
relação com os alunos?
Permitia, da mesma forma que possibilitava maior convívio entre os
alunos, visto que estavam todos na mesma sala. Entretanto, comecei
a ler diariamente o jornal que chegava lá a casa, que na altura era
«O Primeiro de Janeiro». Com pouca ajuda, ia juntando as palavras,
e comecei a dar os primeiros passos na leitura. Aos cinco anos,
estava praticamente com a primeira classe feita, mas não podia
matricular-me por motivos burocráticos. Acabei por entrar na
primeira classe, já em Viseu, mas na realidade já estava na segunda
classe. E depois cheguei à quarta classe e fiquei a "patinar",
repeti esse ano, o que não foi propriamente bom. Numa altura em que
o espírito da criança está desejoso de saber coisas novas, passei
um ano letivo a ouvir coisas…antigas. Desestimulou-me a capacidade
de absorção. Já no liceu tive dificuldades na Matemática, por
exemplo. Mas acabei por superar a dificuldade, sem problema.
Foi este interesse prematuro pelo ensino que acabou por
atraí-lo para a carreira docente?
Não tinha pensado ser professor ou assistente universitário. No
limite, cheguei a admitir ser advogado. Mas cedo percebi que não
tinha jeito, apesar de me ter licenciado em Direito. Comecei a
gostar cedo dos temas económicos e admitia ser gestor público ou
administrador. Também foi por acaso que entrei para a direção geral
dos hospitais, em Coimbra, quando tinha acabado de licenciar-me e
não gostava da magistratura e da advocacia. Nessa área surgiram-me
imensas possibilidades porque o serviço de saúde estava a
modernizar-se, o diretor geral era muito moderno, os dirigentes
superiores do ministério também eram de alta qualidade e apareceu a
hipótese de frequentar um curso de administração hospitalar. Fui um
dos seis selecionados pelo diretor geral de então para um curso em
Rennes, em França. Mas logo nessa altura já tinha sido escolhido
para ser assistente dele na escola.
Começava a desenhar-se uma carreira preenchida e de
reconhecido mérito na área da saúde…
A partir de 1970, aquando do meu regresso, passei a ser assistente
na Escola Nacional de Saúde Pública. Acumulei a função de
administração central no ministério, com a docência. A certa altura
pareceu-me essencial fazer um mestrado de saúde pública, em
Baltimore, nos Estados Unidos. Isso foi decisivo para consolidar o
meu interesse pela carreira académica. Regressei a Portugal,
mudando e modernizando a minha forma de ensinar. Em 1979, num
contexto de grande instabilidade, fui convidado para integrar o
governo de Maria de Lourdes Pintassilgo, onde estive três meses e
meio como secretário de Estado da Saúde. Depois dessa experiência
pedi para ir para a Escola Nacional de Saúde Pública a tempo
inteiro e durante três anos concluí o meu doutoramento lá.
Já disse publicamente que se sente reconhecido pelo que o
país investiu em si e chega a confidenciar que não sabe se alguma
vez poderá pagar essa dívida…
Eu ainda estou em funções públicas, por isso, de alguma forma,
ainda estou a pagar. Repare: as pessoas da minha geração tinham
muita apetência em ir estudar para o estrangeiro. Vivíamos num
regime autoritário em que não se tinha acesso (ou tinha-se com
muito atraso) aos filmes e às músicas que circulavam fora das
nossas fronteiras. Por isso, aproveitei as bolsas e os benefícios
que recebi para fazer a minha formação. As múltiplas funções
exercidas em cargos públicos têm sido um tributo de reconhecimento
às condições extraordinárias que me permitiram estudar e ter uma
formação superior especializada de qualidade internacional.
Foi ministro da Saúde, entre 2001 e 2002, e repetiu o
cargo, entre 2005 e 2008, tendo privado de perto com as diversas
corporações do setor, que forçaram a sua demissão na sequência de
umas reformas mal recebidas. Pela sua força, são estes lóbis da
saúde que obstaculizam certas reformas?
