Exigência e qualidade
O novo governo português voltou a
juntar num mesmo ministério a Educação o Ensino Superior e a
Ciência. Nuno Crato, defensor da exigência e da qualidade, foi o
responsável escolhido para assumir o cargo de ministro da Educação
e da Ciência. Habituado a exigentes desafios, Nuno Crato terá pela
frente aquele que, porventura, será o mais difícil de
concretizar.
Desde logo, o novo ministro terá
que diminuir, a curto prazo, os gastos do sector educativo, em
cerca de 190 milhões de euros, para cumprir os compromissos feitos
com a chamada Troika (União Europeia, Fundo Monetário Internacional
e Banco Central Europeu). Terá ainda que rever os currículos do
ensino básico, sobretudo ao nível do 3º ciclo, onde existe uma
grande dispersão. Terá ainda que reforçar a aposta no ensino do
português e da matemática, mas também das ciências.
Nuno Crato deverá também intervir
na avaliação dos professores e, porque não dizê-lo, dos alunos. A
exigência e a qualidade são vectores fundamentais da escola
pública, aos quais se juntam a democratização de acesso ao saber.
Uma democratização que deve ser generalizada do pré-escolar ao 12º
ano e ao próprio ensino superior.
Portugal possui hoje uma rede de
ensino modernizada. Nos últimos anos investiram-se milhões de euros
em novas escolas e centros escolares, garantiram-se condições
únicas de acesso ao saber. Implementaram-se novas tecnologias. Em
muitas das nossas escolas os quadros de ardósia deram lugar a
rectângulos interactivos.
No ensino superior, Portugal
continua com o sistema binário, em que coexistem Universidades e
Politécnicos. Um sistema, que deveria ser mais diferenciado, mas
que permitiu e permite o acesso à formação superior de milhares de
jovens, que noutros tempos só o podiam fazer nos grandes centros
urbanos. E esta foi uma das maiores revoluções educativas que se
registaram em Portugal no pós-25 de Abril. Nuno Crato sabe a
importância que as instituições de ensino superior têm no nosso
país. Espera-se que também entenda a sua importância para a coesão
nacional.
Fechar instituições de ensino
público, sobretudo no interior do país, não é solução para os
problemas do país. Racionalizar os cursos de formação inicial, de
uma forma justa, promovendo a coesão nacional que o país tanto
precisa, é um caminho que deve ser seguido. O mesmo se passa com a
promoção de parcerias entre instituições ou com o fomento da
investigação através da criação de centros multi-institucionais de
forma a ganharem dimensão científica internacional. A
internacionalização das instituições é outro vector importante que
o Ministério não deve descurar. Há ainda o factor qualidade.
Qualidade dos cursos, das instituições, dos docentes e do ensino. E
aí só pode haver um caminho o da exigência.
É claro que Nuno Crato sabe tudo isto, como saberá encontrar
formas de lidar com os sindicatos de professores. Uma tarefa que
não será, de todo, fácil, mas que não é nenhuma missão impossível,
sobretudo para um governo que tem a maioria parlamentar...