Primeira Coluna
Aberração ou não eis a questão…
Só na primeira semana de julho, o
Conselho Nacional de Educação (CNE) discordou de duas medidas
adotadas pelo Ministério da Educação. Uma dessas discordâncias diz
respeito ao acesso ao ensino superior. A outra refere-se à
possibilidade dos alunos do 1º
ciclo puderem vir a estar menos tempo nas escolas
públicas.
Sobre o primeiro assunto, o CNE
explica que manter iguais as regras de acesso ao ensino superior
para alunos do ensino geral e do profissional evidencia a
menorização da via profissional e estrangula o acesso a
universidades e politécnicos.
Em causa está o facto do Ministério
da Educação exigir que os alunos da via profissional façam os
mesmos exames que os alunos do ensino secundário geral. No entender
do CNE "estes alunos são obrigados a realizar os mesmos exames
nacionais que os do ensino secundário geral (cursos
científico-humanísticos), em disciplinas para as quais não foram
preparados, pois o seu curso tem um currículo próprio que vale por
si".
O Conselho Nacional de Educação vai
mais longe e diz que manter as regras iguais "uma aberração do
sistema de avaliação externa dos alunos". No entender do CNE,
citado pela Lusa, a alteração do decreto-lei devia ser encarada
pelo Ministério da Educação e Ciência (MEC) como "uma oportunidade"
para "corrigir a situação", sublinhando que manter as mesmas
condições de acesso para tipos de ensino diferentes "evidencia a
menorização a que se condena legalmente o ensino profissional".
Sobre a segunda matéria (a
possibilidade dos alunos do 1º
ciclo puderem vir a estar menos tempo nas escolas públicas) o
Conselho Nacional de Educação diz que o legislador está "mais
centrado numa lógica de redução dos recursos do que na melhoria do
sistema", acrescentando que a redução horária nas Atividades de
Enriquecimento Curricular (AEC's) e a possibilidade de o mesmo
acontecer na componente curricular "terá consequências no âmbito e
qualidade da formação oferecida pela escola pública e agrava os
problemas de acompanhamento das crianças por parte das famílias,
designadamente das famílias economica e socialmente mais
desfavorecidas". A este propósito o Ministério já respondeu
sublinhando que a redução de uma hora diária na carga letiva dos
alunos do 1º ciclo se prende com
os regulares intervalos nas escolas.
Por falar em AEC's, Ministério da
Educação e Associação Nacional de Municípios não se entenderam no
que respeita ao funcionamento dessas atividades. Ao contrário do
que sucedeu no passado, as autarquias vão deixar de ter a
responsabilidade de assegurar as AEC's nos moldes que o Ministério
lhes propôs, por não concordarem com a proposta do Governo.
Os pontos de discórdia têm, no
entanto um denominador comum: a poupança. Aquilo que se exige é que
uma possível redução de recursos não coloque em causa a escola
pública, nem condicione a entrada no ensino superior de milhares de
jovens. Espera-se, por isso, que o bom senso se sobreponha à
aberração (leia-se singularidade) de políticas que não defendam o
país…