A atual ministra, Marta Temido - que foi minha aluna - está a ser
ainda mais atacada do que eu fui. Devo reconhecer que até tive
alguma sorte. Consegui para 2005 um orçamento retificado que
corrigiu um défice de 1,8 mil milhões de euros. Isso permitiu gerir
o ministério durante três anos a dívida controlada. A juntar a
isto, tive a vantagem de conhecer praticamente todas as pessoas do
ministério, porque cerca de 80 por cento dos dirigentes tinham sido
meus alunos. Um ministro que venha pela primeira vez para o
ministério esta sempre às apalpadelas, até por desconhecer a
competência das pessoas. Sabiam que eu era rigoroso, mas justo.
Aliás, permita-me que sublinhe, que mantive nos cargos os
dirigentes que sabia serem competentes, mesmo sabendo que tinham
uma conotação política distinta da do governo. Fiz sempre questão
de manter esse critério. Em suma, tive, por isso, condições
excecionais para o desempenho do cargo, inclusive sem grandes
ataques das corporações, com exceção de uma: a Associação Nacional
de Farmácias (ANF), na altura. Tinha um poder imperial, julgando-se
com capacidade para controlar os governos e condicionar as decisões
políticas. E exerceu um domínio absoluto, não permitindo que o
governo tivesse qualquer espécie de margem de manobra na
comercialização e na distribuição de produtos farmacêuticos na
comunidade.
Que estratégia usou neste
braço de ferro?
Foi necessário desmantelar o triplo monopólio da ANF: profissional,
geográfico e de conteúdos de vendas. Anunciou-se a liberalização da
comercialização de produtos farmacêuticos não prescritos com
receita médica, que há muito tempo se vendiam nos supermercados em
países como a Inglaterra ou os Estados Unidos. Como pode imaginar,
a animosidade foi enorme e começaram os alertas que a saúde pública
estaria em risco. Pura fantasia e propaganda, como o tempo se
encarregou de provar. Já com a Ordem dos Médicos não tenho nada de
especial a assinalar, os problemas registados foram pontuais.
O Orçamento do Estado para 2020 reforça
substancialmente o investimento na saúde. O problema do setor
resolve-se com mais dinheiro ou também é preciso intervir ao nível
das práticas de gestão?
Sempre pensei que o desenvolvimento do setor privado pudesse trazer
inovação e ganhos de eficiência nos processos de gestão hospital.
Aliás, como trouxe. Acontece que o setor privado rege-se pelo
paradigma do lucro e muitas vezes o lucro é incompatível com a
equidade. Para resolver esses problemas, precisamos de entidades
reguladoras fortes. Contudo, não possuímos tradição de entidades
reguladoras fortes e os próprios ministros não gostam destas
entidades porque lhes tiram poder. Eu sempre defendi as PPP, mas
também entendia que ao fim de nove anos de gestão o SNS devia estar
preparado para tomar conta da gestão dessas parcerias. O que
aconteceu é que a crise e os erros cometidos levaram o SNS a um
estado de pobreza catatónica.
Os anos perdidos no SNS são recuperáveis?
Perdeu-se capacidade de modernização, recuperação de equipamentos e
introdução de tecnologias, para além das dificuldades imensas em
substituir muitos médicos e enfermeiros que saíram pelo simples
"fatalismo" da demografia, ou seja, tinham chegado à idade da
reforma. Para além disso, cometeram-se vários erros, um deles foi a
passagem das 40 para as 35 horas semanais. Não contesto a redução
da carga de trabalho, mas devia ter havido uma alternativa que
compensasse quem continuasse a querer trabalhar as 40 horas, com as
consequentes vantagens para os serviços. Para além disso, a gestão
muito apertada, contida e centralizada, fez com que o SNS tivesse,
indiscutivelmente, perdido qualidade, e os próprios funcionários
perderam motivação. Com a agravante de nada ter sido feito - antes
pelo contrário - para colmatar a fantástica atração que o setor
privado exerceu sobre os profissionais. Até a ADSE foi libertada do
pagamento do custo dos medicamentos e dos internamentos
hospitalares, ficando com as mãos livres para satisfazer a cultura
pequeno-burguesa e de classe média que têm muitos funcionários
públicos por acharem que as amenidades num hospital - o conforto
hoteleiro, a melhor comida, música no quarto, televisão com 80
canais, e meninas bonitas e acolhedoras - eram sinónimo de
qualidade. Isso é também qualidade, mas não é o essencial da
qualidade.
A fuga de muitos médicos para o privado não coloca em risco
a transmissão de conhecimento e saber aos novos profissionais no
público?
Deixe-me sublinhar que o setor público mantém dois terços das suas
capacidades em recursos humanos e conserva toda a sua capacidade de
formação. Coisa que o setor privado não tem. Repare que no setor
privado não há hierarquia médica e raramente existe equipa, porque
o trabalho está muito segmentado. Normalmente, no privado as
pessoas são pescadas à linha. Não há um chefe ou um diretor de
serviço. E o diretor clínico não está la para ajudá-los a resolver
os problemas clínicos, mas sim para lhes impor metas
quantitativas.
Que metas são essas?
Não se pode internar mais do que determinada percentagem de
doentes, por cada 100 pacientes tem de se prescrever 20 TAC, cinco
PET e outros exames complementares. Pela simples razão que estes
exames complementares de diagnóstico rendem muitíssimo aos
estabelecimentos privados.
Que papel cabe ao SNS?
O SNS corre o risco de ficar para os pobres e os remediados se não
for modernizado e não forem criadas as condições para reter os
melhores dentro do hospital e voltar a atrair os que saíram. Tenho
falado com muitos profissionais que foram para o privado, atraídos
pelas remunerações e outros benefícios, e que agora veriam com bons
olhos o regresso, caso tivessem melhores condições. Mas o que
acontece é que tanto eles como as suas famílias adquiriram um
padrão de consumo que já não querem abdicar.
A aquisição dos medicamentos para as doenças oncológicas
tem merecido um intenso debate. Confrontado com a pressão
financeira e, ao mesmo tempo, pressionado para prolongar a vida de
um doente por mais algum tempo, como reage um administrador
hospitalar?
Os decisores, sejam eles políticos ou ao nível da administração
hospitalar, têm de seguir o que já se faz no estrangeiro: ampliar
as capacidades de análise de avaliação económica do
custo-efetividade de cada produto. Nem todos os produtos novos são
custo-efetivo. A indústria tem a sua estratégia e quando um produto
que teve um grande sucesso e ao fim de dois terços do seu período
de patente se verifica que na concorrência surgem competidores é
evidente que o que essa empresa faz é apresentar o mesmo princípio
ativo, com uns ajustes, aqui e ali. Isso não muda nada a esperança
de vida. Mas aparentemente, graças ao "marketing", é possível
convencer os compradores de que se trata de um produto milagroso.
Quando não é. Em suma, estamos perante um problema multinacional,
que tem de ser resolvido ao nível das instâncias europeias,
tomando-se medidas para combater a inovação puramente comercial.
Porque isto não é inovação.
Se o envelhecimento é um grande problema, a baixa
natalidade não é uma dor de cabeça menor. O que tem sido feito pelo
poder político?
Este Orçamento do Estado - no seguimento dos anteriores - dá passos
importantes para incentivar a natalidade, nomeadamente em termos
fiscais. Mas a chave do sucesso passa por os casais terem filhos
mais cedo. O que sucede é que os nossos jovens casam cada vez mais
tarde e as mulheres são mães mais tardiamente. Não admira, por
isso, que o incentivo a ter um segundo filho seja cada vez menor. A
recuperação da natalidade associada ao aumento da imigração e de
reuniões familiares seria da maior importância. Um bom indicador
disto, é que os jornais falam já em cerca de 150 mil brasileiros a
residir em Portugal.
E no que aos idosos diz respeito?
Essa é uma área mais complexa. O que se constata é que se fez muito
em termos de cimento armado, mas ainda pouco no âmbito do
alargamento dos cuidados continuados, esforço muito condicionado
pelos anos da "troika".
Afirmou recentemente que mudou a forma como passou a
encarar a importância da Concertação Social para o país. O aumento
do Salário Mínimo Nacional (SMN) para 635 euros tratou-se de um
pequeno passo para tornar Portugal menos
assimétrico?
Foi um passo muito importante, da mesma forma que se afiguram
relevantes os próximos passos no que resta da legislatura. Para
começar, desmontou-se o sofisma que existia que aumentar o salário
mínimo prejudicava o emprego dos mais jovens. Antes pelo contrário.
Quero salientar, enquanto presidente do CES, que tenho tido o
privilégio de assistir a um ambiente muito saudável entre os
intervenientes e que resultou numa atenuação da conflitualidade
laboral. O facto de os partidos mais próximos dos interesses dos
trabalhadores terem participado das decisões governativas foi
acompanhado de um ambiente geral de desanuviamento, clima para o
qual muito contribuiu o Presidente da República. Marcelo Rebelo de
Sousa foi um preventivo de populismos bacocos.
Pensa que conseguiu ser um agregador de consensos e de boas
soluções para o país?
Na anterior legislatura, a minha conduta no CES, foi sempre
acompanhar e dar o máximo valor à concertação e à contratação
coletiva de trabalho, lançando as atividades deste Conselho, tendo
em vista o futuro, seja através da edição de livros ou da
realização de conferências. Olhando para os desafios do futuro,
permitiu alivar a conflitualidade no presente.
Tem referido que estamos a pagar a herança de um défice
histórico de qualificações do nosso pais. Essa lacuna é exclusiva
dos trabalhadores ou é extensível às práticas de
gestão?
A falta de formação e o relativo atraso educacional do país é comum
a todos: a patrões, empregados, assalariados, prestadores de
serviços, académicos, etc. Todos sofremos o mal de meio século de
obscurantismo, más interpretações do controle do poder, também por
50 anos de regime muito autoritário, em que não podemos esquecer
que existiu um ministro da educação que dizia que à maioria dos
portugueses bastava apenas saber ler, escrever e contar. Perante
isto, não foi de estranhar que - por motivos económicos - se
tivessem encerrado (durante 18 anos) as escolas do magistério
primário, que tivessem criado substitutos de professores (os
regentes escolares) apenas com a quarta classe, e as universidades
praticassem propinas elevadíssimas, comparativamente com o que hoje
se passa. Foram fatores que limitaram o acesso ao ensino
superior.
O défice na formação profissional é um obstáculo à melhor
produtividade?
Trabalhamos mais horas do que a média dos restantes países da
Europa, mas as condições da prestação de trabalho não são de molde
a que acompanhemos o desempenho de produtividade de outros países.
Por seu turno, a formação profissional foi muito orientada para as
necessidades ocasionais ou locais. Por exemplo, no século XIX, os
caminhos de ferro tiveram como consequência o aparecimento de
escolas comerciais e industriais, sobretudo estas últimas, com as
oficinas. Foi importante, mas depois veio o reverso da medalha.
Após um coro de críticas sobre a diferença entre o ensino humanista
e o ensino técnico, procedeu-se à sua unificação, o que gerou uma
quase eliminação dos cursos profissionais. Foi necessário criar as
escolas técnico-profissionais, inicialmente não públicas, e que
desenvolveram um trabalho notável de criação de condições de
empregabilidade de pessoas que estariam perdidas no seu curso
liceal ou secundário. Estamos a sair dessa crise. E é natural que
se sintam muitas carências.
As maiores fragilidades registam-se em que
âmbitos?
Temos carências de profissionais em determinadas atividades, como a
metalomecânica e o turismo, por exemplo. Por outro lado, os
sindicatos têm razão quando se queixam que estar a fazer formação
profissional só para empresas que já estão implantadas e porque há
falta de mão de obra, é um planeamento muito limitado. Isto porque
o mundo do trabalho está a mudar muito depressa e essas pessoas
ficam sem saber e sem margem para reconversão. Infelizmente, creio
que não temos um modelo de formação profissional capaz. Há muita
falta de debate sobre a aprendizagem ao longo da vida para termos
uma linha de orientação. Ainda somos muito dependentes de fundos
comunitários e nesta disputa setorial cada ministério quer
candidatar-se ao maior volume de verbas. Eu acredito que temos de
nos habituar a viver sem fundos comunitários, existindo pelos
nossos próprios meios. E é preciso começar por algo muito simples:
ter ideias.
Falta uma ideia comum e unificada que congregue os vários
intervenientes?
Se for falar com o Ministério da Educação dizem-lhe uma coisa, se
for falar com gente do Ministério do Trabalho dizem-lhe outra
coisa, se abordar os patrões e os sindicatos, as perspetivas
diferem. É preciso criar uma estratégia conjunta que seja sufragada
por todas estas forças. Este seria um trabalho enorme para o
próximo CES.
Na era dos robôs e da inteligência artificial, a
inteligência emocional conseguirá fazer com que se mantenha o toque
humano?
A inteligência artificial é apenas criar algoritmos de
racionalidade. Já a inteligência emocional é a capacidade de reação
a situações novas e diferentes. Os robôs dificilmente lá chegarão,
mas não é impossível, tecnologicamente. Mas creio que é preciso
desvanecer os receios que a robotização possa vir a criar
desemprego em massa. Vão ser destruídos postos de trabalho e, em
paralelo, muitos outros serão criados, até para programar e fazer
funcionar os robôs. E não se esqueça que o crescente envelhecimento
da população vai obrigar a um preenchimento de postos de trabalho
nesta área, nomeadamente para cuidados prestados às pessoas em
idade mais avançada.
Foi eurodeputado durante um mandato. A 31 de janeiro
concretiza-se o "Brexit". O projeto europeu nunca mais será o
mesmo?
A Europa ainda é um gigantesco mercado de 500 milhões de
consumidores, um fantástico produtor de ciência e tecnologia, ainda
controla a importantíssima indústria manufatureira - talvez não
saiba, mas os países europeus dominam uma boa percentagem da
indústria manufatureira, ao nível da conceção, do "design" e do
"marketing", embora esta possa estar deslocalizada noutros pontos
geográficos. Este continente tem uma tradição, uma cultura e um
respeito sem paralelo e com um vigor que não existe noutro.
Devemos, por isso, e temos razão para dizer, com orgulho: todos
somos europeus!
Fica desapontado com a saída dos ingleses da
UE?
Confesso que tenho sentimentos mistos. Habituei-me, ao longo dos
anos, que os ingleses abusassem da UE, conscientemente e com a
complacência das instâncias europeias. Os ingleses tinham sempre os
técnicos ou os tecnocratas mais bem preparados nas reuniões, nas
negociações e nos debates, tudo fazendo para abichar uma parte
significativa dos fundos existentes. Eram negociadores implacáveis
e a sua única atração na Europa era simplesmente o mercado.
Estavam-se nas tintas para a Europa solidária e da coesão. É uma
questão de cultura que é preciso compreender: eles são comerciantes
desde há séculos. Nos últimos meses o problema principal foi a
indecisão dos ingleses. Há muito que as coisas estavam preparadas
para a sua saída. A vitória eleitoral de Boris Johnson, em
dezembro, resolveu o embaraço monumental em que nos
encontrávamos.
CARA DA
NOTÍCIA
Duas vezes ministro da
Saúde
Dele, disse o atual presidente da
Assembleia da República, Ferro Rodrigues, «ser um servidor público
como há poucos.» António Correia de Campos nasceu em Torredeita, em
Viseu, a 14 de dezembro de 1942, no seio de uma família de
professores, o que moldou toda a sua vida profissional.
Funcionário, académico, gestor e político, foi dirigente do
Ministério da Saúde e seguiu a carreira docente na Escola Nacional
de Saúde Pública, da Universidade Nova de Lisboa, sendo professor
catedrático reformado. É doutorado em Saúde Pública pela
Universidade Nova de Lisboa. Desempenhou funções na Fundação
Luso-Americana para o Desenvolvimento e no Banco Mundial, tendo
presidido ao INA. Foi por duas vezes secretário de Estado e
presidiu à Comissão do Livro Branco da Segurança Social. Foi
ministro da Saúde do segundo governo de António Guterres e do
primeiro de José Sócrates. Foi deputado à Assembleia da República e
ao Parlamento Europeu. Escreveu centenas de artigos e diversos
livros sobre política, administração e economia da Saúde e da
Segurança Social. Foi eleito presidente do CES em outubro de 2016.
É desde o mesmo ano, presidente do Conselho de Curadores da
Universidade de Aveiro.
Nuno Dias da Silva
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